A nutrição como ciência e sensibilidade

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A nutrição como ciência e sensibilidade

No Dia do Nutricionista, o destaque é para o trabalho de profissionais que promovem qualidade de vida através da alimentação

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Atualizado domingo,
31 de Agosto de 2025 às 09:48

A nutrição como ciência e sensibilidade
Para comer bem sem passar fome (Foto: Divulgação)

No dia 31 de agosto é celebrado o Dia do Nutricionista, uma data dedicada a homenagear profissionais que atuam na promoção da saúde por meio da alimentação. Em todas as fases da vida, a nutrição adequada é fundamental, mas ela ganha destaque especial durante o envelhecimento, quando a qualidade da dieta pode influenciar significativamente na prevenção de doenças e na manutenção da vitalidade. No campo acadêmico, é reconhecida por investigar a relação pessoa-alimento mediada por situações historicamente determinadas que envolvem aspectos biológicos, sociais e econômicos, e o estudo dos processos decorrentes da ingestão de alimentos, da biodisponibilidade de nutrientes, além da produção, distribuição e consumo desses alimentos.

A conselheira Regional de Nutrição 2ª Região, a nutricionista Carmem Kieling Franco, que é graduada em Nutrição pelo Instituto Metodista de Educação e Cultura, com especialização em Nutrição Clínica e Administração Hospitalar, destaca que a profissão vem conquistando reconhecimento crescente da sociedade. “As pessoas já começam a compreender o papel do nutricionista em uma alimentação saudável, seja individualmente ou coletivamente. O mercado de trabalho se expandiu muito. Além da nutrição clínica, há atuação no esporte, nas políticas públicas de saúde e também na alimentação coletiva, em restaurantes e refeitórios”, explica.

Ela lembra que, em casos recentes de interdição de estabelecimentos alimentícios em Porto Alegre, a presença de nutricionistas poderia ter reduzido os riscos. “A alimentação individualizada, que respeita o momento fisiológico e clínico de cada pessoa, promove saúde, ajuda a prevenir doenças e, quando elas já existem, permite conviver melhor com a situação. Esse trabalho pode garantir anos de vida com mais qualidade.”

Histórias que inspiram

O bancário aposentado Vilmar Vallenoto da Silva, 60, é um exemplo de como a orientação nutricional pode transformar a saúde. Após exames de sangue apontarem alterações em colesterol e triglicerídeos, ele procurou um cardiologista, que o encaminhou para acompanhamento nutricional.

Vallenoto consulta mensalmente (Foto: Divulgação)

“A adaptação foi gradual, sem mudanças radicais. Troquei margarina por manteiga, frios por ovos… cada vez um item de cada vez, o que tornou mais fácil incluir alimentos saudáveis no lugar dos menos recomendados”, relata.

Com o tempo, os resultados apareceram: exames melhoraram, a glicose ficou sob controle e as taxas laboratoriais alcançaram níveis ótimos. “Hoje consulto mensalmente para melhorar a forma física, mas sem esquecer o objetivo inicial. O principal benefício é que mantenho minha saúde sem precisar de medicamentos contínuos. Aos 60 anos, tenho pressão arterial, colesterol e glicose em níveis excelentes”, comemora.

Vallenoto ressalta que o acompanhamento se soma à prática de exercícios regulares. “Faço atividade física no mínimo cinco vezes por semana, às vezes seis. Sem o trabalho do nutricionista, eu não teria alcançado esses resultados. Continuamos juntos nesse objetivo de manter a qualidade de vida e buscar longevidade com saúde.”

Outro exemplo se soma aos de Vallenoto da Silva. Uma outra paciente, que prefere não se identificar, conta que sempre esteve acima do peso, mas ignorava os resultados dos exames de sangue e preferia tomar medicamentos para baixar os triglicerídeos. Aos 50 anos, teve uma crise de diverticulite e foi intimada pela gastroenterologista a baixar de peso. Em um ano, reduziu 20 quilos e hoje, com acompanhamento nutricional, tenta manter-se no peso que considera adequado, mas sempre com o acompanhamento nutricional. “O estresse do dia a dia é um gatilho perfeito para comer mais, mas para quem atinge qualidade de vida, reduz índices glicêmicos e melhora a autoestima, fazer restrições e manter a disciplina têm muito mais resultado.”

