Artista plástica e escritora autodidata, Brunna Alexsandra descobriu seu talento para a pintura durante a pandemia. Atualmente, a artista trabalha com a técnica a óleo em suas telas e murais, enfatizando sempre seu amor pelos seres humanos e suas especificidades. Em Pelotas, Brunna é uma das oito artistas que compõem a atual edição da exposição “Mucha Arte”, no restaurante Madre Mia!, que conta apenas com obras de artistas mulheres. A edição da exposição foi lançada em agosto e segue até o final do ano.
Tu és formada em Enfermagem. Como a arte aflorou na tua história?
Eu costumo dizer que parece que, para eu entender o corpo humano, precisei começar pela pele para depois densificar. Toda a minha expressão artística gira em torno do ser humano e de como nos entendemos no mundo. Não me vejo como artista sem ter tido esses dez anos na Enfermagem. Sou da saúde pública. Sou muito apaixonada por gente. E ter tido esse contato com a carne – a primeira camada do que nos faz indivíduos – me deu substrato para criar o que crio: minhas telas a óleo, meus murais. Eles têm esse componente de humanidade como principal foco.
Quando esse talento surgiu na tua vida?
Eu sempre tive essa facilidade de olhar o objeto e colocá-lo em dimensões maiores, sem me perder nas proporções. Isso é algo que nasceu comigo. Mas, em 2020, eu estava no ponto da minha carreira, enquanto enfermeira, em que eu coordenava uma área de qualidade de vida no trabalho, e parecia que tudo aquilo que eu vivi precisava crescer dentro de outros espaços. E a pandemia, como foi um momento em que infelizmente precisamos ficar isolados – e o silêncio é um momento em que escutamos muito a nós mesmos –, ali, parecia que apenas o contato com o outro não era suficiente para saciar minha curiosidade pelo ser humano. A partir dali começou a criação – apesar de eu ter me assumido artista “em praça pública” apenas em 2023.
Como foi o convite para a exposição?
Em 2020, eu estava pintando com tinta guache escolar, mentindo para a vendedora que era para minha sobrinha, porque eu tinha vergonha de dizer que era para mim. Então, aquilo foi deixando de ser um hobby para se tornar a base de quem eu sou hoje. Em 2023, toda essa pesquisa em relação à figura – àquilo que eu queria expressar – chegou ao limite. Aí recebi um convite da Assembleia Legislativa para pintar sobre mulheres negras no Julho das Pretas. Depois, recebi o convite para expor na Câmara Municipal, no Novembro Negro. E aí fui conhecendo pessoas e recebi este convite que, para mim, foi o maior desafio da minha carreira: o Levante. É um mural a óleo de 46 metros de extensão por cinco metros de altura. Feito inteiro a óleo, naquela telha ondulada – de telhado mesmo –, realizado em 21 dias, 12 horas por dia, foi um processo muito insano, no melhor sentido da palavra. Ali eu consegui ver a minha potência.