A manhã deste domingo (19) foi de silêncio, lágrimas e reencontro à beira do arroio Pelotas. O projeto Remar para o Futuro promoveu a Remada da Saudade, cerimônia que marcou um ano da tragédia que tirou a vida do treinador Oguener Tissot, do motorista Ricardo Leal da Silva e de sete jovens atletas, em um acidente na BR-290, no retorno de uma competição em São Paulo.
Famílias, amigos e atletas se reuniram na sede do Centro Português 1º de Dezembro, onde o projeto nasceu e cresceu. O vento calmo e a água parada pareciam participar do silêncio coletivo que tomou conta da manhã.
O coordenador do projeto, Fabrício Boscolo, abriu a homenagem agradecendo a presença de todos e lembrando a dor que marcou o último ano:
“Há um ano, eu tive o pior dia da minha vida. E este ano foi o mais desafiador da minha vida. A gente só consegue continuar o Remar pois é um projeto coletivo. Se fosse individual, não teria força para continuar. Muito mais importante que ter medalha no peito é ter perspectiva de vida”.
Em seguida, a mãe de Oguener, Sílvia, falou em nome das famílias. Suas palavras foram recebidas em silêncio:
“Difícil de entender e aceitar. Mas estarão conosco, em nossos corações, ao infinito e além”.
Logo depois, Brenda Madruga, ex-atleta que havia retornado de São Paulo antes do acidente e que era namorada de Henry, um dos jovens mortos, emocionou o público:
“O remo me mostrou o verdadeiro significado de amar. É muito além de um projeto que forma atletas. Forma caráter e prepara para a vida”.
O presidente do Centro Português, Eduardo Carrera, também se pronunciou, ao lado de Maria Regina, que presidiu a entidade até o ano passado:
“Como o nosso lema diz: nós seguimos honrando o legado que continuam a levar o Remar para o cenário nacional”.
No momento mais forte do cerimonial, o pai de Henry Fontoura, Max, dividiu o que vem tentando construir a partir da dor.
“Aprendi que da tristeza eu preciso fazer algo melhor. Deixar minha tristeza chegar para conseguir me recuperar. No minuto de silêncio, eu enxerguei todos eles batendo remo. Meu filho virou um anjo particular. Mas essa desgraça me mostrou que posso abrir a porta da força e da eternidade”.
Enquanto falava, muitos choravam. Professores, voluntários e ex-remadores se abraçavam, tentando conter a emoção.
O gesto que fala por todos
No fim das falas, os atuais atletas realizaram uma remada simbólica sobre o arroio Pelotas. A “Remada da Saudade” foi acompanhada em silêncio por todos os presentes. Nove barcos avançaram em linha, representando as nove vidas perdidas.
As flores foram lançadas nas águas do arroio, num gesto de entrega e lembrança. Logo depois, balões brancos subiram ao céu, um símbolo de paz e de futuro.
A cena, simples e bonita, encerrou a cerimônia em meio olhares voltados ao horizonte.
Um ano de reconstrução
O Remar para o Futuro completou dez anos em meio ao desafio de se reconstruir. Após o acidente, o antigo convênio com a prefeitura foi encerrado, e uma nova entidade, a Associação Remar para o Futuro Oguener Tissot, assumiu a coordenação do projeto.
Com apoio da UFPel, de empresas locais e de programas como o Pró-Esporte RS, o grupo retomou as atividades. O governo federal destinou R$ 754 mil para equipamentos e estrutura.
Desde 2015, o projeto já atendeu mais de mil jovens. Muitos seguiram carreira esportiva; outros encontraram no remo uma forma de vida e de disciplina.