Em menos de 20 anos, formação em cinema é destaque nacional

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Em menos de 20 anos, formação em cinema é destaque nacional

Cursos da UFPel são os únicos de graduação públicos no Estado e um dos poucos do Brasil, atraindo alunos de todo o país

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Em menos de 20 anos, formação em cinema é destaque nacional
Além de ser um centro de formação de cineastas e animadores, Pelotas também serve como cenário para produções externas, como o filme Vó África, atualmente em gravação (Foto: Rafael Dias)

Pelotas estará representada no 53º Festival de Cinema de Gramado por dois filmes, o curta O Jogo e o longa Passaporte Memória. A disputa das produções pelotenses por premiação no festival mais importante do país demonstra a relevância da cidade na produção cinematográfica. Com as graduações em Cinema e Audiovisual e Cinema de Animação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o município é considerado um polo de destaque na formação de profissionais para o país inteiro.

Os cursos da UFPel são os únicos bacharelados gratuitos do Estado, e o de Cinema de Animação está entre os três únicos existentes no Brasil. Diante disso, as graduações atraem grande número de alunos de diversas partes do país, e mais da metade das turmas é formada por estudantes de fora do Rio Grande do Sul. Entre os 103 cursos da universidade, Cinema de Animação ocupa frequentemente o quinto lugar entre os mais procurados.

A inspiração para a criação dos cursos também tem conexão com o Festival de Cinema de Gramado. Foi a partir da premiação do curta de animação O Jogo do Osso, do cartunista e professor da UFPel André Macedo — criado em um projeto na universidade — que a reitoria, à época, em 2007, teve a ideia de abrir a primeira graduação em Cinema e Audiovisual e de Animação. “Hoje, o curso é um dos mais concorridos da universidade e também um dos mais influentes do país, ganhando prêmios e espalhando profissionais pelo mundo afora”, diz Macedo.

O criador dos icônicos personagens de quadrinhos Betinho e Libório salienta a felicidade de ter participado da criação dos cursos responsáveis por movimentar o setor em Pelotas. “Deu um sentido coletivo ao meu trabalho e segue me conectando com algo em que acredito: a importância de transformar o que a gente faz em algo que também sirva aos outros”.

Divisão dos cursos

Devido à grande demanda já no primeiro vestibular e às especificidades de cada área, em 2010 os cursos foram desmembrados em dois: Cinema e Audiovisual e Cinema de Animação. “Quem entra para fazer Animação e quem entra para o Cinema são completamente diferentes, têm vontades e expertises diferentes”, pontua a coordenadora dos cursos e professora de roteiros, Cíntia Langie.

Alunos do primeiro semestre de Cinema Audiovisual em atividade prática de aula (Foto: Jô Folha)

Além de estarem entre as poucas do país, as graduações da UFPel se destacam também pela grade curricular com foco no ensino prático. “Em todos os semestres eles fazem um curta na Animação e, no Cinema, um live action”, diz a coordenadora. Conforme Cíntia, outro fator de orgulho para a universidade é que os cursos de Cinema são os com menor índice de desistência. “A evasão é quase zero”.

O aprendizado prático foi o que fez o aluno Aster Ridolfi sair de Campinas (SP) para cursar Cinema e Audiovisual em Pelotas. “É um grande diferencial porque tu chega ao mercado com grande repertório e experiência”. Ainda no início da graduação, ele afirma ter sido surpreendido positivamente com a qualidade do ensino. “Valeu muito a pena fazer essa mudança, esse curso dá muitas oportunidades”.

Referência nacional

A coordenadora destaca o êxito dos cursos de Cinema da UFPel, que se tornaram a referência gaúcha na formação de cineastas e, inclusive, um destaque nacional, em menos de 20 anos de existência. “Eu diria que é uma referência nacional porque a maioria dos alunos vai trabalhar no Rio de Janeiro ou em São Paulo, então é um curso conhecido nacionalmente. Somos um curso recente, mas são carros-chefes por causa da grande procura”.

O desenvolvimento gerado pela sétima arte

Betinho, de André Macedo, foi transformado em escultura com Mafalda e instalado em frente à prefeitura (Foto: Arquivo Pessoal)

Conforme Cíntia, mais da metade dos egressos consegue trabalhar na área, contrariando o estigma da falta de oportunidade de emprego para quem é graduado na área de artes. Além da expansão do audiovisual com a popularização das séries, ela afirma que há uma série de ramos para atuação de cineastas e animadores.

“Tem um mercado de trabalho muito expansivo, a questão é que não é um mercado tradicional. Mas olha a quantidade de coisas que a gente assiste, tudo é audiovisual, quem está produzindo essa quantidade de coisas? O audiovisual brasileiro é muito amplo e gera muita renda”, afirma.

Alunos premiados

Recentemente, o curta-metragem de animação Carcinização, do egresso da UFPel Denis Souza, passou por 30 festivais de cinema, muitos deles estrangeiros, e ganhou uma série de premiações. O curta-metragem documentário Deus, do jovem cineasta Vinicius Silva, ganhou destaque nacional e também conquistou 15 prêmios. Esses são apenas alguns exemplos de alunos formados em Pelotas com trajetória de sucesso no país. “Quase todo ano tem algum filme da UFPel circulando em algum festival”, diz Cíntia.

Cine UFPel é um espaço público com sessões gratuitas a todos os públicos semanalmente (Foto: Divulgação)

Tradição cinematográfica

Com uma formação de excelência, os egressos seguem levando o nome de Pelotas por todo o Brasil, reforçando a já reconhecida tradição da cidade no cinema. Considerado o filme de ficção mais antigo do cinema brasileiro, restaurado, Os óculos do vovô, de 1913, foi produzido e filmado em Pelotas pelo português Francisco Xavier. “Hoje, o documento histórico mais antigo do cinema é rodado em Pelotas”, diz Cíntia Langie.

Pelotas em Gramado

Alexandre Mattos Meirelles, produtor do curta O Jogo, ao lado de Chico Maximila, está em Gramado não apenas para concorrer no Festival, mas também para promover Pelotas como um polo de produção audiovisual. No dia 18, no Museu do Festival de Cinema, ocorrerá um evento da Pelotas Film Commission com a reunião de produtores e outros profissionais do setor para divulgar a cidade como atrativo cenário para produções cinematográficas.

A Pelotas Film Commission é uma entidade que atua justamente como agente facilitador para as produções audiovisuais serem realizadas em Pelotas. O foco é incentivar filmes locais e atrair gravações de fora. “Queremos que Pelotas e a região Sul sejam um polo de cinema, onde as pessoas consigam trabalhar e as produtoras consigam vir aqui reproduzir seus filmes.”

Atualmente, está sendo gravado no município o longa-metragem Vó África – Em Busca dos Velhos Trilhos, do diretor Nando Ramoz, e, em novembro, começarão as gravações de uma produção argentina. “Então a gente está trabalhando com muito planejamento para transformar Pelotas nesse polo audiovisual.”

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