Cerca de 20 dias após uma comissão interventora assumir a direção da Santa Casa de São Lourenço do Sul, a Maternidade foi reaberta e nesta semana o centro cirúrgico de urgência e emergência voltou a operar. A previsão é o reestabelecimento das cirurgias eletivas nos próximos dias. O empenho é pela retomada do atendimento em todos os ambulatórios, no entanto, o maior desafio para isso é equilibrar o pagamento das despesas em dia com o cumprimento das dívidas.
Com atrasos de salários dos médicos acumulados desde outubro, são cerca de R$ 3 milhões em honorários vencidos. A dívida de contas de água somam outros R$ 3 milhões e de energia elétrica cerca de R$ 13 milhões. Além disso, segundo o novo gestor presidente, Aristides Feistler, o hospital possui mais de R$ 100 milhões em débitos com a Receita Federal, entre outras dívidas.
Para o pagamento de parte dos salários dos médicos e o restabelecimentos do atendimento em setores essenciais como a maternidade e obstetrícia e o bloco cirúrgico de urgência e emergência, foi necessário o adiantamento de R$ 900 mil em repasses do governo do Estado.
“Tem muitos médicos que fizeram um parcelamento dos atrasados em 30 vezes e a gente quer negociar com eles todos esses valores, talvez diminuir o número de parcelas”, diz Feistler. Diante dos atrasos salariais, a maioria dos médicos pediu desligamento e por isso, entre março e junho, diversos atendimentos foram suspensos.
A expectativa é de que as cirurgias eletivas sejam retomadas em breve; porém, para ambulatórios como os de traumatologia e otorrinolaringologia, ainda não há previsão de reestabelecimento dos serviços. “A gente vai dar prioridade sempre à questão do pagamento do salário dos funcionários”, diz Feistler.
Conforme o novo gestor presidente, os esforços são para manter os salários em dias e em paralelo buscar novas fontes de recursos para liquidação das dívidas. Para isso, o objetivo é pleitear maiores volumes de verba e apoio junto ao Estado e a União. Um dos impasses é atualmente o repasse do programa estadual Avançar na Saúde que não está vindo completo porque a Santa Casa não estava cumprindo com as metas estabelecidas. “Hospital tem contratualizado R$ 512 mil, mas foi repassado neste mês só R$ 357 mil”.
Para os próximos meses a gestão contará também com a transferência de R$ 1,5 milhão, oriundo de emenda parlamentar. “Com esse recurso eu vou negociar com os fornecedores, reservar uma parte já para o segundo pagamento dos médicos e um pouco para a folha [de pagamento]. Então, a gente vai conseguir esperar um ou dois meses até um novo aporte de recursos e reequilibrar o contrato”, detalha.
A comissão ainda realiza junto com uma auditoria do Ministério da Saúde o tamanho da dívida da Santa Casa, mas estimativas preliminares apontam para R$ 170 milhões. “O total da dívida da Santa Casa é imensurável”.
Retomada e ampliação
O gestor presidente destaca que independente dos desafios orçamentários, o objetivo da comissão é retomar todos os serviços gradualmente e abrir novos atendimentos por meio da contratualização com o programa do governo Federal Mais Médicos Especialistas.
“Tem muito trabalho a ser feito e a gente vai priorizar aqui o atendimento da Santa Casa e os poucos recursos que vêm a gente vai fazer aqui um malabarismo. O que não pode é a população ficar desassistida”.
Intervenção
Após a suspensão de quase todos os serviços da Santa Casa, incluindo a maternidade, que estava há mais de um mês fechada, a prefeitura de São Lourenço do Sul decretou estado de calamidade no setor hospitalar. Com isso, uma comissão interventora foi formada e a antiga gestão destituída.