Está aberta à visitação a exposição Pequeno inventário de plateias, no espaço de Arte Daniel Bellora. O projeto dos pesquisadores Tainah Dadda (curadoria e pesquisa) e Renato Cabral (pesquisa e identidade visual), apresenta obras de dez artistas selecionados para produzir obras em diálogo com o projeto: Aline Golart, Amanda Assma, Bianca De-Zotti, Bruno Zeferino, Camila Cuqui, Fernanda Machado, Fernanda Moreira, Karine Cavalheiro, Lucas Lindo e Rafaela Barbosa.
Os artistas produziram pinturas, gravuras, uma xilogravura, três instalações, fotografias, publicações e uma arte têxtil que retratam a memória coletiva e afetiva das 30 salas de exibição, entre cinemas “de calçada”, e cineteatros, que mobilizaram a sociedade e o espaço urbano a partir de 1910.
O que é o Pequeno Inventário de Plateias?
Resumindo, que de pequeno, é só no nome porque é um trabalho extenso que envolveu pesquisa documental, uma primeira etapa de escuta pública da população, do público de Pelotas, depois a seleção de artistas e agora a exposição. E pra que tudo isso? Pra fazer um resgate da memória afetiva sobre os cinemas e cine-teatros de Pelotas. Que nós conseguimos informações (sobre os cinemas) foram 32, mas tem pessoas que falam em 40.
Como essas pessoas chegaram a vocês?
A gente lançou primeiro a chamada nos baseamos muito em redes sociais, tinha um formulário digital para as pessoas enviarem resumidamente as suas histórias. Mas claro isso acabou se expandindo, alguém que fala para alguém e nos manda um e-mail, eu no meu e-mail pessoal recebi histórias e gente que mandava áudio. Depois decidimos colocar na Secult (Secretaria de Cultura) um formulário físico para as pessoas que não têm acesso, porque também falamos com o público de mais idade que não tem tanta familiaridade com o meio digital. A gente começou a precisar criar estratégias para chegar nessas várias pessoas e foi uma delícia, porque realmente tem esse espaço do cinema na vida das pessoas para além do entretenimento, do ir assistir um filme, as pessoas criavam relações com os espaços. Ou com pessoas que encontraram. Muita gente nos disse que casamentos começaram na fila ou aquele momento de, talvez umas três pessoas falaram muito do exercício, eu achei isso lindo, o exercício de liberdade que era ir ao cinema, ter essa permissão, esse momento de transição da infância para a adolescência, foi muito enriquecedor ouvir tudo isso.
Todas as histórias têm o seu valor, então como é que foi o processo de escolha?
Depois dessa parte de receber os relatos, eu selecionei 15, aí marquei entrevistas com as pessoas para ouvir delas. Porque, claro, sempre sai mais informações do que o texto escrito. E gravamos, e depois, então, chegamos às 10, que aí já pensando que essas 10 histórias, 11 acabaram sendo, seriam passadas aos artistas. Então, pensei, primeiro, em ter uma diversidade de espaços, para dar essa ideia de que realmente eram uma multiplicidade, eram muito variados. O tom das histórias, porque algumas são mais cômicas, outras mais nostálgicas, tem as mais críticas, também poder dar essa. Essa abrangência e ainda pensando o que me pareceu ter mais estímulos visuais ou sensoriais que pudessem inspirar a criação depois dos artistas.
Como foi a seleção dos artistas parceiros?
Foi uma seleção pública também. A gente teve uma adesão incrível, foi espetacular, um número muito alto de inscrições. Pessoas com portfólios muito interessantes e com ideias também super variadas, linguagens, técnicas diferentes. Também foi bem difícil selecionar essas ideias, mas muito estimulante. E uma coisa que acabou por acontecer, que eu imaginava, é que esses artistas são de uma geração ou de gerações que não conheceram esses espaços. Então também para eles teve essa aproximação dessa parte da história. Eu acho que esse projeto também tem muito esse lugar, esse convite para fabular essa Pelotas. Não é um inventário só de datas, endereços, dados arquitetônicos ou documentais, é também dar esse espaço, que o cinema tem na nossa vida até hoje, da imaginação. Então os artistas não tinham compromisso de fazer uma figuração, uma representação realista daquilo que eles recebiam.
Onde é que está essa exposição? É gratuita?
Ela está no espaço de arte Daniel Bellora, que é na rua 3 de maio, 1.005. De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, a entrada é gratuita. E fica até o dia 8 de setembro.