Esforço e dedicação intensa: esses são os fatores atribuídos pelos integrantes da Associação Malgi de Esportes para que a equipe pelotense chegasse à elite nacional do futsal feminino neste ano. Com menos de dez anos de fundação, a Malgi rompeu barreiras ao se consolidar como um dos poucos times de alto rendimento no Estado e ao impulsionar atletas para a Seleção Brasileira.
As realizações foram alcançadas apesar da falta de oportunidades e de visibilidade que permeiam o esporte feminino — e no futsal não é diferente. No Rio Grande do Sul, além da escassez de apoio financeiro, a modalidade enfrenta as limitações de um calendário de competições curto e pouco estruturado, o que restringe tanto o desenvolvimento quanto a projeção do futsal feminino.
Mesmo assim, o educador físico e professor Maurício Giusti decidiu enfrentar essas barreiras ao fundar a Malgi, em 2016. Atuando com projetos de futsal feminino em Pelotas desde 2010, Giusti treinava equipes amadoras em competições locais e regionais, que logo começaram a disputar finais estaduais. Percebendo o potencial das jogadoras, o treinador apostou na formação de um time profissional.
O sinal de que a equipe estava trilhando o caminho certo veio no mesmo ano da formalização da Malgi, quando a primeira atleta foi convocada para a Seleção Brasileira Sub-20. Na temporada de 2018, a Malgi continuou surpreendendo e fez história ao conquistar a Taça RS (primeiro turno do Campeonato Estadual), feito inédito na cidade até então. Um ano depois, foi a primeira equipe a representar o Rio Grande do Sul na disputa da Copa do Brasil Adulta.
Um ano de ascensão

Próximo compromisso é na final da Liga Gaúcha (Foto: Jô Folha)
Na busca pela consolidação no Rio Grande do Sul, desde a sua formalização a equipe sempre conseguiu chegar às semifinais ou finais dos campeonatos estaduais — e em 2025 não foi diferente. Após golear por 9 a 1, em casa, a tradicional rival Celemaster na semifinal, a Malgi avançou à final da Liga Gaúcha, que será disputada no dia 11 de outubro, em Uruguaiana, e no dia 25, em Pelotas, no ginásio Profut.
No entanto, este ano tem sido ainda mais especial para a Malgi, pois pela primeira vez a equipe foi convidada a disputar a Liga Feminina de Futsal (LFF), competição de elite do futsal brasileiro. Com isso, o projeto deu o primeiro passo rumo ao reconhecimento nacional. “Não tem mais no país do que isso. É como se a gente tivesse pegado o Brasil e o Pelotas e colocado na Série A do Brasileiro. Essa é a dimensão do que a Malgi fez”, explica Giusti.
Além disso, o time já foi convidado novamente para disputar a LFF em 2026. “Agora a gente está em busca da estrutura financeira para poder custear essa participação na segunda Liga”, diz o treinador.
As barreiras
Segundo Giusti, uma das primeiras dificuldades enfrentadas pela Malgi no início da trajetória foi a falta de apoio e até mesmo a “sabotagem” de outros projetos esportivos em Pelotas. “E isso bateu muito pesado, muito mais do que qualquer preconceito com o futsal feminino”, afirma. No entanto, o técnico ressalta que a capacidade de driblar essas adversidades se deve ao profissionalismo e à dedicação das atletas. “Os anos passavam e a gente se potencializava cada vez mais com organização, os resultados chegavam e a credibilidade também.”
Com as conquistas, ao longo dos anos a Malgi atraiu diversos parceiros e patrocinadores, fundamentais para garantir suporte de saúde esportiva às atletas por meio de atendimentos multiprofissionais, como nutrição, fisioterapia e psicologia. Mesmo assim, ainda há grande escassez de recursos para melhorar a infraestrutura de trabalho, a remuneração da equipe técnica e a logística de participação em competições.
Um dos exemplos é o convite recebido para que a Malgi se tornasse franqueada da Liga Feminina de Futsal, mas que não pôde ser aceito devido ao custo de R$ 120 mil — valor inviável no momento. A conquista da franquia representaria um grande avanço, garantindo à

Maurício Giusti é técnico e foi o idealizador da Malgi (Foto: Jô Folha)
Malgi um calendário anual na elite da modalidade e, consequentemente, mais visibilidade para atrair investidores. “Sem investidores e parceiros é inviável fazer esporte de alto rendimento — e no feminino, mais ainda”, destaca o técnico.
As atletas
Atualmente, são 14 atletas no plantel da Malgi, sendo dez jogadoras de fora de Pelotas e algumas de outros estados. Somente neste ano, mais de 21 atletas já passaram pela equipe. Giusti relata que uma das primeiras metas ao formalizar o time foi garantir a remuneração das jogadoras, objetivo alcançado em 2022. O salário, somado ao suporte em saúde, à estrutura técnica e à participação em múltiplas competições, é o principal atrativo para atletas de diferentes lugares. “Começamos com uma equipe amadora e com poucas condições, com treino três vezes por semana. Atualmente, a Malgi tem treinos todos os dias, algumas vezes em mais de um turno.”
Uma das atletas que veio de fora para defender a Malgi em 2025 é a fixa/ala Ana Lustosa, de 20 anos. Natural de Turvo (PR), ela já foi convocada duas vezes pela Seleção Brasileira, sendo vice-campeã sul-americana com o Brasil. Ana conta que, durante a transição de categoria, decidiu mudar do Stein de Cascavel para a Malgi — e, consequentemente, para uma cidade a mais de mil quilômetros de distância — devido ao peso do calendário de competições da equipe pelotense.
“A Malgi vem em crescimento e jogar a Liga [Feminina de Futsal] é muito importante, porque enfrenta atletas que disputam essa competição e que estão em ascensão por causa da Copa do Mundo. Jogar contra elas é uma experiência única”, afirma.
Nesses quase dez anos, já passaram pela equipe atletas de 11 estados. “Tem atleta da Colômbia, gente que trabalha com a Malgi e está em Portugal. É um número gigantesco de pessoas que fazem a Malgi”, diz o técnico.
A capitã e atleta da equipe há dois anos, Ju Romanelli, complementa: “A Malgi vem fazendo um papel muito importante na formação de atletas e no treinamento para a profissionalização. Ela ajuda no desenvolvimento de mulheres e meninas por meio do esporte”.

Atletas treinam diariamente no ginásio Profut (Foto: Jô Folha)