Rua Doutor Cassiano: da quitanda ao Senado

Opinião

Ana Cláudia Dias

Ana Cláudia Dias

Coluna Memórias

Rua Doutor Cassiano: da quitanda ao Senado

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Há 210 anos

A atual rua Doutor Cassiano, em Pelotas, guarda na sua história um retrato vivo da formação da cidade e de seus personagens ilustres. Ela estava presente na planta de 1815, que demarcou os lotes urbanos do capitão-mor distrital Antônio dos Anjos, o “Fragatinha”, porém a via nasceu como rua da Quitanda ou rua do Padeiro. Ali, vendedores de hortaliças, frutas e cachaça dividiam espaço com padeiros que ofereciam pães e bolachas em meio à tranquilidade de um bairro em formação. Pouco mais de um século depois, recebeu como patrono o senador morto em 1912.

Na época, a rua não avançava até a Marcílio Dias, estacando duas quadras antes, no ponto hoje conhecido como Santos Dumont. A região, chamada “Cerquinha”, era protegida por um aterro coberto por salsos, bambus e figueiras, erguidos para conter as águas do arroio Santa Bárbara. Foi nessa área que floresceu, mais tarde, o bloco carnavalesco Girafa da Cerquinha.

Em 1869, no calor das lembranças da Guerra do Paraguai, a rua ganhou o nome Dezesseis de Julho, em homenagem ao feito militar do general Osorio na tomada de Humaitá. Apenas no século 20 recebeu a denominação atual, prestando tributo ao pelotense Alexandre Cassiano do Nascimento (1859-1912), advogado, político e ministro no governo Floriano Peixoto.

Sete Pastas

Conhecido nacionalmente como o “Ministro das Sete Pastas” — referência à sua influência sobre praticamente todos os ministérios da época —, Cassiano do Nascimento teve uma trajetória marcada pelo engajamento republicano. Formado em Direito em São Paulo, retornou a Pelotas em 1884, onde se uniu a líderes como Álvaro Chaves na organização do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR).

Após a Proclamação da República, Cassiano tornou-se figura central na vida política gaúcha e nacional. Em 1909 assumiu uma cadeira no Senado, após a morte de Júlio Frota, e foi reeleito em 1912 com expressiva votação. Durante sua atuação parlamentar, apresentou projetos de lei relevantes, entre eles a criação de moradias populares para trabalhadores e o aumento do contingente de guardas na fronteira gaúcha para combater o contrabando — problema crônico que prejudicava a economia local.

Trajetória encerrada em setembro

Senador não completou o mandato (Foto: Reprodução)

No entanto, sua carreira foi interrompida de forma abrupta. Em 9 de setembro, Cassiano faleceu repentinamente, menos de um mês após propor a última emenda no Senado. Sua morte causou forte repercussão em Brasília e consternação em Pelotas, que perdia um de seus mais importantes representantes políticos.
Mais de um século depois, a rua Doutor Cassiano segue sendo não apenas um espaço urbano, mas também um testemunho da história da cidade e da trajetória de um pelotense que alcançou projeção nacional.

Fontes: Os passeios da cidade antiga – Guia Histórico das ruas de Pelotas, de Mario Osorio Magalhães; artigo A atuação do pelotense Alexandre Cassiano do Nascimento no Senado Federal (1910-1912), de Larissa Copatti Dogenski e Paulo Ricardo Pezat, para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas

Há 100 anos

Direção da Bibliotheca prepara quermesse literária para celebrar o jubileu de ouro

Para celebrar os 50 anos da Bibliotheca Pública Pelotense, a diretoria da instituição resolveu celebrar o jubileu de ouro com uma programação especial. Uma das atividades foi uma quermesse literária em favor do fundo social da instituição. O evento foi programado para acontecer na primeira quinzena de outubro de 1925.

Bibliotheca vai completar 150 anos (Foto: Jô Folha)

Para realizar o evento, a diretoria buscou entre os associados a doação de títulos do empréstimo de 1910. “Até agora não houve uma única recusa, por parte dos possuidores daqueles títulos”, comunicou a direção à imprensa.

Além da doação de obras, o vice-presidente da Bibliotheca, capitão Carlos Giacoboni, aproveitou uma viagem ao Rio de Janeiro para solicitar a doação de livros pelas livrarias Quaresma, F. Briquiet e Leite Ribeiro. A prefeitura, então distrito federal, ficou de enviar uma coleção de obras publicadas por ela.

Boas notícias

Outra boa notícia foi a manutenção das aulas noturnas, que continuavam com boa frequência. A escola que funcionava na Bibliotheca tinha estado ameaçada por falta de recursos, porém o médico Edmundo Berchon des Essarts se responsabilizou por fazer os pagamentos dos dois professores, que estavam atrasados desde julho. O cirurgião também destinou 5% do rendimento da Fundação Dona Antonia, que acabava de ser instituída, à Bibliotheca Pública Pelotense.

Sesquicentenário

A Bibliotheca Pública Pelotense aniversaria em 14 de novembro e neste ano chega aos 150 anos de atividades.

Fonte: Diário Popular/Acervo Bibliotheca Pública Pelotense

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