Equipe de docentes e estudantes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) atua, desde o início de setembro, na formação de profissionais da construção civil, com o objetivo de contribuir para a conservação e manutenção das quatro ruínas jesuíticas guaranis. As oficinas do projeto Saberes das Missões, finalizadas na sexta-feira, foram realizadas em São Miguel das Missões.
No canteiro de obras do local, a Universidade treinou artífices para aliar a intervenção à preservação histórica no contexto específico de espaços em ruínas. O projeto da UFPel é realizado em conjunto com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), entidade vinculada ao Ministério da Cultura.
Além das oficinas com 18 artífices locais, a UFPel tem atuado em encontros de educação patrimonial. A ação Diálogos sobre o Patrimônio busca aproximar os participantes dos saberes e fazeres dos artífices e fortalecer o senso de comunidade, por meio do reconhecimento de suas referências culturais.
As atividades de formação envolvem também professores da região. Já foram desenvolvidas formações em São Miguel das Missões, São Nicolau, Entre-Ijuís e São Luiz Gonzaga, em parceria com as Secretarias Municipais de Educação.
Preservação com acessibilidade
No contexto do Programa Conviver – Canteiros Modelo de Conservação, a UFPel e o Iphan continuaram com o levantamento fotogramétrico em São Miguel das Missões — processo de identificação das características físicas de uma área por meio de imagens — e à coleta de informações para diagnóstico das condições de acessibilidade espacial. A intenção é adequar o sítio arqueológico, declarado patrimônio mundial, cultural e natural, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), à legislação e às condições específicas para pessoas com deficiência.
A pesquisadora da UFPel sobre acessibilidade em sítios históricos, Isabela Andrade, explica que a Universidade busca identificar as condições técnicas do espaço e a percepção de possíveis usuários em relação à acessibilidade. A preservação do patrimônio histórico precisa estar associada à possibilidade de utilização do bem público por todas as pessoas, com ou sem deficiência. “É a complexidade que incide sobre o bem, considerando que é patrimônio da Unesco, e tem toda a questão relacionada à preservação. Associada a isso há toda a legislação que garante que os espaços públicos sejam acessíveis a todas as pessoas”, comenta.
Parcerias e avaliação
Durante o período de desenvolvimento das oficinas com profissionais da construção civil, a equipe da UFPel também se articulou com instituições de ensino atuantes na região para o planejamento de seminário sobre conservação de sítios históricos, previsto para março de 2026. Já no campo de avaliação de políticas públicas, a equipe realizou entrevistas com representantes da administração, de entidades federais, do Iphan e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), e dos quatro municípios que abrigam os sítios arqueológicos.
O objetivo é a elaboração de diagnóstico sobre as dificuldades e as possibilidades de parceria na gestão dos bens culturais. Também foram ouvidas as lideranças Mbya Guarani, da aldeia Tekoa Koenju. Essas comunidades apresentaram suas demandas sobre o patrimônio e a manutenção de seu modo de vida na aldeia e nas ruínas missioneiras.