Integrando o grupo de compositores pelotenses que vai representar o Rio Grande do Sul na escolha do hino da Portela para 2026, com a obra Samba dos Lanceiros, Chico Professor conversou com o jornalista Pedro Petrucci, apresentador do Jornal da Tarde, sobre a criação da canção que celebra a resistência, a cultura e a força dos negros gaúchos.
Além de Chico, fazem parte do grupo de compositores Daiane Molet, Anderson Xilico, Fagner Presidente, Fred Feijó, Marcéle Salles e Maninho Veiga. Vencedora da seletiva gaúcha no último domingo, a equipe agora segue para a fase nacional.
Qual a expectativa de vocês para a próxima etapa?
Foi um dia mágico, já que o samba vinha sendo trabalhado há dois meses. Estamos com uma expectativa positiva de realizar uma boa apresentação na semifinal do Rio Grande do Sul. Fizemos uma boa performance, o que nos deixou bastante confiantes. Entretanto, disputa de samba-enredo sempre é um momento muito tenso: tudo precisa dar certo, e competimos com outros três sambas, todos tentando viver o mesmo sonho que o nosso. Levamos um ônibus com 60 pessoas, e foi uma festa muito bonita.
Como surgiu a ideia de criar o samba-enredo para a Portela com expressões características do Rio Grande do Sul?
O samba-enredo fala das nossas coisas, da nossa gente, e estamos em um lugar privilegiado para escrever sobre isso. Por ser uma parceria gaúcha, acreditamos que uma das diferenças do nosso samba é justamente usar linguagens e elementos locais, do nosso cotidiano. São referências que compositores de outros lugares não têm acesso. Por isso, investimos em um vocabulário mais gaúcho em alguns trechos, mas sempre cuidando para manter a compreensão de quem é de outras regiões do país.
Qual é o mistério do Príncipe do Bará?
O Príncipe é uma figura mítica, cercada de mistérios. Como ele chega aqui? Ele entra por Rio Grande, passa por Pelotas e depois se estabelece em Porto Alegre. Sendo príncipe, como consegue ter relação com a burguesia e a elite e, ao mesmo tempo, manter proximidade com os seus? Como diz o samba, ele peleou muito para alcançar isso, porque, no mesmo espaço em que recebia celebridades políticas e figuras da elite financeira do Estado, também abria os fundos da casa para acolher pessoas do processo de escravização, permitindo que manifestassem as diferentes culturas trazidas da África. A figura do Príncipe é envolta nesses contrastes e mistérios.
Como será a etapa final de classificação?
O processo funciona assim: a Portela abriu a possibilidade da etapa gaúcha. No Rio Grande do Sul, foram nove obras inscritas; no Rio de Janeiro, 27. Enquanto acontecia a seletiva aqui, as eliminatórias seguiam no Rio. Hoje ocorre a última fase por lá. No dia 14 de setembro, serão reunidos os sete sambas já classificados, o nosso e os que forem definidos hoje – ao todo, 15 sambas. Depois, a semifinal será no dia 21, e, para a final, no dia 26, acreditamos que eles devem selecionar de três a quatro sambas. Estamos sonhando alto. Acreditamos que o samba pode nos levar um pouco mais longe.