Recentemente, a Lei Federal 15.176/2025 reconheceu a fibromialgia uma deficiência. A partir de 2026, pacientes com essa doença terão acesso a uma série de direitos como a aposentadoria por invalidez e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Ainda pouco conhecida pela população em geral, a fibromialgia atinge majoritariamente mulheres em idade produtiva. A condição acarreta dores contínuas por todo o corpo e uma série de outras complicações de saúde.
Fisioterapeuta e coordenador do curso na Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Flaviano Moreira é especialista nesta doença e atende várias pacientes com fibromialgia.
O que é a fibromialgia?
É uma doença sistêmica que acomete a musculatura geral do corpo. Esses pacientes têm dores difusas, ininterruptas, e sentem elas o dia inteiro. Isso traz uma série de repercussões para o corpo e a mente. O nível que eles têm de tolerância a dor é muito menor e isso é químico, não é um fator psicológico. Esse paciente sente dor em repouso, deitados.
Por isso é um marco histórico esse reconhecimento [como deficiência] porque por muito tempo se teve preconceito com quem tem fibromialgia, como se fosse uma dor psicológica.
Por não entender a doença as pessoas acabam achando que essas dores não são reais?
Sim e por isso esse paciente acaba se isolando. A cada dez pessoas com a doença, nove são mulheres e dependendo do nível de incapacidade, tarefas muito simples, essas pacientes não conseguem fazer, como, por exemplo, pentear o cabelo. E essas pessoas acabam se isolando porque se tornam poliqueixosos.
E a partir disso, a gente vai para a esfera psicológica, de quem não consegue fazer atividades diárias e acaba tendo um quadro depressivo. Quando esse paciente vem para a clínica, ele está abalado psicologicamente. Imagina tu estar habituado a uma série de atividades e não conseguir mais fazer.
Na questão laboral é pior ainda. Se no âmbito normal a gente trabalha e já sente dor, muitas vezes chega no final do dia e a gente está cansado, mas a gente deita descansa e no outro dia está melhor. Esses pacientes não têm isso porque não conseguem dormir por causa das dores. A paciente entra no ciclo vicioso, eu tenho dor, não durmo e não descanso e por isso tenho mais dores.
Como a doença é diagnosticada?
O diagnóstico é clínico, dado pelo médico, mas muitas vezes os fisioterapeutas são o primeiro contato. A partir do diagnóstico clínico, a gente consegue na fisioterapia tratar esses sintomas, o nível de sensibilidade dolorosa. O pacientes tem os chamados tender points, são 18 pontos espalhados pelo corpo, próximos às articulações, com sensibilidades específicas.
A partir disso a gente consegue fazer o diagnóstico também com exame físico. Para as pessoas terem noção do nível de dor desses pacientes, a gente tem um aparelho chamado dolorímetro, que mede o limiar de dor a pressão. A população em geral tem a tolerância a dor de mais ou menos quatro quilogramas por pressão. Os pacientes com fibromialgia têm abaixo de 1,2 quilogramas.
Quais são as causas da fibromialgia?
Elas são multifatoriais, não tem uma única causa. Muitas das vezes vem após uma infecção, mas ela é uma doença autoimune e o próprio corpo acaba reconhecendo que fatores do corpo são agentes agressores. O paciente tem um processo inflamatório constante.
Como é o tratamento?
O tratamento na fisioterapia é bem complexo porque envolve exercício físico e como introduzir exercício para esse paciente que já tem dor? Porque dependendo da carga gera mais dor. Se eu tenho dor eu fico parado, mas o sedentarismo causa mais dor, e aí entra no ciclo vicioso. Tem que dosar o exercício para não ter o efeito rebote de dor.
Outra questão que mais importa no tratamento são as técnicas de alívio da dor, esse é o foco da fisioterapia e muitas vezes o atendimento é diário. Além disso, tem a promoção do relaxamento muscular. Mas o tratamento tem que ser multiprofissional com psicologo, educador físico e quando essas terapias se complementam esse paciente melhora. Mas isso no SUS muitas vezes é complexo e demorado.