Em uma sessão longa, marcada por suspensões e discussões acaloradas, a Câmara de Vereadores de Pelotas aprovou o projeto que cria o cargo de Auxiliar de Inclusão nas escolas municipais. A proposta recebeu 16 votos favoráveis e nenhum contrário, e agora segue para a sanção da prefeitura.
A criação do cargo atende a uma demanda crescente por profissionais que garantam o acompanhamento de alunos com deficiência ou necessidades especiais. Uma pauta que vem ganhando força junto à comunidade escolar e às famílias. Apesar do consenso sobre a importância do serviço, o embate entre os vereadores se concentrou na forma de contratação: parte defendia a imediata implementação por meio de contratos emergenciais, enquanto outros sustentavam que o chamamento deveria ser feito a partir de concursos públicos já realizados.
Uma emenda foi apresentada para tentar pacificar o impasse e acabou aprovada, embora tenha recebido cinco votos contrários.
Um dos opositores foi o vereador Ivan Duarte (PT), que alertou para o risco de veto por parte do Executivo, argumentando que a emenda interfere em prerrogativa exclusiva da prefeitura, a de definir se o provimento de cargos será feito por concurso ou contratação emergencial.
O episódio mostra que o debate é legítimo, afinal, trata-se de garantir que o processo seja sustentável. Mas também evidencia que o tempo da política continua mais lento que o tempo da escola. Enquanto a Câmara discute formatos e prerrogativas por horas, há salas de aula que simplesmente não têm quem auxilie crianças que precisam de apoio agora.
A indiferença imuniza?
Em entrevista à Pelotense, a diretora de Vigilância em Saúde, Vera Neto, reconheceu que as ações pela vacinação em Pelotas ainda não surtiram o efeito esperado.
Os números seguem abaixo do ideal, mesmo com campanhas, dias D e mobilizações pontuais. A constatação é brutal: a população age por medo de morrer.
Durante a pandemia, havia UTI lotada, manchete diária e medo. Agora, sem o caos à vista, reina a indiferença. E é justamente aí que o risco cresce. Quando o perigo desaparece do noticiário, desaparece também a consciência coletiva.
Não se trata apenas de “falta de informação”, mas de falta de percepção de risco. As pessoas não sentem urgência porque não percebem ameaça. O resultado é o que estamos vendo: coberturas vacinais capengas e uma sensação enganosa de segurança. Por isso, urge uma estratégia de comunicação de guerrilha.
No marketing, esse termo define ações agressivas. Não no sentido de violência, mas de impacto. As campanhas precisam falar de consequência, não de gentileza. Menos “vacine-se por amor”, mais “sem vacina, o sarampo volta”.
Se o risco não é sentido, ele precisa ser reconstruído na comunicação. É hora de ser mais incisivo, com uma comunicação que fale a língua do povo. E as lideranças locais precisam se expor. Quem manda emenda e pede voto também tem que pedir dose.
Dama de ferro
O Japão tem uma mulher no poder. Sanae Takaichi, a nova primeira-ministra, ganhou o apelido de “dama de ferro” por inspiração em Margaret Thatcher. Dura no discurso, disciplinada nos gestos, conservadora nas ideias. Sua vitória é, sem dúvida, um marco histórico em um país que por tanto tempo tratou a política como um clube de homens. Mas é também o retrato de um sistema que aceita mulheres no topo desde que elas não ameacem a velha ordem. Takaichi fala em pátria, disciplina e austeridade. Defende mais armas e menos imigração, mais tradição e menos diversidade. É uma liderança que traz o rosto da mudança, mas o coração da manutenção. A primeira-ministra japonesa é uma mulher que chegou lá mas parece não querer abrir a porta para as que vêm atrás. Igualdade de verdade não nasce de um rosto novo no poder, mas de uma ideia nova de poder.
Preservar e amparar
A proibição da pesca artesanal de bagres é uma medida ambientalmente correta. Necessária para evitar o colapso de espécies que simbolizam o estuário gaúcho. O compromisso com a biodiversidade não pode ser adiado, e o Estado precisa agir com firmeza diante do esgotamento dos recursos naturais. Mas a preservação, por si só, não basta. A mesma mão que protege o peixe deve amparar o pescador. É dever do poder público garantir políticas de transição justa, com apoio financeiro, requalificação e alternativas produtivas, para que quem vive do rio não seja lançado à margem em nome da sustentabilidade.