O cultivo do morango vem ganhando cada vez mais destaque em Pelotas. Atualmente, o município reúne o maior número de agricultores do Estado e está entre os quatro maiores produtores da fruta no RS. Para a safra 2025/2026, a expectativa para os 43,5 hectares plantados é de colher 1.740 toneladas.
São 230 produtores dedicados à cultura do morango. Segundo o chefe do Escritório Municipal da Emater, Rodrigo Prestes, o aumento da adesão está ligado às novas tecnologias adotadas, como o cultivo em sistema suspenso, que facilita o manejo e os tratos culturais, além do uso de estufas e bancadas.
“O sistema realmente facilita a questão da ergonomia, dando mais conforto ao trabalho. Acreditamos que esse foi um dos fatores que favoreceu o crescimento, com mais produtores entrando na atividade”, avalia Prestes.
Outro fator responsável pelo aumento da produtividade é o clima. De acordo com o produtor Marcos Daniel Nornberg, o morango precisa de sol para alcançar boa qualidade. “Também é importante para a firmeza e a doçura da fruta. Desde o começo desta safra, tivemos poucos dias de chuva, o que reduziu as perdas na floração”, explica.
A presença do frio, sem grandes variações de temperatura, beneficiou o cultivo de morango, uva e pêssego. “O inverno ocorreu dentro da normalidade, com o frio aparecendo no momento certo, o que beneficiou a cultura. Já é possível notar um aumento da oferta da fruta e, como reflexo disso, a redução no preço”, acrescenta Prestes.
Tradição familiar e renda extra
Após anos fora de Pelotas, Nornberg retornou ao município e decidiu dar prosseguimento ao cultivo iniciado pelo pai. Há cinco anos trabalhando com a fruta, mantém nove mil plantas e, até 2024, produzia apenas no solo.
“Como conseguir mão de obra está cada vez mais difícil, acabei adotando a produção somente em bancada. Este será o primeiro ano nesse sistema”, relata.
A fruta é comercializada diretamente em feiras livres. “Sempre tento voltar minha produção para a venda direta ao consumidor”, conta. Além do morango, ele cultiva milho-doce e hortaliças como brócolis, couve-flor, alface e temperos.
Para a produtora Patrícia Peil Gonçalves, o morango representa renda extra, já que a família também se dedica ao plantio de fumo. “A safra de morango possibilita ter uma renda todos os meses. O fumo, a gente planta, colhe e só consegue comercializar entre abril e junho”, explica. Cultivando desde 2016, Patrícia adotou o modelo de estufa e hoje tem nove mil pés plantados.
Novos cultivares são destaque
Segundo Nornberg, a entrada de novos cultivares ampliou as opções de plantio, como variedades de dia curto e de dia neutro. “Os de dia curto são mais apropriados para o cultivo no solo. Já os de dia neutro têm ganhado espaço por prolongarem a produção”, afirma.
Entre eles, a variedade San Andreas, de dia neutro, vem permitindo colheita praticamente o ano todo. “É a cultivar mais utilizada, praticamente todas as estufas novas optam por ela”, informa Prestes.
De origem americana, a San Andreas é produzida em viveiros da Argentina, Chile e Espanha. Prestes ressalta que os produtores reivindicam uma cultivar nacional. “A Fênix foi lançada há pouco tempo e já vemos muitos agricultores destinando parte da área para ela”, destaca.
Diferente da San Andreas, a Fênix é de dia curto, produzindo na janela tradicional da safra, de setembro a dezembro. “É um produto colhido cedo e, muitas vezes, vendido ainda pela manhã. O consumidor reconhece isso como qualidade”, comenta Prestes.
Profissionalização do produtor
Aliada aos novos cultivares e ao clima, a profissionalização dos produtores também contribui para o cenário positivo da safra. A Emater, por exemplo, promove cursos de formação no sistema semi-hidropônico. “Nosso produtor tem buscado capacitação, utilizando tecnologias e insumos no momento certo. Isso reflete na qualidade e no tamanho da fruta”, aponta Prestes.
Ampliação de mercados
Além da Feira Municipal do Morango, que deve iniciar nas próximas semanas, o aumento da produção também pressiona pela busca de novos mercados. “Já percebemos a necessidade de ampliar a comercialização. Alguns produtores vendem em municípios vizinhos, como Santa Maria e Bagé”, relata Prestes.
Para ele, o reconhecimento de Pelotas como polo produtor de morango é fundamental. “São 230 famílias envolvidas. O morango entra muito bem na matriz produtiva, com possibilidade de diversificação em outras culturas”, conclui.