Com o envelhecimento populacional e o aumento da expectativa de vida, iniciativas voltadas ao bem-estar dos idosos tornam-se cada vez mais essenciais. Muitos, ao perder autonomia e independência, encontram nas instituições de longa permanência para idosos (ILPs) uma alternativa segura. Em Pelotas, existem 67 instituições desse tipo, que acolhem cerca de 1.180 idosos, conforme dados da Vigilância Sanitária.
O presidente do Conselho Municipal do Idoso, Willi Wetzel Jr., reconhece a ampla rede de atendimento existente na cidade, mas ressalta a necessidade de maior qualificação. Para ele, estruturas como Centros de Convivência e Centros Dia seriam fundamentais para ampliar o cuidado.
Fiscalização e acolhimento
As ILPs foram autorizadas em Pelotas em 2016 e precisam garantir acolhimento humanizado, com ambiente limpo e arejado, alimentação adequada, atividades físicas e recreativas, higiene e prevenção ao abandono. Segundo a coordenadora da Vigilância em Saúde, Vera Neto, inspeções periódicas verificam condições estruturais, sanitárias e de atendimento. “Há instituições bem estruturadas, mas também há as que deixam a desejar. Nestes casos, emitimos termos de adequação”, explica.
143 anos de cuidado e acolhimento
Fundado em 1882, o Asilo de Mendigos acolhe atualmente 104 idosos, em sua maioria mulheres acima de 80 anos, muitas com doenças que exigem cuidados contínuos. A casa oferece seis refeições diárias, enfermagem 24 horas, fisioterapia, nutricionista e atividades como bailes e rodas de conversa, além de parcerias com universidades.
Segundo a gerente Patrícia Frank, muitos acolhidos vêm de famílias vulneráveis. “Muitas vezes as famílias gostariam de cuidar, mas não conseguem, porque a rotina de trabalho e as condições financeiras não permitem manter um idoso acamado em casa”, explica.
Diferente de instituições privadas, o Asilo é 100% filantrópico e depende de doações. Os idosos contribuem com até 70% do salário mínimo, mas a manutenção da casa e as reformas necessárias só são possíveis com o apoio da comunidade. Atualmente, a instituição busca recursos para o telhado, novas camas e suprimentos básicos, como alimentos, fraldas e medicamentos.
“Vivo bem melhor aqui”

Darli vive no asilo por opção própria (Foto: Julia Barcelos)
Entre os residentes do Asilo de Mendigos, está Darli Ferraz da Rosa, de 77 anos. Ela mora na instituição desde novembro de 2024, quando percebeu que não poderia mais viver sozinha em seu apartamento. Ex-instrumentadora cirúrgica na Beneficência Portuguesa, ela dedicou 57 anos de sua vida à área da Saúde. Sem marido ou filhos, a senhora conta que o maior desafio da mudança foi o desapego aos seus pertences. “Meu apartamento era muito bom, mas acredita que eu só chorei quando levaram minhas plantas de casa? Tive que doar todas”, relembra ela.
Apesar da dificuldade inicial, dona Darli afirma sentir-se bem tratada e acolhida na instituição. “Aqui tudo melhorou, até a saúde. Tenho horário certo para comer, emagreci e faço fisioterapia todos os dias”, conta ela. Ainda, destaca a autonomia de poder sair da casa para passear durante o dia ou passar aos fins de semana com os sobrinhos – que também a visitam frequentemente no Asilo.
O desafio do abandono
Apesar de exemplos como o de dona Darli, o abandono familiar é uma realidade. De acordo com Vera Neto, há muitos idosos abandonados em instituições de longa permanência em Pelotas. “Abandono mesmo, não tem familiar, não tem quem se interesse. Infelizmente detectamos isso”, afirma. No Asilo, cerca de 30% dos residentes não têm família, segundo Patrícia.
Ainda assim, Vera pondera que nem sempre a institucionalização deve ser vista como descaso. “Não estamos aqui para condenar quem não consegue manter o idoso em casa. O importante é que, mesmo em uma instituição, os familiares mantenham o vínculo: visitem, levem para passear, participem de datas importantes. Isso é vida para eles, isso é qualidade. O abandono é o contrário disso”, destaca.
FIQUE DE OLHO
Casos de violência e abandono devem ser denunciados no Disque 100, à Guarda Municipal ou à Brigada Milita