A agricultura familiar da região sul do Estado, especialmente em Canguçu e São Lourenço do Sul, tem no tabaco sua principal fonte de renda e agora está no centro de um problema econômico. O chamado “tarifaço” sobre a exportação de tabaco para os Estados Unidos está criando um cenário de incerteza para milhares de famílias na região. Em entrevista ao Debate Regional, na Rádio Pelotense, os principais líderes do setor, que detalharam os reflexos dessa crise.
Valmor Thesing, presidente do SindiTabaco, é direto ao ponto: o setor enfrenta um problema diplomático com os Estados Unidos. “A taxação aos 50% dos clientes americanos… eles ainda não cancelaram os pedidos, mas estão 100% suspensos.” Segundo Thesing, essa medida impacta 4 mil toneladas de tabaco brasileiro, avaliadas em 100 milhões de dólares, que estão paradas.
Para a região, a situação é ainda mais grave. Canguçu e São Lourenço do Sul são líderes na produção de tabaco, e essa paralisação afeta diretamente as famílias que dependem da cultura. Thesing destaca a urgência de uma solução: “Nós queríamos que fosse ontem.” Ele reforçou que o produto “não resiste a outros pedidos de armazenamento” e que o governo brasileiro precisa buscar uma alternativa “o mais rápido possível” para evitar um impacto na próxima safra.
Produtores temem futuro
Marcílio Drescher, presidente da Afubra, traz a perspectiva do produtor rural. Ele descreve o sentimento predominante como de “insegurança” e “desânimo”. A elevação dos custos de produção, impulsionada pelo “tarifaço”, já vinha pressionando a rentabilidade das famílias. O aumento dos gastos, segundo Drescher, “já está na relação do produtor neste custo de produção”, tornando essencial que ele “avalie muito a questão do custo que ele tem”.
Drescher também comenta a possibilidade de exportação de nicotina para a Europa, vista como uma nova fatia de mercado. No entanto, ele pondera que isso depende de uma “legalização que deixa bem claras as diretrizes”. Ele expressa sua preocupação com a falta de uma solução a curto prazo para a taxação dos EUA, afirmando que “essa produção será afetada porque vai ter menos demanda do que o que está sendo produzido”.
Impacto social
Ambos os líderes enfatizam a importância social e econômica do tabaco para a região. Valmor Thesing lembra que há 138 mil produtores no Brasil e que o cultivo passa de geração para geração, sendo diferente de outras culturas. “Temos que separar a questão da saúde e a questão econômica social”, disse ele. O setor representa 0,9% do PIB nacional e gera 44 mil empregos diretos.
Drescher corrobora essa visão, destacando que a Afubra foi criada para oferecer segurança aos produtores. A entidade atua na base, em contato direto com as famílias, para garantir que essa cadeia produtiva continue gerando oportunidades.
Apesar dos desafios, as entidades reforçam que estão empenhadas em buscar soluções e pedem tranquilidade aos produtores. A avaliação é de que a crise é real, mas a união do setor e o diálogo com o governo são vistos como o caminho para garantir a sustentabilidade da cultura do tabaco na região.
Confira as entrevistas completas:
Entrevista com Valmor Thesing
Entrevista com Marcílio Drescher