Setor de carne na agroindústria familiar busca reconhecimento

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Setor de carne na agroindústria familiar busca reconhecimento

Retomadas de frigoríficos em Pelotas e região sinalizam que o mercado é promissor

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Setor de carne na agroindústria familiar busca reconhecimento
Agroindústrias buscam reconhecimento para ampliar mercados (Foto: João Pedro Goulart)

A agroindústria familiar e o setor de carnes vivem um momento de transição na região de Pelotas. Se de um lado há um histórico de grandes frigoríficos e exportações de carne bovina que colocaram o Brasil em patamares internacionais de qualidade, por outro surgem pequenas unidades agroindustriais que precisam de apoio técnico, inspeção eficiente e políticas públicas de fomento para se consolidar. O tema foi debatido no programa Pensar Negócio, com a participação do engenheiro agrícola, doutorando em Agricultura Familiar pela UFPel, coordenador do MBA em Agronegócio da UCPel e proprietário da AgroLocal,Telmo Lena, e pelo médico veterinário e consultor em carne bovina, com mais de 35 anos de experiência no setor frigorífico, Paulo Real.

Segundo os especialistas, Pelotas já viveu períodos de forte expansão da indústria da carne, mas hoje enfrenta retração. “O boi está subindo em regiões como Mato Grosso, Paraná e Rio de Janeiro, o que deixa as plantas frigoríficas locais mais ociosas e abre espaço para pequenas unidades agroindustriais”, observa Lena. Essas agroindústrias, no entanto, enfrentam restrições para a comercialização, sobretudo pela limitação da inspeção municipal, que só permite vendas dentro do próprio município.

Uma conquista recente foi a criação do Consórcio de Inspeção da Zona Sul, que ampliou o alcance de produtos de origem animal e vegetal. “Essa iniciativa facilita a abertura de mercado, mas também gera dúvidas e concorrência para municípios menores, que passam a receber produtos de outras localidades”, avalia Lena. Para Real, a mudança exige uma nova mentalidade e maior apoio das políticas públicas.

A parceria com universidades pode ser um caminho estratégico. Um projeto coordenado pela UFPel, busca oferecer análises microbiológicas dentro da própria instituição, reduzindo custos e incertezas. Hoje, muitas agroindústrias precisam enviar amostras a laboratórios em Viamão, enfrentando dificuldades logísticas e risco de perda das análises.

A participação de órgãos como Emater e Fetag também é considerada fundamental para garantir a presença das agroindústrias em eventos como a Fenadoce e no Programa Estadual de Agricultura Familiar (PEAF).

Paulo Real destaca que o setor brasileiro de carnes já alcançou padrões de excelência internacional, impulsionado pelas exigências das redes varejistas e dos mercados externos. No entanto, alerta para o peso dos interesses comerciais na fiscalização. “Muitas vezes, os protocolos de exportação eram mais exigentes que a própria inspeção federal. Dependendo do mercado, havia momentos de rigidez extrema e outros de flexibilização, o que mostra que há muito jogo de interesse envolvido”, relata.

Apesar das dificuldades, os especialistas são unânimes em afirmar que a região tem vocação para a produção de alimentos e precisa agregar valor para alcançar mercados mais exigentes.

Um exemplo é a instalação de frigoríficos como a Zimmer, em Capão do Leão, voltada para desossa de carnes para exportação, além da retomada de plantas em Pelotas, uma na Sanga Funda e a Ampla Alimentos que voltou a operar, mostrando que há espaço para o setor crescer. Esse movimento não só gera empregos como também estimula políticas de incentivo para o campo.

Para os entrevistados, o desafio é equilibrar a força da grande indústria com o potencial da agricultura familiar.

Mercado

A exportação de gado em pé para mercados internacionais contribuiu para a padronização dos rebanhos, aproximando-os dos modelos uruguaios e argentinos, baseados em raças Angus e Hereford. “Hoje é difícil encontrar um gado ruim na região. O que não pode ser o maior, precisa ser o melhor. Nosso foco deve ser nicho e qualidade, porque competir em volume com o Brasil Central é impossível”, enfatiza.

Entre as propostas discutidas está a criação de um selo de qualidade da carne gaúcha, que fortaleça a marca regional e facilite o acesso a mercados diferenciados. “Isso vem sendo debatido há anos pelo setor, mas exige união de esforços, desde produtores até instituições de pesquisa e órgãos de inspeção”, destaca Lena.

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