Neste mês, uma diretriz publicada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e pela Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) redefiniram os patamares de risco para hipertensão. Com isso, passa a ser enquadrada como pré-hipertensão valores entre 12 por 8 e 13,9 por 8,9. Em entrevista ao programa Corpo & Mente da Rádio Pelotense, o cardiologista e professor da UCPel, Alan D’Ávila, afirmou que o objetivo da reclassificação é reforçar a prevenção.
O que essa alteração significa e o que muda para aqueles que já tem a condição?
A diretriz traz algumas coisas novas e outras não tão novas. O que a gente tinha antes como pressão arterial elevada, hoje a gente considera como pré-hipertensão. Eu considero que isso é um alerta, um alarde que a sociedade médica está trazendo de que essa pressão não é normal, onde o cardiologista e o clínico-geral já tem que abrir o olho para as condições desse paciente. Porque se sabe, através de diversos estudos populacionais, que essas pessoas têm um risco maior do que aqueles que têm menos de 12 por 8. O que mudou foi a forma de se classificar esses pacientes para que isso seja um alerta para buscar a intervenção.
O que a alteração na pressão arterial causa no corpo?
A hipertensão, principalmente, é um fator de risco para diversas doenças que, hoje, são as que mais matam: o infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal, são doenças devastadoras. A hipertensão precisa ser procurada. É muito comum o paciente chegar no consultório e dizer que sentiu dor de cabeça, mediu a pressão, estava alta e, com isso, concluir que está com dor de cabeça por causa da pressão alta e, na verdade, na grande maioria das vezes, essa dor de cabeça foi só um achado e que nada tem a ver com a pressão. A medicina ainda não sabe a causa da hipertensão, mas ela se dá em diversos mecanismos dentro do nosso corpo. A consequência dela é a aterosclerose, em conjunto com o colesterol alto, com o sedentarismo, fumo e diabetes, leva à condição que é o acúmulo de gordura e cálcio nas artérias, sejam elas de qualquer parte do organismo. É essa aterosclerose que vai resultar em AVC, em infarto, em insuficiência renal.
Há algum sintoma que indique um quadro de hipertensão? Qual seria o alerta?
Em torno de 30 a 40% da população tem hipertensão e nem sabe, principalmente acima dos 45 anos. Não é uma doença que mata rapidamente. As consequências da hipertensão são a longo prazo, vão se manifestar cinco ou 10 anos depois, e o que a gente sabe é que a maioria dos pacientes já chega com cinco ou 10 anos de hipertensão, pois não verificam. Nenhum diagnóstico é feito a partir de apenas uma medida, tem que se fazer um acompanhamento. A hipertensão precisa ser tratada de forma correta, mas não é uma urgência, nos livros de cardiologia ela é descrita como uma doença assintomática, mas, níveis pressóricos muito elevados podem trazer sintomas. Os mais frequentes podem ser dor no peito, visão turva, sensação de parestesia, cefaléia, mas não é comum. Em geral, o que a gente tem são pseudocrises hipertensivas, que são outras coisas causadas por outros fatores. Os casos mais graves, que são os de urgência hipertensiva, ocorrem lesões em órgãos alvos.
A pressão deve ser aferida todos os dias?
Alguns pacientes chegam com quadro de hipertensão por dois ou três anos e nem sabiam, tudo porque não mediam a pressão. A frequência pode ser uma vez por semana, uma vez a cada 10 dias, ou sempre que vai ao médico. Hoje a gente tem aparelhos eletrônicos dedicados a isso, que medem sozinhos a pressão. Essa mesma diretriz recomenda que até o médico faça a aferição da pressão com o aparelho eletrônico e não por ouvido, pois tem menos risco de erro, desde que bem calibrado. É importante que todo mundo, uma vez por mês e, dependendo da idade, com mais frequência, procure verificar a pressão.
Quais são as orientações para o dia a dia?
As pessoas com essas condições devem reduzir o consumo de sal na comida, praticar atividades físicas regulares, principalmente atividades aeróbicas, se recomenda alimentação rica em potássio – não é reposição farmacológica, mas sim as comidas saudáveis. Parar de fumar também é um fator importante, o cigarro é um fator de risco para a hipertensão. O estresse, a gente sabe que é difícil, mas também contribui. É importante procurar o cardiologista para reclassificar, esse é o grande X da questão desta diretriz. O cara que tem pré-hipertensão ele precisa ser reclassificado, até para verificar se está enquadrado como grave e de risco alto e iniciar a medicação.