Reconhecimento

Dentro das comemorações à data, o Sindicato dos Nutricionistas do Rio Grande do Sul, entregou na sexta-feira o título Destaque em Nutrição ao pelotense Fabrício Degrandis, pelo destaque. Para o nutricionista, o reconhecimento da profissão representa mais do que uma conquista: é vocação. “Esse título é merecimento. Eu vivo e respiro a nutrição. Já ajudei milhares de pessoas e isso me motiva a ir além. Nutrição é meu motivo de vida”, afirma.

Profissional ajusta a dieta (Foto: Jô Folha)

Ele destaca que a individualidade do paciente é central no trabalho do profissional. “Cada pessoa é única. Ao respeitar isso, o nutricionista mostra um caminho mais simples e sustentável, vencendo velhos estigmas de que ‘dieta é difícil e chata’. O bom relacionamento com os pacientes é fundamental, eles acabam se tornando amigos a partir do momento em que confiam sua saúde a nós.”

Além da ciência, ele reforça a importância da sensibilidade humana no consultório. “Até sistemas de inteligência artificial podem cometer erros, inventando informações. O nutricionista, como ser humano, tem a sensibilidade para prescrever dietas de forma realista e que gerem adesão. Esse cuidado não pode ser substituído.”

A importância do acompanhamento profissional

A nutricionista Beatriz Vitola lembra que buscar orientação especializada é essencial para quem deseja emagrecer, tratar restrições alimentares ou seguir uma dieta específica. “Muitas pessoas recorrem a dietas da moda, que podem causar carências nutricionais e efeito sanfona. O papel do nutricionista é montar um plano individualizado, sustentável e saudável.”

Combinando saúde no prato

Nos casos de intolerâncias alimentares, como ao glúten ou à lactose, ela alerta que é comum retirar alimentos sem fazer substituições adequadas. “O nutricionista entra para ajustar a dieta, evitando sintomas e garantindo que todos os nutrientes essenciais continuem presentes.”

Quando o assunto é alimentação vegana, Beatriz esclarece que é possível seguir essa escolha em todas as idades, de crianças a idosos. “Organizações internacionais, como a Academy of Nutrition and Dietetics, reconhecem que dietas vegetarianas e veganas, quando bem planejadas, são seguras e nutricionalmente adequadas, podendo inclusive trazer benefícios para a prevenção de doenças crônicas.”
Entre os cuidados principais do veganismo está a atenção às proteínas. “Todos os alimentos vegetais possuem proteínas, mas é preciso combinar grupos para garantir todos os aminoácidos essenciais. Um exemplo clássico é o arroz com feijão, mas também valem outras combinações, como macarrão com lentilha, quinoa com ervilha ou aveia com grão-de-bico”, ensina Beatriz.

Ela sugere incluir alimentos como leguminosas, cereais integrais, chia, linhaça, frutas, verduras e legumes, especialmente os de coloração vermelho-alaranjada e os folhosos verde-escuros. “O importante é variedade, equilíbrio e, quando necessário, suplementação.”

Pelotas tem formação acadêmica na área há 50 anos

Mais do que calcular calorias ou montar cardápios, o nutricionista é um profissional que traduz ciência em cuidado humano. Ao considerar hábitos, cultura alimentar, condições de saúde e objetivos individuais, ele constrói estratégias que transformam a relação do paciente com a comida.

Curso de Nutrição foi criado em 1975 (Foto: Jô Folha)

O curso de graduação em Nutrição da Universidade Federal (UFPel) completa 50 anos em 2025. O objetivo é formar profissionais com embasamento teórico e conhecimento técnico para o desenvolvimento de tarefas relacionadas à condição de saúde e nutrição do ser humano, individual ou coletivamente. O currículo do curso é composto de disciplinas teóricas e práticas e exige ainda três estágios supervisionados, que têm por meta instrumentalizar o aluno para o exercício crítico de suas futuras atribuições, e para a incorporação cotidiana de novas tecnologias.

Os estágios supervisionados são realizados em serviços de alimentação para coletividades sadias; enfermas, em hospitais e ambulatórios; em serviços de saúde pública e programas comunitários. Os alunos têm à disposição um programa de orientação acadêmica e estimula o contato com os vários projetos de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos pela Faculdade, através de bolsas de Iniciação Científica, de Monitoria e voluntariado.

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