80% dos pacientes com SRAG nas UPAs não se vacinaram

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80% dos pacientes com SRAG nas UPAs não se vacinaram

Idosos e crianças lideram os casos graves em Pelotas e Rio Grande

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80% dos pacientes com SRAG nas UPAs não se vacinaram
A vacinação em crianças caiu para 38% (Foto: Jô Folha)

Mesmo com a passagem do período mais rigoroso do inverno, a Zona Sul continua em alerta por conta das Síndromes Respiratórias Graves (SRAG). A 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (3ª CRS) já registra mais internações e mortes do que em 2024, mesmo antes do fechamento do ano. Entre janeiro e setembro de 2025, as internações cresceram 56%, totalizando 734 pacientes, e as mortes chegaram a 138 pessoas. Especialistas apontam como causa a baixa adesão dos grupos prioritários à vacina contra a influenza.

Em Pelotas, o Painel de Hospitalizações por SRAG do governo do Estado registrou 126 internações até setembro, com destaque para crianças menores de um ano (60 casos) e idosos entre 60 e 79 anos (22 casos). Dos 20 óbitos, metade foi de pacientes destas faixas etárias. A ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) também aumentou, passando para 67,46%, um crescimento de 23 pontos percentuais em relação ao ano anterior.

Já em Rio Grande, os dados do Boletim Epidemiológico do dia 6 apontam um aumento de quase 77% nas hospitalizações, com 382 casos, e crescimento de 54,5% nos óbitos, totalizando 34 mortes. Ao contrário de Pelotas, a ocupação de UTIs caiu, de 34,26% para 26,60%.

Menos imunizados, mais hospitalizados

A baixa adesão à vacinação é apontada como fator importante para o aumento de casos graves. Segundo Vera Neto, coordenadora da Vigilância em Saúde de Pelotas, estima-se que 80% das pessoas que procuram Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) sejam pacientes com SRAG que não se vacinaram. “Ficamos muito angustiados com isso, porque disponibilizamos uma maneira de não ter que procurar o PS; sempre disponibilizamos as vacinas. Se você está vacinado, é menos um no PS”, explica.

Na região, até setembro de 2025, foram aplicadas cerca de 275,7 mil doses da vacina contra a influenza, um aumento de 40% em relação a 2024. Porém, a cobertura entre os grupos prioritários (idosos, crianças e gestantes) ainda está abaixo do ideal de 90%, alcançando apenas 49,90%.

Em Pelotas, 105.463 pessoas desses grupos foram vacinadas, cerca de 32 mil a mais do que no ano passado. A cobertura vacinal de idosos e gestantes subiu para 51,11% e 19,27%, respectivamente, mas a vacinação em crianças caiu para 38%. Em Rio Grande, já foram aplicadas 73 mil doses, quase o dobro do ano passado, com cobertura de grupos prioritários subindo para 55,43%.

Vera alerta que vacinar-se é uma forma de reduzir a procura por UPAs e Prontos Socorros, liberando leitos para pacientes graves e evitando agravamentos.

Resistência às vacinas

Apesar de mais de 50 campanhas presenciais em locais estratégicos, o número de imunizados em Pelotas ainda não atingiu as metas. A coordenadora da Vigilância em Saúde relembra a última ação no Parque da Baronesa, onde, em oito horas, apenas 12 pessoas se vacinaram.

A coordenadora da Casa da Vacina de Pelotas, Jaqueline Tomaschewski, aponta que a desconfiança e o medo construídos nos últimos anos impactam a adesão. “De uns anos para cá surgiram muitas falas de que vacina mata ou faz mal. Isso acabou influenciando as pessoas a deixarem de se vacinar. Por isso, quando o paciente chega, procuramos sentar, conversar e explicar a situação com calma”.

Por que se vacinar?

A vacina contra a gripe protege contra os vírus A e B, que mudam de cepa a cada ano. A imunização anual é necessária para prevenir epidemias e reduzir casos graves. Mesmo vacinados, os pacientes podem ter um resfriado, mas as chances de infecção, agravamento e internação diminuem significativamente.

O imunizante é recomendado especialmente para idosos, crianças e gestantes, e pode ser aplicado a partir dos seis meses de idade. Está disponível nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Casas de Vacinas e outros estabelecimentos médicos, como o Ambulatório da Universidade Católica de Pelotas e o consultório de Enfermagem da Faculdade Anhanguera.

Julia Bezerra fez sua parte na imunização de seu filho Isaac, de 8 meses. “Eu trouxe ele porque estava com uma vacina atrasada. Aproveitei a ida e já fiz a da gripe, porque me orientaram e achei importante”, relatou a moça.

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