Morando atualmente no Pará, o rapper e poeta pelotense, Didi Metamorfose, vem transformando a rima da vivência amazônica em prosa. Sua segunda obra, Helianto Negro, foi lançada recentemente e está disponível no link http://bit.ly/427KHen. Assim como no grupo Metamorfose MCs, espaço usado para protestos e desabafos, a publicação também registra sua voz crítica e a favor da autonomia e da resistência negra.
Como o livro foi construído?
É minha segunda publicação e meu primeiro livro solo de poesias. O livro reúne poesias, protestos e desabafos. Nasceu com a minha caminhada no rap em meados de 2010, quando eu comecei a gravar, passando pela poesia cantada, escrita, começando esse processo de metamorfose.
Como foste morar na região amazônica?
Eu sou natural de Pelotas, local onde construí toda a minha caminhada. Em 2017, morei por dois anos em Florianópolis, retornei para a minha cidade natal por mais quatro anos e, no começo do ano passado, conheci a minha companheira, que é escritora e curadora na vila de Alter do Chão, município de Santarém, no Pará. Nos tornamos amigos, depois houve o convite para trabalhar com ela. Eu vim também para conhecer a região, visto que a minha carreira em Pelotas permitia isso. Me apaixonei pela Amazônia.
Sobre o que trata teu primeiro livro?
É uma antologia chamada Fogo Lava a Água. Reúne poemas inspirados por diferentes experiências, incluindo vivências ligadas à Amazônia e à floresta. A publicação contém a participação de diversos autores do Brasil e foi editada pela Editora Primato, de São Paulo. Eu indico o livro especialmente para aqueles que querem conhecer um pouco mais da Amazônia e do Pará.
Como tu transformas o rap em poesia?
Eu não tive um passado de muito contato com livros. Minha vinda para o Pará propiciou essa troca com o pessoal da literatura e das artes. A ideia nasceu a partir de uma atividade: fazer rap a partir da temática amazônica. Fiz o rap chamado Fogo Lava Água, que começa com o rei Xangô, rei do fogo e da justiça, registra também o momento de queimadas na Amazônia e de muito descaso ocorrendo dentro da política. A partir desse rap, surgiu o convite para escrever mais poesia. Assim como uma música de rap, eu também consigo impactar com uma frase e uma folha.
Conheça abaixo uma das poesias do último livro:
Eu
Helianto Negro
no escuro ainda preto
não me vejo no espelho
enquanto penso
escrevo
percebo
encontrei na mata
meu sossego
na fauna
bacias hidrográficas
tomei da lava
no copo do vulcão mais quente
comi palavras
cuspi o veneno da serpente