Acolhimento LGBT e liderança feminina são destaques na Diocese Anglicana de Pelotas

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Acolhimento LGBT e liderança feminina são destaques na Diocese Anglicana de Pelotas

Primeira acólita travesti e segunda bispa mulher do Brasil simbolizam avanços na inclusão e na igualdade dentro da Igreja

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Acolhimento LGBT e liderança feminina são destaques na Diocese Anglicana de Pelotas
Ao lado de Caliandra está a bispa Meriglei Borges da Silva Simim, primeira mulher a liderar a Diocese Anglicana de Pelotas e segunda bispa anglicana eleita no Brasil (Foto: Henrique Risse)

Lina, travesti, autista e acólita (função semelhante à de coroinha) da Catedral Anglicana de Pelotas, enfrenta os desafios diários para se afirmar na comunidade de fé, ao mesmo tempo em que constrói um grupo de acolhimento para pessoas LGBT. Ao seu lado, a bispa Meriglei Simim, primeira mulher a ocupar o cargo na Diocese de Pelotas e uma das pioneiras no Brasil, reforça o compromisso da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) com a inclusão, a diversidade de gênero e a igualdade dentro da religião.

Caliandra Porcellis, 27 anos, apelidada carinhosamente de Lina, é natural de Pelotas e encontrou a comunidade da IEAB em 2022, quando morava em Florianópolis, capital de Santa Catarina. Este encontro aconteceu após percorrer por várias religiões até se identificar com a fé anglicana – religião em que foi batizada aos seus dez meses de idade. “Foi a única fé que realmente me acolheu”, afirma.

De volta a Pelotas em dezembro de 2023, começou a frequentar a Catedral do Redentor, conhecida como Igreja Cabeluda, onde pediu para integrar o acolitato, serviço de apoio ao clero durante a liturgia. “O clero me recebeu de braços abertos. Já alguns leigos, especialmente os mais velhos, precisaram de tempo para se acostumar com a minha presença. Hoje tenho uma boa relação com todos”, conta.

Acolhimento institucional

O compromisso com o acolhimento de pessoas LGBTs não é novo dentro da fé anglicana. No entanto, foi estabelecido como regra no país junto com a aprovação do casamento igualitário, no Sínodo de 2018, pela IEAB. O primeiro casamento LGBT na fé anglicana no Estado aconteceu em Porto Alegre, em janeiro de 2019.

Também fazendo um marco na história, Lina é a primeira acólita travesti da Diocese Anglicana de Pelotas. Ela organiza um grupo LGBT dentro da Catedral com encontros regulares, às quartas-feiras. Esse trabalho inspirou Lina em sua vida profissional. Vestibulanda, ela almeja a graduação em Assistência Social. “Antes, eu não tinha nenhum sonho definido. Mas percebi, por meio da experiência, que tenho aptidão e desejo de ajudar a sociedade”, relata.

Ela declara que não espera mudar o mundo inteiro, mas será muito realizada em conseguir mudar a vida de algumas pessoas. “Às vezes, mudar uma única realidade já é suficiente – e isso, para mim, basta”, conclui.

Segunda bispa anglicana do Brasil

Ao lado de Lina está a bispa Meriglei Borges da Silva Simim, primeira mulher a liderar a Diocese Anglicana de Pelotas e segunda bispa eleita no Brasil. Ordenada em 2019, após três décadas de ministério diaconal, ela recorda os ataques virtuais sofridos quando assumiu o cargo. “Fui chamada de ‘figura do diabo’. Pensei em desistir várias vezes, mas acreditei no desafio de ser Igreja que acolhe e rompe estruturas”, relata.

No Brasil, a ordenação feminina – diaconato, presbiterado e episcopado – foi aprovada em 1984, mas apenas em 2018 a IEAB elegeu sua primeira bispa, Marinez Rosa Bassotto, em Belém. Hoje, são três: Marinez, Meriglei e Magda Guedes, no Paraná.

Meriglei acredita que o olhar feminino traz contribuição única à Igreja. “A mulher tem uma sensibilidade mais acolhedora. Enquanto os homens costumam olhar numa única direção, nós conseguimos enxergar de forma mais ampla e fazer várias coisas ao mesmo tempo”, defende.

Retomando a importância de romper barreiras, a bispa cita a ordenação feminina e o casamento igualitário como desafios necessários. “Precisamos crer que esse é o evangelho que Jesus nos convida a viver: perdoar, aceitar, acolher. Se não praticarmos isso no dia a dia, estaríamos indo contra aquilo que pregamos”, conclui.

A Diocese Anglicana de Pelotas ainda possui duas reverendas, Maria Isabel Lima e Carmem Rodrigues; a reverenda emérita Zoar Coimbra Gonçalves. Também teve a reverenda Ilaine Schornak, já falecida.

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