A prefeitura de Pelotas deve lançar, nas próximas semanas, o processo de licitação para a reestruturação da estrada que dá acesso ao Pontal da Barra do Laranjal. A intervenção contará com R$ 4,3 milhões já garantidos por meio de recursos da Defesa Civil Nacional. A expectativa é de que os trabalhos tenham início ainda este ano, após a conclusão dos trâmites legais.
A liberação dos recursos foi formalizada pelo secretário nacional da Defesa Civil, Wolnei Wolff, que esteve no município no fim de junho. Durante a visita, acompanhado do prefeito Fernando Marroni (PT), ele percorreu a estrada da Barra e a Colônia de Pescadores Z-3, duas das áreas mais impactadas pelas enchentes recentes.
“É para resolver, não será qualquer cheia que vai nos obrigar a refazer a estrada do Pontal”, afirma Marroni. Os recursos, segundo o prefeito, são destinados exclusivamente à reconstrução de estruturas afetadas pelas cheias do ano passado.
Projeto técnico
O projeto prevê a recuperação de 1,7 quilômetro de via, entre o trapiche do Valverde e o Pontal. A proposta técnica foi elaborada pela Secretaria de Urbanismo (Seurb) e inclui reforço estrutural com enrocamento, elevação da pista e aplicação de saibro compactado. O uso de asfalto ou concreto está descartado, tanto por razões ambientais quanto por exigências da Defesa Civil.
Segundo o titular da Seurb, Otávio Peres, o modelo projetado busca oferecer maior durabilidade e reduzir a necessidade de manutenção frequente. A estimativa é de que, após concluída, a estrada apresente melhores condições de tráfego e resistência em períodos de cheia.
Impacto para a comunidade
O Pontal da Barra reúne cerca de 70 famílias, em sua maioria dependentes da pesca artesanal, além de ser um espaço de lazer utilizado pela população da cidade. Moradora da região há mais de 25 anos, Elaine Kiesow lembra que a falta de acesso foi um dos maiores dramas enfrentados pela comunidade depois das ocorrências climáticas extremas.
“A água subiu, baixou, e a gente não tinha como voltar para casa, porque não havia estrada. Ficamos meses sem acesso. Com uma estrada boa, pelo menos, quando a água baixa, conseguimos retornar. Isso muda tudo”, diz.
Segundo ela, a dificuldade atravessou a vida de quase todos os moradores. “Teve gente que precisou ir para abrigo com criança pequena, sem poder levar os filhos para a escola. Alguns ficaram em casas de parentes, outros presos aqui dentro, sem conseguir sair. Era muito difícil”, ela lembra.
A luta pela estrada é antiga. Para Eliane, essa batalha dura desde 2002, quando passou a morar na Barra. Em comparação a outros moradores, ela pode ser considerada nova na região, mas sabe que a reivindicação vem de décadas. “Teve gente que morreu esperando por essa obra”, lamenta.
Com a liberação dos recursos, a mulher finalmente pode sentir o misto de alegria e expectativa que tanto aguardou. Enquanto alega felicidade, mas também torce para que a obra não seja alvo de burocracias e longas demoras. Para isso, já há o recurso garantido. Agora, é esperar a execução. “Finalmente, tem verba”, completa.
Economia e turismo
Elaine também cita o impacto que a reestruturação da via pode trazer para a economia local. Na sua opinião, muitas pessoas deixam de visitar a região da Barra por conta do acesso limitado. “Uma estrada melhor pode trazer de volta visitantes e clientes. Até o Restaurante do Nani (atualmente está no Laranjal), que era muito famoso e movimentava a Barra, pode retomar suas atividades. Isso vai fortalecer a região, o comércio e a venda do nosso peixe”, projeta.
