Na Câmara de Vereadores, a cadeira vazia fala tanto quanto a cadeira ocupada. Nos três encontros semanais obrigatórios, alguns vereadores são presença constante; outros, por “compromissos em bairros, reuniões com secretarias ou viagens a Brasília”, transformam o plenário em um espaço quase fantasma. Curiosamente, muitas dessas ausências nem entram no registro oficial de faltas — o que torna a matemática da assiduidade um jogo de ilusão: o vereador está, mesmo quando não está. Enquanto isso, o debate sobre a presença se repete. Ontem foi puxado pelo vereador Michel Promove (PP) e teve coro favorável de outros como Cesinha (PSB), Cristiano Silva (UB) e Tauã Ney (PSDB).
Carlos Junior (PSD), presidente do Legislativo pelotense, promete um documento que, quem sabe, finalmente dê forma a regras que a prática insiste em ignorar. No plano legal, a presença em plenário nas terças, quartas e quintas pela manhã é obrigatória e registrada oficialmente. Mas nem toda ausência é considerada falta: doença, viagens oficiais, reuniões com secretarias e ações nos bairros podem ser justificadas junto à Mesa Diretora. Ou seja, o plenário pode parecer vazio, mas oficialmente ninguém “faltou”.
O problema vai além da simbologia: algumas votações importantes têm demonstrado quórum reduzido. Aconteceu semana passada, por exemplo, quando um debate sobre construções em áreas baixas da cidade, tema de bastante relevância nos últimos tempos, não ocorreu por falta de quórum, o que levanta questionamentos sobre a representatividade das decisões tomadas. No fundo, a questão não é apenas de números, mas de percepção. Cada justificativa tem sua validade, mas o registro público da ausência é essencial para que o cidadão acompanhe quem realmente cumpre o mandato que lhe foi confiado. E enquanto a Câmara debate a formalização dessas regras, os bastidores seguem vivos com justificativas criativas e estratégias de imagem. Em ano eleitoral, a discussão tende a ganhar ainda mais relevância: quem se apresentará como “vereador presente” e quem se apoiará no argumento de ser “vereador de rua”? No fim, a assiduidade é mais do que um número — é um símbolo da relação entre representantes e representados, e o plenário, vazio ou cheio, diz muito sobre isso.
Vitória democrática
A rejeição da PEC da Blindagem pelo Senado, após a sua aprovação no Congresso, é uma vitória clara da sensatez e do respeito à democracia. Nas últimas semanas, vimos alguns parlamentares empenhados em defender o indefensável, passando por situações constrangedoras que ficaram registradas para a sociedade e nas redes sociais. A imagem transmitida foi de tentativa de blindagem de interesses particulares, em contraste direto com o clamor popular. O papel das redes sociais foi decisivo: a reação massiva da população deixou evidente que a sociedade não compactua com manobras que busquem proteger quem tenta corroer mecanismos de controle democrático. O Senado, ao rejeitar a PEC na CCJ, respondeu a esse clamor. Essa decisão não apenas preserva instituições, mas também envia uma mensagem clara: tentativas de organizar o sistema em benefício próprio não passarão despercebidas.
Orçamento público
Amanhã, às 14h, a prefeitura de Pelotas realiza a audiência pública de pré-apresentação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2026. É um espaço essencial para discutir o futuro de Pelotas, mas que, historicamente, sofre com a baixa participação popular. A LDO é a norma que orienta a elaboração do orçamento municipal do ano seguinte. É ela que define quais áreas terão prioridade, quais projetos serão executados e, principalmente, quais ficarão para depois.
Na prática, é nesse momento que se decide se haverá mais recursos para a saúde ou para o asfalto, para a educação ou para eventos, para políticas sociais ou para a manutenção da máquina pública. O problema é que, em geral, poucas pessoas comparecem a esse tipo de audiência. Definir para onde vai cada real do orçamento é uma decisão política, não apenas técnica. E quando a sociedade não participa, abre-se espaço para escolhas que muitas vezes não refletem as reais necessidades da cidade.