Dentro do contexto do Agosto Lilás, período de mobilização contra a violência doméstica e familiar, o Observatório Nosotras, ligado à Universidade Católica de Pelotas (UCPel), apresentou recentemente seu 2º boletim técnico com dados alarmantes sobre a violência contra mulheres na Zona Sul do Rio Grande do Sul. O levantamento, que abrange 22 municípios da região, aponta que, em apenas três anos e meio, foram registrados 32 feminicídios consumados e 44 tentativas de feminicídio, números que permanecem elevados ao longo do tempo e não apresentam redução significativa.
Segundo a coordenadora do Observatório Nosotras e professora dos cursos de Serviço Social e de Política Social e Direitos Humanos, Vini Rabassa da Silva, a violência contra mulheres e meninas continua sendo um fenômeno social extremamente perverso e persistente. “Assistimos a isso diariamente. A Lei Maria da Penha representou um avanço considerável, assim como a criação do crime de feminicídio como tipificação autônoma, mas essas medidas, embora importantes, ainda não são suficientes para erradicar esses crimes ou reduzir de forma efetiva sua ocorrência”, destaca Vini.
A criação do grupo de Pesquisa e Extensão do Observatório, em 2023, surgiu a partir de questionamentos de estudantes sobre casos de violência doméstica e institucional. O grupo busca mapear não apenas os episódios de agressão direta, mas também situações de violação de direitos que muitas vezes passam despercebidas. Para a coordenadora, a sistematização de dados é essencial tanto para expor a gravidade do problema quanto para fortalecer a luta contra esses crimes e orientar políticas públicas e ações da sociedade civil.
O lançamento do boletim técnico contou com a presença de representantes do poder público, do sistema de Justiça e de conselhos municipais, além de movimentos sociais, coletivos de mulheres e organizações civis. Entre os municípios presentes, destacam-se Pelotas e Rio Grande, cidades com altos índices de violência doméstica. “Reconhecemos a importância do trabalho que já vinha sendo realizado por movimentos sociais e pelo poder público, e queremos somar esforços com essas entidades”, reforça Vini Rabassa.
Para a titular da Secretaria de Mulheres de Pelotas, Marielda Medeiros, o Observatório Nosotras, assim como o Observatório da Segurança Pública de Pelotas, permite que gestores públicos planejem políticas de enfrentamento à violência contra mulheres de forma mais eficiente e imediata. “A Secretaria de Mulheres sozinha não conseguiria atuar com essa abrangência. Precisamos desse suporte para desenvolver ações efetivas”, afirma Marielda.
Dados
A professora Christiane Russomano Freire, responsável pela equipe de produção de dados do Observatório, apresentou o boletim correlacionando os números da região com os do Estado em 2024. Os 22 municípios da Zona Sul responderam por 13,8% dos feminicídios consumados e 7,6% dos tentados, percentuais que, segundo Christiane, são muito elevados. “Não sabemos se os registros de 2025 vão aumentar ou diminuir em relação a 2024. O problema é a permanência e a constância dos crimes. Diminuir já não é suficiente; a realidade atual é suficientemente dramática”, observa.
A correlação entre os registros de violência contra a mulher no RS e a incidência deles nos 22 municípios de abrangência dos Nosotras (ano 2024):
- Feminicídio consumado: 13,8%
- Feminicídio tentado: 7,6%
- Estupro: 6,6%
- Ameaças: 6,3%
- Lesões corporais: 7,9%
Municípios de Pelotas e Rio Grande e as incidências dos tipos penais sistematizados pelo Observatório da Violência contra a Mulher da SSP/RS, nos anos de 2022, 2023, 2024 e 1º semestre de 2025: