Há alguns anos a jornalista Lúcia Bandeira Karam recebeu da mãe dela um diário de seu avô, o maestro José Duprat Pinto Bandeira. O manuscrito guardava programas de concertos, jornais recortados, livros, documentos ligados a conservatórios e sociedades culturais, além de partituras de composições trabalhadas por ele. O material, que resgata turnês do músico pela América do Sul, foi o início do livro 2 Batutas de Pelotas (Editora Coralina, 2025), que a autora lança nesta quinta-feira (16), no Museu do Doce da UFPel. No local, a escritora, o professor Jonas Klug e o músico Sérgio Karam fazem um bate-papo, a partir das 18h, no endereço da praça Coronel Pedro Osório, 8.
A obra de Lúcia resgata a história de João Pinto Bandeira e José Pinto Bandeira, respectivamente, bisavô e avô da autora. Os pelotenses foram compositores de música erudita, popular e sacra de Pelotas, os dois mestres de capela da Catedral Metropolitana de Pelotas. A saga familiar na música pelotense começou no século 19 e seguiu até meados da década de 1960 do século 20.
Multi-instrumentistas, ambos voltaram suas ações a orquestras, filarmônicas, bandas e corais, um trabalho que ajudou a colocar Pelotas entre as cidades mais relevantes polos da música no Brasil.
O bisavô, João (nascido em 1845), foi mestre de capela da catedral de Pelotas por 60 anos, a partir de 1860. “Ele regia orquestras e coros, criou uma orquestra de ocarinas”, conta Lúcia. Além disso, fundou as bandas Bellini e Santa Cecília e a Sociedade Musical Portuguesa. Foi diretor artístico da Philarmônica Pelotense, e regia o Grupo Coral Giuseppe Verdi, a Estudantina Esperança e a Sociedade Musical União.
Por sua vez, José, morou na Argentina por 12 anos (de 1908 a 1920), onde conheceu sua esposa. Ele retornou a Pelotas em 1920 e faleceu em 1955. Atuou em orquestras de rádio, bailes, cabarés e era orquestrador. Pioneiro, participou da criação da primeira orquestra sinfônica do Estado, a Sociedade Orquestral de Pelotas. Animou as sessões de cinema mudo do Theatro Guarany, regeu orquestras nas rádios Cultura e Pelotense.
Muitos projetos
A verve artística permaneceu na família e os irmãos de Lúcia, também são músicos. Mesmo assim, a pesquisa a surpreendeu pela quantidade de projetos com os quais os dois se envolveram. “Me surpreendi com a capacidade deles de fazerem tantas atividades. O vô dava aula, ia pro baile e ia pra missa no outro dia, por uma questão de sobrevivência, mas também por gostar”, relembra
A importante trajetória dos Pinto Bandeira e sua contribuição à música de Pelotas e do Rio Grande do Sul passaram anos praticamente esquecidas e isso é algo que preocupa a jornalista. “É como se não existisse música antes do Conservatório ou na mesma época ou que não fosse de concerto. Fica cada vez mais importante a memória deles e de outros músicos. Eu falo bastante no Rochinha, na Olga Fossati, no Tagnin, porque eu acho importante, eram pessoas ligadas a ele e que fizeram muita diferença. É uma história familiar, mas acho que é para todo mundo”, comenta a jornalista.
Livro gratuito
Além do livro, o projeto Dois Batutas de Pelotas, criado com recurso do Programa Nacional Aldir Blanc, do Ministério da Cultura, por meio de edital da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac-RS), disponibiliza aos interessados o site www.doisbatutasdepelotas.com.br. A página ainda dá acesso à versão em PDF do livro, que será distribuído gratuitamente em bibliotecas, escolas e centros culturais e amanhã durante a sessão de autógrafos. Terá também um PDF com audiodescrição.