O espetáculo Axêro, criação do grupo Tatá de Dança e Teatro, dá continuidade à sua circulação por comunidades quilombolas no Sul do Brasil. A iniciativa integra o projeto Circulação em Quilombos no Sul do Brasil, que leva arte e formação cultural a seis municípios gaúchos com forte presença quilombola: Canguçu, Piratini, São Lourenço do Sul, Caçapava do Sul, Maquiné e Osório.
O projeto tem uma parada hoje em Osório para a realização da oficina Dramaturgia corpo-memória. O encontro ocorrerá, das 9h às 12h e das 13h30min às 16h30min, no Espaço Cultural Conceição. Amanhã, é a vez de Maquiné, das 10h às 12h e das 13h30min às 16h30min, na Sede da Comunidade Quilombola Morro Alto, na BR-101. Cada encontro é um convite à resistência, ao diálogo e à afirmação da cultura quilombola.
O projeto teve início em janeiro. “A gente começou o projeto nos conectando com as lideranças desses quilombos e elas nos indicaram mulheres, que se tornaram produtoras locais. Elas estão fazendo a produção dos espetáculos e do projeto, que tem as oficinas que a Gessi e o Jão ministram”, conta a professora e diretora artística do espetáculo Maria Falkembach.
Essas convidadas fizeram uma formação em produção cultural no início do ano e se tornaram a ponte com as cidades. Agora faltam somente estas duas cidades para finalizar a etapa das oficinas.
Turnê
A turnê segue em outubro, com apresentações em Caçapava do Sul, no dia 11, na EMEF Augusto Vitor Costa, no Barro Vermelho; em Maquiné, no dia 17, no CTG Devotos da Tradição; e em Osório, no dia 18, no Largo dos Estudantes Sônia Chemale. Esta última contará com acessibilidade em Libras e marcará o encerramento da circulação.
O espetáculo previsto para 30 de agosto em São Lourenço do Sul, no Ginásio da Comunidade Evangélica da Boa Vista, no 6º Distrito, também foi transferido para outubro. A nova data ainda não foi divulgada.
Espelho
Dirigido por Maria Falkembach, com texto e atuação de Gessi Könzgen e Jão Cruz, Axêro é definido pelo grupo como um ritual poético que celebra ancestralidades, denuncia violências e ressignifica a história de Pelotas a partir de corpos negros. No palco, a memória se transforma em resistência, revelando força e fé no enfrentamento ao racismo estrutural.
A construção dramatúrgica do espetáculo é coletiva, mas o texto e as canções de Axêro são da bailarina e atriz Gessi Könzgen, que buscou nas suas memórias a base para os relatos e reflexões que os atores fazem em cena. Gessi conta que transformar sentimentos e vivências pessoais em arte só foi possível por ela ter se sentido à vontade no grupo para se abrir.
Sobre o trabalho com os quilombos, Gessi comenta como ela escreveu sobre o racismo. “E as limitações que ele impõe na vida dos cidadãos negros pelotenses e brasileiros. Situações do cotidiano que aconteceram e ainda acontecem. A gente ainda está lutando pela vida. As pessoas se identificam com isso, a nossa fala é espelho”, fala.
Extensão e pesquisa
Desde sua fundação, há 16 anos, como espaço de Extensão e de Pesquisa da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o grupo Tatá já assinou obras como Tatá Dança Simões (2010), Terra de Muitos Chegares (2013) e Quando Você me Toca (2018). Em 2020, lançou seu primeiro videodança e, em 2022, adaptou Axêro para a linguagem audiovisual em Axêro – o filme. “O Tatá ainda é um projeto de Extensão, mas agora a gente tem um braço profissional, inclusive a Gessi faz parte, desde a primeira turma. A gente tem bastante gente formada que continua no grupo. A gente começou em 2009, exatamente quando começou o curso de Dança da UFPel”, conta a professora Maria.
A iniciativa integra a Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), com financiamento do Governo do Estado do Rio Grande do Sul (Pró-Cultura e Secretaria da Cultura) e realização do Grupo Tatá e do Ministério da Cultura.
