O Samba dos Lanceiros, do grupo de compositores de Pelotas formado por Daiane Molet, Anderson Xilico, Chico Professor, Fagner Presidente, Fred Feijó, Marcéle Salles e Maninho Veiga, venceu a seletiva gaúcha do concurso de samba-enredo da Portela. A conquista aconteceu neste final de semana, na quadra da Imperadores do Samba, em Porto Alegre. As quartas de final serão realizadas na quadra da escola, em Madureira, no Rio de Janeiro, no domingo.
O concurso regional, que garantiu a vaga na disputa nacional da Portela, começou no mês de agosto, dias 24 e 31. Até o final deste mês será escolhido o samba-enredo de 2026, que terá o O Mistério do Príncipe do Bará — A oração do negrinho e a ressurreição de sua coroa sob o céu aberto do Rio Grande, que homenageia Custódio Joaquim de Almeida, o Príncipe Custódio, celebrando a ancestralidade negra e o Batuque no Rio Grande do Sul. Além da classificação, o grupo também recebeu o convite para integrar a ala de compositores da Portela, considerada a mais tradicional do país, o que deixou o grupo mais feliz ainda.
União na pandemia
A parceria surgiu ainda na pandemia, quando a Estação Primeira de Mangueira abriu espaço para compositores de todo o Brasil, sem custos de inscrição, em 2021. “A disputa do samba enredo é muito cara, fica em torno de R$ 100 mil a R$ 200 mil”, explica um dos compositores, Fred Feijó.
Detalhes, como a gravação de áudio em estúdio e vídeo, mais confecção de camisetas para a torcida e cachê dos cantores e instrumentistas, por vezes, tornam a inscrição de uma composição inviável. Na época em que a Mangueira abriu a competição para compositores de todo o país, a apresentação do samba era online e gratuita. “Resolvemos arriscar”, conta Feijó.
De lá para cá, o grupo acumulou experiências: chegou às oitavas de final na Mangueira naquele ano, chegando à frente do grupo de compositores que tinha vencido na mesma entidade anteriormente. Também teve a alegria de ter seu samba embalando o campeonato de 2022 da Escola Imperadores do Samba, de Porto Alegre.
Agora, pela primeira vez, encara a tradicional e campeoníssima Portela. “Competimos em 2023 na Imperadores, perdemos. É uma aposta. Aí surge a Portela com um enredo falando da negritude gaúcha”, relembra.
Segundo o músico, a Portela pretende mostrar ao Brasil a história negra do Estado, por isso escolheu como símbolo o Príncipe Custódio. “Personagem quase esquecido da história do Rio Grande do Sul”.
Pesquisa premiada
Entre os compositores do Samba dos Lanceiros está a pesquisadora e historiadora Claudia Daiane Molet, Pró-Reitora de Ações Afirmativas e Equidade da UFPel. A doutora lançou em 2019 o livro O litoral negro do Rio Grande do Sul, a partir da sua tese de doutorado, premiada pela Capes na área de História. A obra baseia parte do enredo que a Portela vai desenvolver na passarela da Marquês de Sapucaí.
“Estamos muito felizes, porque a gente sabe que está levando as escolas de samba (de Pelotas) junto e todo o trabalho que a gente tem feito, porque também participamos, de algumas instituições carnavalescas, participamos dentro do samba, é uma honra muito grande”, fala a Pró-Reitora, Daiane Molet.
Para a pesquisadora, o enredo da Portela está dando um grande destaque também a todo o estudo que vem sendo produzido no Rio Grande do Sul há muito tempo sobre a trajetória afro-gaúcha. “A parte relacionada aos quilombos, principalmente, onde eu falo da devoção de Nossa Senhora do Rosário, tanto no maçambique de Osório, quanto no quicumbi de Mostadas e de Tavares, é uma parte que está no enredo da Portela”, comenta.