O dia 14 de outubro de 2025 entrou para a história do Grêmio Esportivo Brasil ao marcar o início de uma nova era: foi aprovada a transformação da gestão do clube em Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Trata-se do passo final para a mudança do formato de administração do Rubro-Negro. Em Assembleia Geral na noite de terça-feira, 194 sócios votaram — 193 a favor e apenas um contra. A presidente do Conselho Deliberativo, Laura Quevedo, anunciou o resultado, que foi seguido por comemoração na Baixada e em frente ao estádio.
Antes do dia 14, ocorreram muitos passos até a concretização do sonho. A lei que regulamenta a SAF no Brasil é de 2021. Pouco tempo depois, dentro do Conselho Deliberativo xavante foram criados alguns grupos de trabalhos com objetivo de conselheiros e torcedores que quisessem adquirir conhecimento em algum assunto. Um dos tópicos era entender melhor a SAF no futebol brasileiro.
Durante a assembleia de terça-feira, o conselheiro e membro do grupo de trabalho sobre a SAF, Juliano Barbosa, relembrou o início do projeto no Bento Freitas. Ele destacou a importância dos grupos de trabalho e dos sócios, que mesmo em grupos voltados a outras pautas — começaram a analisar números e a levantar questionamentos sobre quanto o clube arrecadava, quanto rendia um dia de jogo, quanto custava a realização de um jogo, o que é uma SAF, terrenos na cidade que poderiam abrigar um centro de treinamentos, entre outros pontos. Também foi observado que a dívida do clube continuava crescendo, tornando inviável a manutenção da gestão no formato associativo diante do cenário apresentado.
“Esses grupos de trabalho, não só o da SAF, foram os que fizeram com que o pessoal começasse a fazer uma análise mais crítica do clube como um todo. E a SAF, de certa forma, trata de todos esses assuntos porque é um processo estruturante. É uma nova empresa, um novo clube”, disse Juliano.
Buscando meios de ajudar o clube a encontrar uma forma de se tornar sustentável, com o tema SAF ganhando maior importância, o grupo procurou especialistas para melhor entender uma legislação ainda recente no país.
“A gente começou a estudar. Depois percebemos que precisávamos de ajuda em termos de consultoria, porque um clube associativo acaba conseguindo tocar o futebol, mas tem dificuldades em outras áreas: pesquisa sobre SAF, prospecção de patrocínios, é difícil para uma estrutura muito pequena. Então começamos a prospectar consultorias e empresas que pudessem nos ajudar nesse momento”, afirmou.
A prospecção deu resultado. Outro conselheiro e também membro do grupo de trabalho sobre a SAF, Leandro Sinott, chegou ao nome de Fernando Ferreira, da Pluri Sports, através de um curso do ex-presidente do Inter, Fernando Carvalho. O acerto com a Pluri é considerado por Juliano como o momento que “deslanchou”.
“A gente começou a contar com a ajuda da Pluri para os contatos, tanto na questão jurídica de montar a SAF quanto na prospecção de mercado e de investidores. Demorou todo esse estudo, mas no momento em que chegamos com a Pluri, o interesse pelo clube já era grande. Não teve muita dificuldade para prospectar interessados. Claro que há muita diferença entre ter interesse e realmente querer investir. Mas a Pluri teve sucesso.”
No dia 6 de novembro do ano passado, o então presidente Gonzalo Russomano apresentou Fernando Ferreira, da Pluri Sports, em entrevista coletiva no Bento Freitas. Nos meses seguintes houve a busca por investidores. O grupo chamado Consórcio Xavante, formado pelo ex-jogador pelotense Emerson da Rosa e pelas empresas Greenfield Partners e VEX Capital, apresentou a proposta. Após a necessidade de cumprir alguns requisitos, como a aprovação da Recuperação Judicial (RJ), restava a aprovação dos conselheiros, que ocorreu de forma unânime, e dos sócios (193 a favor contra apenas um contra).
Próximos passos
O processo de transição da administração deve ser iniciado nas próximas semanas. Será criada a empresa Grêmio Esportivo Brasil SAF. O grupo de investidores formado pelo ex-jogador Emerson da Rosa e pelas empresas Greenfield Partners e VEX Capital assumirá 90% das ações. A associação, que permanecerá existindo, ficará com os 10% restantes.
Um dos primeiros procedimentos a ser realizado pelos representantes jurídicos dos investidores é a due diligence — uma checagem aprofundada da situação do clube. Como a atual direção do Brasil já realizou esse trabalho ao solicitar a Recuperação Judicial aprovada, não se espera que o Consórcio Xavante encontre “surpresas” durante a due diligence.
Proposta da SAF
-Os compromissos assumidos pelos investidores que apresentaram a proposta são:
-garantir orçamento mínimo de R$ 142 milhões em dez anos;
-assumir a dívida do clube, estimada em R$ 22 milhões, conforme o processo de Recuperação Judicial já aprovado;
-construir um novo centro de treinamento;
-modernizar o estádio Bento Freitas;
-investir em estrutura voltada ao futebol profissional e às categorias de base.