O Sul ficou no acostamento

Opinião

Pedro Petrucci

Pedro Petrucci

Jornalista

O Sul ficou no acostamento

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A reunião mais aguardada da missão da Azonasul em Brasília terminou em frustração. Depois de atravessar ministérios, gabinetes e audiências em busca de clareza sobre o futuro do Polo Rodoviário Pelotas, os prefeitos saíram com a sensação incômoda de terem ouvido promessas, mas não compromissos.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) confirmou o que era previsto: assumirá a manutenção das rodovias após o fim do contrato com a Ecovias, em março de 2026, mas não explicou como e em que condições isso ocorrerá. Faltaram cronograma, valores e garantias. O mesmo vale para os serviços acessórios: o guincho deve constar no novo contrato, mas o atendimento com ambulâncias, demanda unânime entre os prefeitos, ficou no limbo.

O discurso técnico do Dnit, de que é preciso respeitar etapas de estudos, audiências públicas e nova licitação até o fim de 2026, contrasta com a urgência de quem vive às margens da BR-116 e da BR-392. Enquanto o governo fala em prazos, as cidades enfrentam buracos, acidentes e o risco de um apagão logístico pós-Ecovias.

Essa distância entre a lentidão da burocracia federal e a pressa da vida real é o retrato da relação desigual entre o interior e Brasília. A audiência com o DNIT era, simbolicamente, o ponto alto da jornada da Azonasul. Representava a chance de consolidar uma voz regional diante do governo federal. E é justamente por isso que o tom morno do encontro teve tanto peso. A missão, que começou com expectativa de resultados concretos para a infraestrutura, terminou com mais um pedido: R$ 74 milhões para o novo Hospital Escola da UFPel. Se acontecer, será um avanço muito importante. Já nas estradas, o saldo foi de indefinição.

Aceno de Paim à Zona Sul

Durante a missão dos prefeitos, uma conquista foi obtida. O senador Paulo Paim (PT) anunciou a destinação de R$ 400 mil para cada um dos 23 municípios da metade Sul, totalizando R$ 9,2 milhões em emendas parlamentares. O recurso será aplicado na aquisição de máquinas pesadas, uma demanda antiga das administrações municipais que enfrentam carência crônica de equipamentos para manutenção de estradas e apoio à produção rural.

O valor, porém, tem significados muito distintos dependendo de onde chega. Em Pelotas, cidade de cerca de 330 mil habitantes e orçamento anual superior a R$ 2,1 bilhões, o repasse representa 0,019% da receita municipal. O montante é suficiente, na prática, para a compra de uma única retroescavadeira, equipamento cujo preço médio hoje gira em torno de R$ 400 mil.

Em um município que administra muitos quilômetros de estradas vicinais, o impacto é pontual: uma máquina a mais em uma estrutura já complexa e distribuída. Já em Arroio do Padre, com 2,9 mil habitantes e orçamento de cerca de R$ 25 milhões, o mesmo valor tem peso proporcional muito maior. Ainda que o custo do equipamento seja idêntico, o efeito prático é outro: para uma prefeitura com frota reduzida, uma nova retroescavadeira pode dobrar a capacidade de atendimento da Secretaria de Obras e reduzir a dependência de consórcios regionais ou empréstimos de maquinário.

A diferença, portanto, não está no que se compra, mas no quanto esse investimento altera a rotina de cada gestão. Essa comparação evidencia o desafio de pensar políticas regionais com critérios de proporcionalidade. O gesto de Paim atende a uma necessidade real e imediata, mas também revela o quanto a metade sul ainda opera sob a lógica de repasses.

Isenção e impacto

A Famurs lançou uma provocação importante no debate fiscal. Segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios, os municípios gaúchos podem perder até R$ 757 milhões em 2026 com a ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. O cálculo considera a queda no repasse do Fundo de Participação dos Municípios e a redução da arrecadação própria sobre salários do funcionalismo. A presidente da entidade, Adriane Perin de Oliveira, defendeu que o Congresso estabeleça mecanismos de compensação para evitar novos desequilíbrios no pacto federativo. O tema, porém, exige apuração mais ampla: é uma estimativa da Famurs baseada em dados da CNM, e ainda precisa ser confrontada com números da Receita Federal, do Tesouro Nacional e das próprias prefeituras. Mesmo assim, o alerta é pertinente. A discussão sobre quem paga a conta da renúncia fiscal e como equilibrar as finanças municipais diante de novas políticas de isenção deve entrar no radar.

Recursos importantes

Os avanços de Pelotas no PAC são fundamentais para que a cidade evolua em infraestrutura. A pré-garantia de recursos em algumas frentes, e garantia em outras, já dá um aceno para a população e para potenciais investidores de que poderemos ter uma cara nova em um futuro breve.
No entanto, é fundamental também ficarmos atentos às questões fiscais do governo federal e manter olhar vigilante para que os valores prometidos cheguem, de fato, aqui no município.

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