Com 100 anos – completados nesta segunda-feira (15) -, dona Geni Rodrigues Lobo segue lúcida, bem-humorada, decidida e apaixonada pelo futebol. Viúva do ex-jogador e técnico Paulo de Souza Lobo, o Galego, relembra conquistas, histórias e carnavais. Torcedora do Esporte Clube Pelotas e do Grêmio, também reserva lugar no coração para a Malgi, equipe de futsal criada pelo neto Maurício Giusti.
Nascida em 15 de setembro de 1925, cresceu em Pelotas em condições simples, ajudando a avó a preparar marmitas para sustentar a família. Morou nos bairros Barros Cassal e Simões Lopes, onde a família permanece até hoje.
Amor pelo futebol e pelo marido
O gosto pelo futebol surgiu ao conhecer Galego em uma partida no antigo estádio do Clube Atlético Bancário. Ele marcou o gol da vitória e encantou a moça, dando início ao namoro que resultou no casamento em 10 de setembro de 1949. Juntos tiveram três filhos: Luiz Alberto (1950), Gilson Brasil (1954) e Carmen Lúcia (1958). Dona Geni recorda, com humor, que estava no Carnaval na véspera do nascimento da filha.
Galego e Geni viveram 47 anos juntos. Apesar da distância, quando ele trabalhava em Bagé, a família desfrutava da vida confortável proporcionada pelas conquistas do marido, incluindo carro, terreno e prêmios extras, os chamados “bichos”.
Vivendo intensamente
Sempre presente nos carnavais, dona Geni montava camarotes em casa para assistir aos desfiles, participava dos eventos da cidade e até acompanhava os jogos. “Foi uma vida muito bem aproveitada”, garante ela. Após os filhos nascerem, passou a ouvir os jogos no rádio, especialmente na Rádio Pelotense, que também completou 100 anos em 2025.
Vida ativa e independente
Mesmo com a idade avançada, mantém autonomia: anda pela casa, faz tricô, joga cartas, usa o computador, assiste TV e lê o jornal diariamente – é assinante do A Hora do Sul desde o primeiro dia e não perde nenhuma edição. Além disso, tem uma memória invejável e é extremamente caprichosa e organizada: sabe onde está cada medalha, faixa e troféu do marido – tudo guardado com muito carinho.
Acompanhando de perto a vida da família, ela mantém vínculo com os oito netos e nove bisnetos. “Ela participa de tudo, sem deixar que a idade defina seus limites”, diz o filho Gilson. Bem-humorada, dona Geni brinca sobre a vida e a morte, em meio a risadas e lembranças.
Paixão que segue em família
Dona Geni também apoia a Malgi, equipe de futsal, fundada e coordenada pelo neto Maurício. Assiste aos jogos pelo YouTube, celebra vitórias e lamenta derrotas. “Desde sempre ela apoiou, é sócia há muito tempo e se orgulha disso”, conta o neto. Ele lembra que a ligação com o futebol vem dos avós: “A família respirou futebol por muito tempo e foi nosso sustento. Estamos dando continuidade a esse legado”.
Quem foi Galego?
Paulo de Souza Lobo, o “Galego” (1923–1996), nasceu em Piratini e construiu a carreira em Pelotas. Como jogador, atuou como meio-campista no Brasil entre 1944 e 1953, disputando 185 partidas e marcando 76 gols. Uma lesão precoce encerrou sua trajetória nos campos, mas abriu caminho para a carreira de treinador.
Galego comandou clubes como Grêmio Esportivo Brasil, Esporte Clube Pelotas, Grêmio Atlético Farroupilha, Football Club Rio-Grandense, Sport Club São Paulo (de Rio Grande) e Grêmio Esportivo Bagé, onde fez história com 405 jogos e recebeu a cidadania bageense. Também recebeu o título de cidadão pelotense e foi agraciado com a Figueira de Bronze. Reconhecido pelo cuidado com atletas, liderança e dedicação, atuava como técnico, conselheiro e mentor dentro e fora de campo, criando laços duradouros com jogadores.
Em mais de 40 anos de carreira, treinou sete clubes e seleções gaúchas, e conquistou títulos municipais, regionais, estaduais e do interior. Galego morreu em 9 de outubro de 1996.