Corrida pela Resiliência

Educame

Corrida pela Resiliência

Núcleo Integrado de Previsão (NIP) da UFPel auxilia municípios da região na preparação para eventos climáticos extremos

Por

Atualizado sábado,
27 de Setembro de 2025 às 16:41

Corrida pela Resiliência
(Foto: Jô Folha)

A busca por sermos cidades resilientes ganhou força desde os eventos de maio do ano passado. Também pudera, precisamos garantir que nossos municípios estejam seguros para se viver, investir e trazer tranquilidade para a vida das pessoas. Por isso, a Zona Sul inicia os seus movimentos de criar medidas de prevenção, controle e reforçar a proteção. O monitoramento do rio Piratini, entre Cerrito e Pedro Osório, é a primeira grande vitória desse novo momento que precisa reunir, indubitavelmente, comunidade, poder público e ciência.

É impossível esquecer o pavor que foi o mês de setembro de 2023 na região, quando o rio subiu. E não foi a primeira vez – nem superou a grande enchente de 1992 –, mas também não será a última. Por isso, valer-se do monitoramento é garantir ao menos previsibilidade para a ação das pessoas e dos órgãos de segurança. O foco deve ser realmente salvar vidas, a única coisa incontornável. Todo o resto, lida-se depois.

Valer-se da ciência é fundamental para a nossa própria região, que tem a dádiva de ter grandes universidades que produzem conhecimento, pesquisa e atividades de extensão. Ao atuar em parceria com a ciência, os municípios têm mais oportunidades de valer-se da capacidade de compreender e prever os movimentos da natureza. Novamente, se eles não são inevitáveis, ao menos devem ser compreendidos para que possamos agir. E, com informação, fica muito mais fácil tomar decisão.

Nas últimas semanas, Pelotas também avançou na obtenção de recursos para drenagem e proteção. Rio Grande e São Lourenço do Sul movimentam-se pelo mesmo objetivo. O grande foco agora deve ser termos na Zona Sul a certeza de que somos capazes de dar respostas a eventos climáticos. É uma maneira de atrair investimentos, garantindo às empresas essa segurança, mas também de ganharmos tempo para, de fato, nos educarmos para criar uma nova cultura ambiental. Leva tempo para reverter o cenário que nos encontramos atualmente. Então, com segurança para lidar com o momento atual, conseguimos pensar em um futuro onde possamos viver realmente tranquilos e em harmonia com a natureza.

Ciência como ferramenta na busca da resiliência climática

A parceria entre as prefeituras de Pedro Osório e Cerrito com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) avança na prevenção de desastres climáticos. No começo do mês de setembro, o Núcleo Integrado de Previsão (NIP) entregou o mapeamento aéreo das áreas urbanas das duas cidades, feito a partir de drones equipados com a tecnologia LiDAR, voltada a criar modelos detalhados do ambiente. Essa informação permite identificar com clareza áreas críticas de extravasamento do rio e subsidiar, tanto o planejamento urbano, quanto a atuação da Defesa Civil.

No total, foram cerca de 2.200 hectares mapeados. Os produtos derivados desse levantamento oferecem uma base cartográfica inédita para a região.

(Foto: Jô Folha)

O coordenador do projeto, que é intitulado “Sistema integrado de previsão hidrológica em tempo real e alerta antecipado como ferramenta na busca da resiliência climática: uma abordagem tecnológica e social para a região sul do Rio Grande do Sul”, Samuel Beskow, explica que, especificamente para o propósito deste projeto, os produtos possibilitarão a previsão antecipada do impacto de eventos de chuva previstos, respondendo a perguntas como: quais as áreas urbanas de Pedro Osório e Cerrito que serão ocupadas com água em virtude do extravasamento do rio? Em que momento a água chegará em diferentes pontos das cidades? Qual a lâmina de água em cada local? Qual a velocidade de escoamento? Quando a água retornará ao leito do rio?

