Completando três anos de atividades junto à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Areal, o Centro de Referência ao Atendimento Infantojuvenil (Crai) de Pelotas realizou, desde a sua inauguração até o início de setembro, 1.086 atendimentos de crianças e adolescentes vítimas de violências físicas e abusos sexuais. Além dos acolhidos, atualmente o serviço possui uma fila de 40 agendamentos de casos que não são considerados urgentes.
O serviço realiza diariamente acolhimento multidisciplinar em saúde e atendimento integrado, em articulação com a rede de segurança do município, incluindo a Delegacia de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA), o Instituto Geral de Perícias (IGP) e o Ministério Público. O Crai é responsável por oferecer assistência imediata às vítimas, com atendimento psicológico e, quando necessário, suporte médico na UPA.
Em casos de violência física recente e de abusos sexuais, o IGP é acionado para a realização da perícia dentro do próprio Crai. “Dentro desse serviço, a gente faz esse acolhimento de saúde, onde eles passam por uma escuta especializada, a fim de evitar a revitimização das crianças e adolescentes”, diz a coordenadora do Centro, Flavia da Rosa Campos.
Uma das psicólogas que atende as vítimas detalha que o primeiro objetivo é compreender o que aconteceu com a criança ou adolescente e quais podem ser os impactos da violência. “E a gente faz a discussão do caso, considerando o ponto de vista da criança e do responsável. Então, a equipe discute e faz os encaminhamentos para a rede de pertinência”, explica Cristiane Gonçalves Chiabotto.
Os casos

Maioria dos casos chega ao serviço por encaminhamento do Conselho Tutelar e da DPCA (Foto: Jô Folha)
Conforme a coordenadora do Crai, a maioria dos casos chega ao serviço por encaminhamento do Conselho Tutelar e da DPCA. No acolhimento, as vítimas de violência física recente passam por exames que avaliam os danos à saúde e os possíveis riscos à vida. Nos casos de abuso sexual, a equipe de saúde administra a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP) e, quando há risco de gestação, fornece a anticoncepção oral. “E a gente aciona toda a rede para a investigação do caso e, se for necessário, para que a criança seja retirada da família”, diz Flavia.
Aumento de atendimentos
Desde que o Crai foi inaugurado, em 27 de setembro de 2022, o número de atendimentos tem crescido anualmente. De 2023 para 2024, a quantidade de casos de violência aumentou 32%, saltando de 320 para 424 atendimentos. Neste ano, até o início de setembro, foram 262 acolhimentos.
Nos três anos de serviço, dos 1.086 atendimentos, 968 foram casos distintos. O número de atendimentos superior ao de ocorrências se dá porque algumas vítimas retornam ao Crai. “Às vezes, eles vêm por violência física a primeira vez e acabam retornando por causa de violência sexual, e vice-versa”, explica a coordenadora.
Em outros casos, a vítima passou tanto pelo abuso sexual quanto pela violência física. Além disso, nos três anos de atuação do serviço, mais de dez meninas e adolescentes atendidas estavam grávidas em decorrência de violência sexual.
Grande parte das vítimas está na faixa etária de 12 a 13 anos e, em vários casos, com algum tipo de deficiência cognitiva. “E existe a violência psicológica também; o abusador tem muitas táticas, não tem cara e utiliza vários meios. Muitos sabem como agir sem deixar vestígios”, diz Flavia, detalhando que, majoritariamente, o criminoso é familiar ou uma pessoa próxima da família.
O impacto do serviço integrado
Além de oferecer acolhimento às vítimas, o trabalho do Crai, integrado às forças de segurança e ao Ministério Público, resultou na solução da maioria das denúncias registradas. “Isso também traz uma satisfação, de certa forma, mesmo que nosso intuito não seja fazer justiça. Nosso objetivo é proteger e cuidar da saúde das crianças”, diz a coordenadora.
O Crai atende na UPA Areal 24 horas e abrange, além de Pelotas, cidades da região.
Número de atendimentos em três anos de Crai
- 1.086 atendimentos
- 968 casos distintos
- 2022: 80 atendimentos
- 2023: 320 atendimentos
- 2024: 424 atendimentos
- 2025: 262 atendimentos
até início de setembro
Tipos de casos atendidos
- Suspeita de Violência sexual – 55,1%
- Suspeita de Violência Intrafamiliar- 43,5%
- Demais violências e testemunhas – 1,4%