Entre julgamentos, demonstrações e concursos, a ovinocultura ocupa papel de destaque nas expofeiras da região, principalmente entre as crianças. Em Santa Vitória do Palmar e Canguçu que realizam as 94ª e 56ª Expofeiras, uma das principais atrações é a OvinoKids. Na Expofeira de Pelotas, a atenção do público às provas demonstra o grande interesse pelo setor que vem em uma crescente, conforme a zootecnista, presidente da Casa da Ovelha e diretora técnica da Associação Rural de Pelotas, Gilliany Nessy Mota. Quem passou pela Associação Rural viu de perto como é o trabalho dos criadores, o manejo das raças e a importância econômica e cultural do setor. À frente da Casa da Ovelha e da Fazendinha, Gilliany, que acompanhou as competições, conversou sobre os bastidores das provas, a valorização da lã gaúcha e o cuidado que envolve cada etapa da produção.

(Foto: Edu Rickes)
O que é avaliado nas competições de ovinos?
No julgamento da raça Corriedale, tem uma característica muito forte a produção de lã. Nessas raças, o principal foco é a qualidade da lã, o comprimento, a ondulação e a textura, que futuramente serão aproveitados pela indústria têxtil. A gente tenta mostrar para o público da cidade como esse processo é importante e de onde vem a matéria-prima das roupas que usamos.
Há um trabalho técnico envolvido na avaliação?
Sim, temos uma parceria com a Faculdade de Zootecnia da UFPel, através do Laboratório Lanatec, que coleta amostras de lã e realiza dois tipos de análise: a micronagem, que mede a finura da fibra, e o rendimento ao lavado, que mostra quanto da lã suja se aproveita após a limpeza. É um processo científico que complementa o olhar técnico do julgamento.
E o período de tosquia (ou esquila)? Quando começa e o que é feito com essa lã?
A tosquia da raça Corriedale começa agora, com a chegada do verão. Existem dois tipos de classificação, meia lã e lã inteira. A raça tem um programa de certificação da lã, o que agrega valor ao produto. Todo o processo é controlado: o ambiente de esquila, o tipo de tesoura usada, o caminhão que transporta a lã e até o esquilador, que é credenciado. A ideia é garantir pureza e qualidade, sem contaminações.
Essas demonstrações também têm um lado educativo, certo?
Com certeza. A gente mostra que o processo de esquila é feito com bem-estar animal, sem amarras, com ovelhas calmas e cuidadas. O esquilador trabalha em posições específicas para garantir conforto. Os criadores têm uma relação de confiança e carinho com os animais — é um trabalho de dedicação diária. Eles pensam em tudo: alimentação, sombra, ventilação, conforto. O principal é sempre o cuidado e respeito com os ovinos.
O setor de lã ainda enfrenta desafios ou já está consolidado novamente?
Nos anos 1990, a ovinocultura de lã sofreu muito com a entrada dos sintéticos, mas estamos vendo um movimento de retomada e valorização. Eu sou muito positiva, acredito que cada vez mais produtores voltem a investir na lã, na carne e no leite.
Os produtores que participam das provas são da região?
Sim. Temos expositores de Pelotas, São José do Norte, Santa Vitória do Palmar, Pedras Altas e outros municípios da região Sul. Este ano, participaram da 99ª Expofeira, 12 expositores com seis raças: Corriedale, Texel, Texel naturalmente colorido, Hampshire Down, Suffolk e Dorper.