Pelotas será uma das 12 cidades brasileiras que irão disponibilizar de exames com a tecnologia PCR para o rastreamento do câncer do colo do útero. O anúncio foi feito nesta sexta-feira pelo secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Felipe Proenço, em visita à UBS Guabiroba. A expectativa do governo é ampliar o método para todo o Brasil até o final de 2026.
O novo método foi analisado pelo ministério e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), com um período de testes no estado de Pernambuco, antes de ser ampliado para mais municípios brasileiros. Agora, técnicos do ministério vão oferecer treinamento e acompanhamento para as equipes que irão coletar as amostras dos exames.
“Isso vai ajudar muito tanto a melhorar o diagnóstico, ter uma capacidade maior de detecção com essa nova tecnologia, e tem um impacto importante também no acompanhamento”, explicou Proenço. Segundo ele, Pelotas foi escolhida pela forte vinculação com as universidades e a capacidade de alcance da saúde da família no município.
O prefeito Fernando Marroni (PT) afirmou que a escolha por Pelotas como cidade pioneira nessa tecnologia representa um reconhecimento ao esforço do município no atendimento pelo SUS. “Para nós, é uma alegria, uma honra, e estamos preparados para essa nova tecnologia expandir na nossa cidade, ter uma cobertura efetiva e evitar mortes, isso é o principal”, disse.
Segundo o ministério, a tecnologia é 100% nacional e detecta 14 genótipos do HPV, identificando a presença do vírus no organismo antes da ocorrência de lesões ou câncer em estágios iniciais. O HPV é a principal causa do câncer do colo do útero, e é o terceiro tipo mais incidente em mulheres. A estimativa é de que esse tipo de câncer cause 20 mortes por dia no Brasil.
Começa por Guabiroba e Py Crespo
De acordo com a secretária de Saúde de Pelotas, Ângela Vitória, além da UBS Guabiroba, os serviços também serão ofertados na UBS Py Crespo. A escolha por essas unidades foi pelo volume de exames citopatológicos que já são realizados nos locais.
“Ao longo do processo, com as equipes sendo treinadas, a logística organizada de para onde vão esses exames, o tempo de resposta dos resultados, a gente vai incorporando novas equipes para dentro de um período termos muitas equipes em Pelotas aderindo a esse programa”, disse Ângela.
Estratégia aliada da vacina
UBS Guabiroba já recebeu materiais para coleta (foto: Nátalli Bonow)
A prevenção do câncer do colo do útero vai além dos exames, e é fundamental a vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) até os 15 anos de idade. Proenço aponta que, embora a cobertura vacinal tenha aumentado, é de apenas 75%, abaixo da meta de 90%. “A soma dessas duas iniciativas é fundamental”, destaca.
Proenço afirmou que o propósito é, ao longo do tempo, substituir os exames citopatológicos em outros municípios. “Mulheres de 25 a 64 anos têm que procurar a unidade de saúde para realizar esse exame. A partir do primeiro exame negativo, a mulher só precisa fazer dentro de cinco anos”, explicou. “Isso ajuda na programação e que a unidade de saúde possa organizar quem são as mulheres que precisam fazer naquele ano”, ressalta.
Expectativa para mais municípios
O secretário executivo do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do RS (Cosems/RS), Diego Espíndola, diz que a expectativa agora é levar a tecnologia a todos os 497 municípios gaúchos.
“A gente começa a ter esse diagnóstico precoce, evitando que as mulheres tenham a prevalência do câncer do colo do útero, e com a vacina do HPV, que hoje tem pouca adesão, faz com que a gente chegue em um curto espaço de tempo a baixos índices de câncer”, considera.
Como funciona
A coleta para o exame de PCR é similar à do papanicolau, porém é menos invasiva e mais eficaz, além de poder ser feita com uma periodicidade menor. O PCR é um teste molecular que detecta a presença do DNA do papilomavírus humano, o HPV, em amostras coletadas nas pacientes.
O novo método é mais eficaz e permite, além da detecção, a identificação dos tipos específicos de HPV presentes no organismo. A sigla PCR, que significa “reação em cadeia da polimerase”, tornou-se conhecida nos últimos anos por ser utilizada em exames de Covid-19.
A nova tecnologia deve substituir o exame de papanicolau, que envolve uma inspeção visual do interior da vagina e do colo do útero com a coleta do material para exame citopatológico com o objetivo de identificar lesões causadas pelo HPV.
Essa técnica de diagnóstico, no entanto, não é a mais eficaz, e possui uma sensibilidade relativamente baixa, de 50% a 60%, dificultando a identificação de estágios iniciais da doença, além de precisar ser feito a cada três anos.
