Mesmo com o dobro de votantes em relação ao ano anterior, a presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento da Região Sul (Corede Sul), Selma Vilela, afirma que a Consulta Popular 2025 foi atípica. Ela alega que mesmo marcada por aumento de votos, houve falhas, falta de diálogo e desigualdade entre os municípios participantes.
Durante o período de votação, um Corede relatou que não tinha recebido os pins para fazer a votação, e foi decidido então que seria prorrogado para o sábado e domingo. A medida gerou divergências, alguns Coredes aceitaram a prorrogação, enquanto outros não gostaram da alteração de última hora. Segundo a presidente, até então, a situação estava tranquila, mas quando os resultados foram apresentados na segunda-feira, alguns municípios haviam perdido mais de 60% dos votos.
Segundo Selma, a região sul teve quase 12 mil votos neste ano – mais que o dobro da edição do ano passado, que teve por volta de 5,8 mil votos. Porém, parte dos resultados também foram colocados em dúvida, após serem identificadas inconsistências na apuração. “O documento que recebemos diz que 620 pessoas não marcaram o voto. Isso é impossível, para terminar o voto, e que cinco pessoas mudaram o voto”, relatou. A presidente também mencionou que os dados oficiais só foram enviados ao Corede Sul após a homologação pelo governo do Estado, o que gerou desconforto.
O recurso apresentado pela região foi analisado pela Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul (Procergs), pela Secretaria de Planejamento e pelo Fórum dos Coredes, mas, segundo Selma, as justificativas não esclareceram todas as dúvidas. “Há muitos presidentes de Coredes no Estado se sentindo da mesma forma. Estamos chateados, porque fazemos todo o processo, mobilizamos as pessoas, mas não recebemos as informações de forma transparente”, destacou.
Desigualdades entre os municípios e revisão do regimento
Entre as principais críticas da presidente, está o regimento interno da Consulta Popular, que, segundo ela, acaba desfavorecendo os municípios maiores. Selma explica que, enquanto cidades pequenas, como Pedras Altas, com cerca de dois mil habitantes, participam com apenas 40 votos, municípios maiores precisam atingir metas muito mais altas. Pelotas, por exemplo, precisa alcançar cerca de seis mil votos, enquanto Rio Grande, São Lourenço do Sul e Canguçu necessitam de aproximadamente mil votos cada para se classificar.
Além disso, Selma também questionou o modelo de distribuição dos recursos, considerado baixo diante das necessidades locais. Foram destinados R$ 60 milhões, mas o valor previsto por lei seria de 0,2% do orçamento estadual, o que representaria cerca de R$ 150 milhões. “A região Sul tem 22 municípios e mais de 660 mil eleitores, mas recebe o mesmo valor de regiões menores, que tem 70 mil eleitores. É preciso rever essa distribuição e fortalecer o orçamento”, pontuou a presidente.
Municípios que foram contemplados
Dos 22 municípios que integram o Corede Sul, 15 participaram da votação e 11 foram contemplados com projetos, sendo quatro deles em duas iniciativas cada.
- Arroio do Padre: manejo e conservação do solo
- Canguçu e Cerrito: combate à fome por meio da agricultura familiar
- Herval: correção do solo
- Morro Redondo: turismo e doação de alimentos
- Pedro Osório: combate à fome por meio da agricultura familiar
- Santa Vitória do Palmar: turismo
- São José do Norte, São Lourenço do Sul e Tavares: manejo de solos e qualificação turística
- Turuçu: combate à fome por meio da agricultura familiar
O governo deve repassar as orientações aos municípios contemplados nos dias 10 e 11 de novembro, com instruções sobre documentação e próximos passos.
