“O idoso é muito carente em afetuosidade”

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“O idoso é muito carente em afetuosidade”

Arthur Mariante e Gilberto Alves - Asylo de Mendigos

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“O idoso é muito carente em afetuosidade”
Dupla dirige a instituição (Foto: Nátalli Bonow)

Com mais de 140 anos de atuação, o Asylo de Mendigos de Pelotas se consolidou como a maior instituição do gênero no Rio Grande do Sul, referência no acolhimento e cuidado de idosos em situação de vulnerabilidade. Fundado em 1882, o espaço preserva a memória da cidade e a missão social de solidariedade e compromisso com a dignidade humana. Para falar sobre essa trajetória, o Papo da Hora recebeu Patrícia Dutra Frank, diretora da instituição, que compartilha detalhes deste projeto centenário. Para falar sobre essa trajetória, o presidente do Asylo, Gilberto Alves, e o diretor administrativo, Arthur Mariante, compartilham detalhes deste projeto centenário.

A origem do Asylo foi mesmo a partir da iniciativa de um jornalista?
Gilberto Alves: Sim. Antônio Joaquim Dias, do Correio Mercantil, fez um apelo público para que a cidade criasse um espaço destinado a acolher pessoas sem condições de ter um lar. O gesto foi tão bonito que jornais concorrentes e até veículos de outras regiões do país apoiaram a campanha. Em pouco tempo arrecadaram recursos para comprar o terreno e iniciar a obra. Como homenagem, em 1906 foi erguida no pátio do Asylo uma coluna dedicada à imprensa brasileira, que está lá até hoje.

E que outros personagens históricos foram importantes nessa construção?
Arthur Mariante: O terreno foi adquirido com ajuda do barão e da baronesa de Santa Tecla, que venderam a área pela metade do valor. Mais tarde, quando as obras pararam por falta de recursos, o Visconde da Graça fez a doação necessária para concluí-las. O Asylo também enfrentou períodos difíceis, como durante as Revoluções de 1893 e de 1923, mas se manteve firme.

E hoje, como funciona a instituição?
Arthur Mariante: Somos uma verdadeira empresa social. Acolhemos cerca de 100 idosos, entre homens e mulheres, e para isso contamos com 70 funcionários: cuidadores, enfermeiros, médicos, cozinheiras, costureiras, equipe de limpeza. Cada idoso custa em média R$ 3.600 por mês, mas a contribuição que eles podem dar, via aposentadoria, não chega a mil reais. Por isso precisamos constantemente da colaboração da comunidade para manter as portas abertas.

Além do cuidado material, há a questão do afeto?
Gilberto Alves: O idoso, além de comer e beber, é muito carente em afetuosidade. Muitos idosos foram abandonados pelas famílias e não recebem visitas. Nessas datas simbólicas, como Natal e Dia das Mães, é doloroso ver essa ausência. Por isso o carinho da comunidade faz toda a diferença. Temos voluntários que cortam cabelo, fazem maquiagem, penteados, e até um senhor que promove um bailinho semanal. Para eles, isso muda o dia inteiro.

E quanto à estrutura física, quais são os desafios atuais?
Recentemente a capela foi restaurada e está belíssima. Mas ainda enfrentamos problemas com o telhado. Recebemos doação de telhas de alumínio, leves e resistentes, mas a legislação patrimonial não permite a substituição. Enquanto isso, convivemos com goteiras. É um desafio constante equilibrar a preservação do prédio histórico e as necessidades práticas de quem vive lá dentro.

Quem quiser ajudar, como pode se engajar?
Arthur Mariante: Basta chegar ao Asylo e falar com a Patrícia, nossa gerente. Precisamos tanto de voluntários quanto de cuidadores contratados, já que a rotatividade é grande. O voluntariado é formalizado: combinamos dias e horários para que os idosos mantenham sua rotina, que é muito importante, especialmente por causa das refeições e dos medicamentos.
Gilberto Alves: Há várias formas de colaborar. Contar histórias, ler livros, simplesmente conversar. A solidão pesa muito para os idosos. E pequenas atitudes fazem uma enorme diferença.

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