Odontologia da UFPel tem quatro dos cientistas mais influentes do mundo

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Odontologia da UFPel tem quatro dos cientistas mais influentes do mundo

Reconhecimento, que reforça a relevância da pesquisa produzida pela Universidade Federal de Pelotas, também evidencia a qualidade do trabalho de outros 16 pesquisadores

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Odontologia da UFPel tem quatro dos cientistas mais influentes do mundo
Depressão materna influi na saúde bucal da criança, revelou pesquisa (Foto: Divulgação)

A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) voltou a figurar no cenário internacional por meio de seus principais nomes citados entre os pesquisadores mais influentes do mundo. Desta instituição foram destacados 20 cientistas, destes 13 são da saúde, oito deles da Epidemiologia. No setor odontológico: os professores Flávio Fernando Demarco, Marcos Britto Correa, Rafael Moraes e Evandro Piva foram reconhecidos pela Universidade de Stanford entre os 2% de cientistas mais influentes. A notícia foi publicada no repositório de dados da Editora Elsevier, deste mês. A distinção reforça a relevância da pesquisa produzida em Pelotas, especialmente nas áreas da odontologia e da epidemiologia, e evidência a contribuição local para políticas públicas nacionais e internacionais.

As pesquisas na área da odontologia acompanham os estudos denominados Coortes de Nascimentos, desde 1982. Atualmente pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPel, o professor e pesquisador Marcos Correa destaca que sua linha de investigação está centrada nas desigualdades sociais que afetam a saúde bucal. Correa afirma que doenças como cárie e periodontite, embora tenham origem bacteriana, são consideradas crônicas e estão diretamente associadas a hábitos de vida. “São enfermidades mediadas por comportamentos, assim como hipertensão, diabetes e obesidade. O grande desafio é que sabemos a fórmula para preveni-las, mas adotar hábitos saudáveis continua sendo difícil, principalmente entre populações vulneráveis”, explica.

Correia ressalta que fatores socioeconômicos influenciam diretamente a qualidade da dieta e o acesso à informação, perpetuando desigualdades desde a infância. “Muitas vezes, famílias de baixa renda têm à disposição apenas alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar. Isso impacta não só a saúde bucal, mas a saúde como um todo”, afirma. O pesquisador lembra que a cárie é a doença mais prevalente do planeta, atingindo cerca de três bilhões de pessoas, quase metade da população mundial.

A inter-relação entre saúde geral e saúde bucal

O professor Flávio Demarco, atualmente em estágio como pesquisador visitante na Universidade Radboud, na Holanda, compartilha da mesma linha de estudos. Desde 1992 na UFPel, ele orientou Marcos Correa em diferentes etapas da carreira acadêmica e hoje segue em parceria em pesquisas conjuntas. Sua trajetória também se consolidou a partir das coortes de nascimento de Pelotas, referência mundial por acompanhar indivíduos desde 1982.
Demarco dedicou grande parte de sua atuação na UFPel trabalhando nos Programas de Pós-graduação em Odontologia e em Epidemiologia. “E ao longo desse tempo, grande parte das minhas pesquisas são relacionadas com efeitos de diferentes exposições que a gente tem ao longo da vida nos diferentes desfechos em saúde bucal, que é um pouco do que o Marcos fala sobre a questão socioeconômica, de diferentes fatores de risco que vão acabar contribuindo para o desenvolvimento de doenças. Temos trabalhado também com a parte que é a inter-relação entre saúde bucal e saúde geral”, conta.

O professor lembra dos trabalhos que têm sido desenvolvidos dentro das coortes de nascidos vivos, nos últimos 20 anos. “Por exemplo, mostramos que doenças periodontais durante a gravidez podem aumentar o risco de parto prematuro, e que a depressão materna influencia na saúde bucal da criança”, aponta Demarco.

Outra linha de pesquisa capitaneada pelo professor Demarco dentro da Universidade Federal de Pelotas, acompanha clinicamente a longevidade dos tratamentos dos restauradores. A busca é por saber sobre a duração da resina composta na boca do paciente, um trabalho pioneiro mundialmente e uma das frentes que traz muitas citações e relevância internacional para esses estudos. “São linhas que a gente tem desenvolvido ao longo dos dois programas que eu atuo e que acho que trazem muito no sentido da possibilidade de interação com políticas públicas”, comenta Demarco.

