Considerada a etapa que mais cristalizou o conceito “aberto para obras”, a restauração do assoalho da Catedral Metropolitana São Francisco de Paula foi realizada com igreja em funcionamento. Enquanto as missas ocorriam simultaneamente aos trabalhos, apenas um tapume baixo separava a obra dos fiéis. Na sexta-feira (19), na missa das 18h a comunidade que acompanhou cada uma das fases da intervenção pode enfim ver o piso recuperado e ainda mais bonito.
A intervenção integra a etapa final do projeto Restauração da Catedral Metropolitana São Francisco de Paula, realizado pela Perene Patrimônio Cultural, com financiamento de quase R$ 2 milhões via LIC/Pró-Cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Sul. “Foi a intervenção mais visível e impactante para a comunidade, porque ela alterou diretamente o espaço de convivência diário dos frequentadores”, destacou a arquiteta Simone Neutzling, responsável pelo plano de preservação da Catedral.
A obra revelou também o tom claro original da madeira, até então encoberto por camadas de cera e poeira. O restauro ainda colocou em evidência a paginação do corredor central da Catedral, com madeira em dois tons, que esteve por anos coberto por tapete, que hoje não é mais necessário. O piso restaurado harmoniza com as pinturas internas da década de 1950, devolvendo à Catedral a ambiência cromática de sua inauguração.
O assoalho, de 690 m², apresentava sérios problemas de umidade: os barrotes de sustentação haviam apodrecido, comprometendo a estrutura. A restauração incluiu a substituição de peças, impermeabilização da base e recuperação de parte da madeira original, reinstalada no altar-mor. Nesse espaço, uma marcação especial indica o local do antigo altar.
Na retirada do piso antigo, surgiram vestígios arqueológicos de versões anteriores da igreja, como fragmentos de tijolos e ladrilhos hidráulicos. Para preservar e dar visibilidade a esses remanescentes, foi instalada uma “janela de prospecção” em vidro, que permitirá aos visitantes observar parte da estrutura original. As descobertas já abriram novas linhas de pesquisa histórica e iconográfica sobre a edificação.
Comunidade, memória e continuidade
Mais de 30 profissionais – entre carpinteiros, pedreiros, engenheiros, arquitetos e técnicos – participaram diretamente da obra. Durante o processo, a Catedral atravessou momentos marcantes, como a missa de corpo presente de Dom Jaime. Agora, o primeiro casamento após a restauração já está marcado para o dia 27 de setembro.
Com expectativa de durabilidade de várias décadas, o piso terá manutenção permanente. A última grande intervenção havia ocorrido na década de 1930, registrada como onerosa à época.
Próximas etapas
Concluída a restauração do assoalho, os trabalhos seguem com foco na cobertura – em especial na nave lateral norte – e, posteriormente, na cúpula, cuja obra já está aprovada e deve iniciar no final deste ano ou início de 2026. Quando finalizada, a Catedral terá toda a parte externa restaurada, incluindo fachadas e torres.