O que é resiliência climática?

(Foto: Celestino Garcia)

O termo que passou a integrar a vida dos gaúchos, principalmente após as enchentes de 2024, é importante para situar as ações do NIP em Pedro Osório e Cerrito, mas também para entender a dimensão da contribuição da universidade nesse contexto. A resiliência climática está ligada à capacidade de comunidades e estruturas se adaptarem e se recuperarem dos impactos das mudanças climáticas, como eventos extremos e desastres naturais.

As ações têm o objetivo de minimizar os efeitos na população, construir infraestruturas mais resistentes e projetar planos que considerem cenários climáticos futuros.

A coordenadora do NIP, a hidróloga e professora da UFPel, Tamara Beskow, ressaltou durante o evento de entrega dos produtos, que eles são a materialização de uma parceria entre universidade e poder público, que tende a consolidar, cada vez mais, a importância de se conhecer o território para questões além da gestão. “Com isso, as prefeituras entendem que a ciência não é inimiga da gestão pública, e sim uma aliada”, disse.

Estações hidrometeorológicas

As equipes do Núcleo Integrado de Previsão (NIP) da UFPel realizam o monitoramento do Rio Piratini desde março de 2023, com o início das aplicações práticas na enchente de setembro do mesmo ano. Essa inundação foi provocada por um acumulado de chuva superior a 155 milímetros em Pedro Osório. O rio subiu rapidamente e atingiu os 14 metros, deixando centenas de famílias desalojadas.

Até o final do ano é esperada a instalação de 130 novas estações hidrometeorológicas espalhadas pelo Rio Grande do Sul. Diversas dessas estações serão instaladas na região Sul do Estado, com foco em mananciais que historicamente registram inundações e provocam transtornos a municípios. Entre eles, destacam-se o arroio São Lourenço, rio Piratini, arroio Pelotas, rio Camaquã, rio Jaguarão, canal São Gonçalo e a Laguna dos Patos. Essa rede permitirá o acompanhamento mais preciso e frequente das condições hidrometeorológicas nessas áreas, contribuindo para ações preventivas e de resposta mais eficazes.

A hidróloga Tamara avalia que as novas estações hidrometeorológicas incrementarão o trabalho já realizado pelo NIP com o fornecimento de dados valiosos. “Algumas delas serão instaladas onde hoje não temos nenhum tipo de monitoramento, a exemplo da Laguna do Patos na colônia de pescadores da Z3. Outras serão instaladas onde existia monitoramento automático, mas os equipamentos não funcionam mais, ou existem somente as réguas que precisam que alguém vá até lá para ver o nível do rio”, informou.

Tamara também destaca que, no evento de 2023, foram perdidos muitos dos poucos equipamentos que existiam na região, em que vários deles pararam de operar e não foram reativados. “As novas estações são pensadas para operar em missão crítica, se, por exemplo, o sensor de medição de nível falhar, terá um conjunto de réguas monitorado por câmera que garantirá o monitoramento. Elas são pensadas para garantir os dados mesmo em condições extremas”, explicou.

Batimetria

Outra ação que auxiliará no processo de resiliência climática, principalmente nas cidades do entorno do rio Piratini, é a batimetria. A ação consiste no detalhamento do fundo dos rios e está em fase inicial. “A informação chega no formato de fotos sobre o terreno juntamente com a classificação desses elementos e a questão da altitude, que, para os projetos, é o mais importante; é isso que permite fazer o mapeamento de risco”, explicou a coordenadora do NIP.

Sendo assim, a integração de informações do relevo projetadas pelo LiDAR e pela batimetria resultará em um modelo 3D completo do fundo do curso d’água e da planície de inundação. “Essa combinação de dados é fundamental para as simulações de cenários de cheia e para o desenvolvimento de sistemas de alerta antecipado à população”, afirmou o professor Bescow.

Acompanhe
nossas
redes sociais