A decisão da Arábia Saudita de retirar as restrições à importação de carne de aves do Rio Grande do Sul, anunciada na última quarta-feira, não deve gerar mudanças diretas na produção da região de Pelotas. Isso porque, conforme explica o engenheiro agrícola Telmo Lena, a avicultura local é voltada exclusivamente para a produção de ovos.
“Aqui na nossa região a gente não tem produtor de aves para carne, só ovos. Nossa capacidade não muda muito. A produção de frango está concentrada na Serra, nas integrações com os colonos”, detalha o especialista.
Segundo ele, os aviários locais adotam medidas de biossegurança recomendadas pela inspetoria veterinária, como barreiras sanitárias, arcos de desinfecção e aplicação de cal nas entradas. Essas ações se intensificaram após o registro do foco de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade no município de Montenegro.
Mesmo sem reflexo direto para os produtores da região, Lena destaca que a retomada do comércio com a Arábia Saudita é positiva para o setor avícola gaúcho na totalidade, especialmente para empresas que atuam com certificação Halal. Esse documento garante que o alimento atenda aos requisitos da jurisprudência islâmica.
“A grande vantagem é que a escala de produção se normaliza. Na saída da Arábia Saudita, os estoques de produto acabado aumentaram. Agora, as empresas devem se desfazer desses estoques, mas não acredito que haverá muita alteração de preço para o mercado interno”, avalia.
O engenheiro agrícola também descarta efeitos indiretos para os produtores de ovos de Pelotas, como variação no preço do milho, ração ou outros insumos. “Muito do que foi segurado foi estoque. O planejamento é feito anualmente. Eles devem ter perdido um pouco de tempo na produção […] Agora normalizou tudo e vão seguir vendendo”, afirma.
Credibilidade do setor
Para o médico veterinário e produtor da Zona Sul, Fabrício Delgado, a retomada das exportações vai além do impacto imediato, e simboliza a força da avicultura brasileira e o reconhecimento do trabalho de prevenção e controle sanitário. “Isso evidencia a força da avicultura brasileira, tanto no aspecto governamental quanto no trabalho das indústrias. A palavra-chave é biosseguridade, e isso a gente faz bem feito”, reforça.