Mais de 35 mil eleitores de Pelotas escolheram, em 2022, candidatos a deputado federal sem qualquer vínculo com a cidade. Reflexo da fragmentação do voto na região, o que compromete a representação política e o desenvolvimento. Por consequência, a dispersão dos votos também favorece candidatos de outras áreas, que concentram seu trabalho em redutos eleitorais distantes.
A um ano das Eleições 2026, a Zona Sul se prepara para o pleito em meio a um desequilíbrio político-eleitoral que penaliza a região com mais de 650 mil votantes. A baixa coesão no voto traduz-se em mandatos perdidos que poderiam impulsionar políticas locais e investimentos estratégicos.
Os números reforçam o problema: dos 31 deputados federais gaúchos eleitos em 2022, apenas três são da Metade Sul, ou seja, 10% das cadeiras. Na Assembleia Legislativa o cenário é semelhante, com quatro representantes da região – 8% do total. A falta de figuras políticas dificulta a defesa dos interesses socioeconômicos dos municípios e amplia a distância entre a população e as decisões tomadas em Porto Alegre e Brasília.
O que explica tantos votos para “fora”?
A cientista política Elis Radman diz que a falta de representantes locais resulta tanto da organização dos partidos quanto do comportamento do eleitor. Segundo ela, em eleições proporcionais, a oferta de muitos candidatos locais dispersa os votos, favorecendo aqueles com maior visibilidade. “Se você diminuir o número de nomes que ele oferta, você aumenta a capacidade desses nomes ampliarem a sua votação”, dá a dica.
Ela também observa que o eleitor tende a responder à marca do candidato e escolher nomes que ocupam mais espaço na mídia, “respondendo aos nomes mais famosos”. Além da visibilidade, as afinidades com segmentos específicos, como educação, saúde ou causas sociais, atrai um voto que busca candidatos alinhados às suas pautas de interesse.
Elis Radmann ainda enfatiza que essa combinação de fatores cria um ciclo vicioso que dificulta o surgimento de representantes locais fortes. Além disso, para ela, o reconhecimento do eleitor é muitas vezes um processo de compensação, no qual o voto busca corrigir escolhas anteriores e favorecer candidatos que já estiveram em evidência e têm uma marca consolidada.
Quem não é visto, não é lembrado
Aumento de representatividade política é sinônimo de ampliação da capacidade de direcionamentos de recursos. Mais do que isso, para a especialista, “significa ocupação de território, ocupação de palco, espaço de poder”. Elis ressalta que “quem não é visto, não é lembrado”, e não deixa de citar que a presença de deputados estaduais e federais amplia a voz da população e possibilita a aplicação de recursos em áreas importantes.
Projeto Metade Sul Forte
E é nesse contexto que nasce o Pensar Eleições 2026 – Metade Sul Forte, um movimento do Grupo A Hora que busca reverter o desequilíbrio político. O projeto, lançado neste fim de semana em todas as plataformas do grupo, propõe um debate profundo para despertar os mais de 650 mil eleitores regionais sobre a importância de votar em líderes regionais. A iniciativa prevê uma série de ações ao longo do ano:
- Reportagens especiais: uma série de matérias, até setembro de 2026, que remontarão à história de desempenho regional e buscarão entender como outras regiões, com menor expressão econômica e estratégica do que a Metade Sul, conseguem eleger mais deputados.
- Debates conceituais na Rádio Pelotense: de janeiro a abril de 2026, será realizado um debate por mês, e de maio a setembro, dois debates mensais, para manter na pauta a necessidade de eleger representantes locais.
- Encontros regionais: de maio a setembro, o Grupo A Hora irá a diferentes cidades da Metade Sul para reunir atores locais – como partidos, empresários, líderes comunitários, prefeitos e vereadores – e disseminar a cultura do Metade Sul Forte e fortalecer o movimento.
- Entrevistas com candidatos: serão realizadas rodadas de entrevistas ao vivo na Rádio Pelotense com os candidatos, para questioná-los sobre seus projetos e as bandeiras regionais que pretendem defender.
- Cobertura final: toda a mobilização culmina com uma ampla cobertura em 4 de outubro de 2026 e uma edição especial do A Hora do Sul, com a registro completo dos resultados, além do acompanhamento da posse dos eleitos em janeiro.