O professor Marcos Correa comenta que se conseguiu com uma série de trabalhos comprovar que a saúde do paciente é mais determinante para o sucesso dos tratamentos do que a própria técnica utilizada. Ou seja, o próprio nível socioeconômico das pessoas afeta o sucesso do tratamento. “Claro, a gente está falando de técnicas bem realizadas. E isso de certa forma é uma mudança de paradigma, porque faz com que os bons profissionais tenham que trabalhar muito a importância dos hábitos com seus pacientes, trabalhar a saúde bucal numa perspectiva mais ampla, de promover, de fato, saúde”, explica o Pró-reitor sobre o acompanhamento da longevidade de restaurações dentárias.

Reconhecimento e internacionalização

O destaque na lista de Stanford representa, segundo Demarco, não apenas um reconhecimento pessoal, mas institucional. “Ele é importante principalmente porque ele mostra que a qualidade do trabalho que a gente está desenvolvendo na Universidade Federal de Pelotas, que tem um grupo muito forte na área de saúde dentro desse ranking de pesquisadores mais citados no mundo, significa um reconhecimento no sentido de que o trabalho que é desenvolvido, a qualidade da pesquisa, que ela é reconhecida e citada internacionalmente. Porque isso tem a ver com os pesquisadores de outros países estarem lendo, estarem citando aquele conhecimento produzido na Universidade Federal de Pelotas”, avalia.

Professores Flávio Demarco (E) e Marcos Correa foram destacados (Foto: Divulgação)

A visibilidade também abre portas para novas parcerias e financiamentos internacionais. Correa lembra que quase 40% da produção científica da Universidade conta com co-autoria de pesquisadores estrangeiros. “É um processo de internacionalização crescente, que inclui intercâmbio de estudantes e docentes, além da recepção de alunos da América Latina, África e Ásia”, comenta.
O próprio Demarco está na Holanda por meio de uma parceria internacional, que é um estágio de pesquisador visitante na Radboud University of Nijmegen, por 10 meses. “Também é fruto desse reconhecimento. A gente tem uma parceria com essa instituição desde 2010, desenvolvendo projetos de longa duração”, fala o pesquisador.

O professor Marcos Correa lembra ainda que a UFPel ganhou alguns editais, inclusive, que estimularam essa mobilidade. “Nós mandamos estudantes de mestrado e doutorado para fora, para se qualificar, para a universidade. A gente traz também professores de fora para trabalhar em conjunto. Então, a internacionalização hoje é um braço importante da Universidade”, comenta o Pró-reitor.
Pesquisas com impacto social

Além das coortes de nascimento, a UFPel conduz desde 2014 uma coorte de idosos, acompanhando fatores que afetam a saúde dessa população em rápido crescimento. O grupo analisa os impactos dos aspectos socioeconômicos até questões de saúde mental, solidão e genética na saúde. “Queremos entender como envelhecer com qualidade, prevenindo doenças crônicas e reduzindo desigualdades”, explica Demarco.

Um dos objetivos atuais é integrar inteligência artificial aos diagnósticos em saúde, prevendo riscos e permitindo ações preventivas no Sistema Único de Saúde (SUS). “É um desafio global, mas fundamental para tornar a tecnologia acessível a todos, especialmente aos mais vulneráveis”, complementa Correia.

Os pesquisadores ressaltam que o SUS, que recentemente completou 35 anos, é um diferencial brasileiro no cenário internacional. “É o maior sistema público de saúde do mundo, e um dos únicos que garantem assistência odontológica gratuita em todos os níveis. Nossa missão, como pesquisadores em uma universidade pública, é contribuir para que ele siga fortalecendo a qualidade de vida das pessoas e melhorando a saúde da população, especialmente daqueles em maior vulnerabilidade”, afirma Demarco.

Desafios e perspectivas

Para o futuro, os cientistas apontam como principal desafio não apenas desenvolver novas tecnologias, mas garantir que elas acelerem os processos diagnósticos que podem trazer benefícios para a saúde humana. Para Demarco esta é uma motivação para ele estar estudando fora do país. “Eu estou aqui justamente para poder estudar isso e tentar reproduzir nas pesquisas agora a partir do meu retorno para a Universidade”, fala.

Marcos Correa também vê como desafio a utilização da tecnologia para conseguir fazer com que as pessoas tenham menos doenças. “Hoje, a cárie é uma doença de populações vulneráveis. Enquanto setores mais privilegiados já avançam para demandas estéticas, milhões ainda sofrem com problemas básicos de saúde bucal. O desafio é democratizar o acesso ao cuidado e às inovações”, conclui Correa.

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