A alimentação e nutrição são requisitos básicos para a promoção da saúde. No dia em que é comemorado o Dia Mundial da Alimentação, é reforçada a reflexão do quanto os hábitos alimentares que priorizam a rapidez e comodidade impactam na qualidade dos produtos que estão sendo consumidos e, consequentemente, na qualidade de vida da população.
Na última semana, o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), por meio da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), divulgou que o Brasil reduziu o número de pessoas sem acesso adequado à alimentação e igualou o recorde histórico registrado em 2013. Com isso, a proporção de domicílios em insegurança alimentar grave caiu de 4,1% para 3,2% entre 2023 e 2024. Isso significa que dois milhões de pessoas saíram da condição de fome no intervalo de um ano.
Outro fator a ser considerado neste Dia da Alimentação é a queda no consumo de alimentos naturais e considerados básicos, como arroz e feijão, e a preferência por serviços de delivery e fast-food.
O que é insegurança alimentar?
O sentimento de fome não está restrito à ausência de comida, mas também está atrelado à dignidade humana. A fome gera impactos na saúde, na educação, no desenvolvimento social e até na habilidade de indivíduos e grupos de exercerem seus direitos.
A Ebia também aponta que o percentual de domicílios em condição de segurança alimentar subiu de 72,4% em 2023 para 75,8% em 2024. Na prática, isso significa que 8,8 milhões de pessoas, em um ano, passaram para esse patamar, em que a alimentação passa a ser uma garantia cotidiana.
A professora e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Epidemiologia da UFPel, nutricionista Janaína Motta, estuda a insegurança alimentar desde 2007 e reforça que o fenômeno não é sinônimo de passar fome. “O medo de faltar comida já é uma forma de insegurança alimentar, e essa é uma realidade que afeta milhões de brasileiros”, diz.
Consumo
O consumo de arroz sofreu queda de mais de 10 quilos por pessoa ao ano desde 1980. A substituição de alimentos in natura e minimamente processados por alimentos processados e/ou ultraprocessados, está ligada à insegurança alimentar. São produtos mais baratos, de maior duração, prontos para o consumo, e, como explica a nutricionista, têm baixo valor nutricional e, por isso, estão associados a aumento do risco de obesidade, hipertensão, diabetes e outras doenças crônicas.
Janaína também afirma que essa substituição não ocorre por falta de informação ou preferência alimentar, como muitas vezes se supõe, mas por desigualdades sociais: renda insuficiente, dificuldade de acesso a alimentos saudáveis, falta de tempo e condições para cozinhar, transporte precário e preços mais altos dos alimentos in natura.
Pelotas
A primeira pesquisa sobre insegurança alimentar no município foi realizada em 2007, resultando no primeiro artigo científico brasileiro a avaliar o estado nutricional de pessoas vivendo em insegurança alimentar. Naquele ano, a prevalência de insegurança alimentar foi de 11%, sendo que 2,9% viviam em insegurança alimentar com fome.
Em 2022, durante o acompanhamento dos 40 anos da Coorte de Nascimentos de 1982 de Pelotas, a prevalência de insegurança alimentar entre os participantes da coorte foi de 39,4%, com 2,7% em situação de fome. “Também observamos um aumento expressivo da obesidade entre adultos vivendo em insegurança alimentar: em 2007, 22% foram classificados com obesidade, enquanto em 2022 essa proporção chegou a 38%”, complementa a pesquisadora da Epidemiologia da UFPel.
Cozinhas comunitárias
O governo do Rio Grande do Sul divulgou nesta semana a primeira lista de municípios contemplados com verbas para implantação das chamadas cozinhas comunitárias. Será prestado apoio ao custeio de refeições, para atendimento à população em situação de vulnerabilidade social em cidades afetadas pela enchente de 2024.
Foram selecionadas 52 das 497 cidades gaúchas: destas, 35 na modalidade de implantação de cozinha comunitária sem refeitório e as outras 17 para a modalidade que conta com esse tipo de espaço em suas instalações.
Contempladas na Zona Sul:
Refeições em viandas retornáveis
- Herval
- Jaguarão
- São José do Norte
- São Lourenço do Sul
Refeições em refeitório com buffet
- Arroio Grande
- Canguçu
- Pedro Osório
- Santa Vitória do Palmar