Com 580 unidades habitacionais, Pelotas ocupa a sétima posição no ranking de cidades da Região Sul do país que mais lançaram imóveis econômicos no primeiro semestre de 2025. A Princesa do Sul é a terceira cidade do Estado no ranking – atrás de Canoas (1.274) e Porto Alegre (1.131). O levantamento foi feito pela Brain Inteligência Estratégica. Conforme especialistas, a colocação seria resultado da oferta de crédito consolidada e da aplicação de políticas públicas, como o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV).
De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria da Construção e Mobiliário de Pelotas e Região (Sinduscon), Marcos Fontoura, a cidade sempre foi destaque neste setor da construção e as empresas associadas do município possuem grande especialidade neste tipo de obra.
Fontoura ainda ressalta que é possível avançar mais nas construções, principalmente nas faixas de renda mais baixas do MCMV. Ele destaca a lei aprovada em abril deste ano, que concede isenções para a construção civil de moradias populares das faixas 1 e 2 do programa MCMV, mas também aponta a necessidade de foco na agilidade nas construções e no licenciamento desses edifícios por parte do governo.
Por outro lado, Fontoura critica o decreto recente que alterou um artigo do Plano Diretor do município que regulamenta as construções em áreas baixas e alagadiças. Segundo ele, articulações como esta abalam a relação entre as empresas e o Executivo. “Isso traz insegurança jurídica e falta de confiança para os empresários”, afirma ele. “Para ampliar esse tipo de obra, o governo precisa ser protagonista, criando um ambiente propício para que isso aconteça. Fomentando a construção e não restringindo”, completa.
Economia local voltada ao setor
O professor de Economia na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Marcelo Passos, acrescenta outros dois fatores para este resultado no ranking. O primeiro é a oferta de crédito consolidada. Ele explica que a população de Pelotas, especialmente os mais ricos, possuem um volume de poupança muito elevado e muitas famílias tradicionais herdam terras e vivem do arrendamento ou da produção dessas propriedades. Como resultado, possuem rendas mensais mais elevadas e precisam canalizar essas poupanças em investimentos. Historicamente, esse crédito tem sido direcionado ao comércio e ao setor da construção.
O segundo é o programa Minha Casa, Minha Vida. Com a recente ampliação da faixa de renda para até R$ 12 mil mensais, foram incluídas no programa famílias de classe média e permitido o financiamento de imóveis novos ou usados – e reformas – de até R$ 500 mil com uma taxa de juros nominal de 10% ao ano – inferior à atual Taxa Selic de 15%. Segundo Passos, esse tem sido um incentivo para as famílias de classe média e classe média-baixa. A expectativa, quando o programa foi lançado, era beneficiar cerca de 120 mil famílias ainda em 2025. Ainda, de acordo com o levantamento da Brain, 24% das unidades habitacionais à venda no RS são MCMV – a maior fatia do mercado imobiliário gaúcho.
Outro ponto destacado é o preço dos terrenos em Pelotas que ainda favorece a construção de imóveis, comparado a cidades maiores, como Porto Alegre ou Caxias do Sul.
O economista explica que esta combinação impulsiona naturalmente os investimentos na construção civil e aponta para a tendência de aumento a partir de uma possível futura queda da Taxa Selic. “Com uma Selic menor, a taxa de juros de 10% do programa Minha Casa, Minha Vida – Classe Média também poderá ser reduzida, tornando o financiamento ainda mais atrativo”, acrescenta.