A escritora e socióloga Hilda Simões Lopes lança hoje o romance histórico Maya (Libretos, 312 páginas), no Instituto João Simões Lopes Neto. Antes da sessão de autógrafos, a autora participa de um bate-papo com a doutora em História, professora Lorena Gill, também coordenadora do Núcleo de Documentação Histórica da Universidade Federal de Pelotas. A obra estará à venda no local a R$ 80,00.
Maya começou a surgir, há mais de uma década, a partir de uma provocação feita pelos pesquisadores Adão Monquelat, Major Ângelo Pires Moreira e Mário Mattos para que ela escrevesse sobre as vivandeiras. A autora pelotense lembra que numa visita à extinta livraria e sebo de Monquelat, que ficava na rua General Telles, encontrou estes amigos.
Na época, eles falaram que não existia no Rio Grande do Sul um livro sobre as vivandeiras, somente no Uruguai e Argentina se encontrava literatura que trazia à tona a vida dessas mulheres que acompanhavam os soldados nas guerras. “Chegamos a conclusão que esse livro tem que ser escrito, mas para uma mulher e essa mulher tem que ser tu”, disseram eles, relembra a autora sobre a tarefa que os pesquisadores tinham atribuído a ela.
A pesquisa inicial foi feita por esses historiadores, que entregaram o material a Hilda. A autora se debruçou sobre o tema e foi em busca de informações até mesmo em Buenos Aires, para levantar a atuação combativa dessas mulheres .
Ficção e realidade
A protagonista Maya é uma personagem fictícia, porém a autora lembra que as vivências trágicas da personagem eram comuns a muitas mulheres na condição dela. Na trama de Hilda Simões Lopes, a adolescente baiana, chega ao Sul do Brasil ainda criança trazida pela mãe, Dandara, uma escrava sudanesa, vendida no início do século 19 a um charqueador do extremo sul, da antiga Província do Rio Grande.

Escritora pelotense mistura ficção e realidade na obra
Depois da morte da mãe, a jovem tenta fugir da escravidão e da violência. Só e vilipendiada, Maya é acolhida pelas vivandeiras. “Conto coisas absolutamente reais. Tudo o que ela vive é real, é a mulher na situação mais terrível”, diz a autora.
Sobre as vivandeiras, Hilda acrescenta: “Elas eram amantes, enfermeiras, cozinheiras, faziam até o cigarro, curavam, eram bruxas e na hora da luta, quando um soldado caia, elas pegavam as armas dele e seguiam lutando, mas não era só esse lado. Elas também tinham um lado devastador. Quando acabava a luta, tanto elas, quanto as ‘chinas quarteleiras’ do Prata, invadiam o campo e saqueavam os corpos. Elas pegavam tudo de valor que encontravam ali e brigavam muito”, conta.
Ao colocar o leitor dentro do cenário das vivandeiras, Hilda expõe sem rodeios a violência extrema a qual essas mulheres eram submetidas. Porém, quando podiam respondiam na mesma moeda.
Por sua vez, a Maya de Hilda tem uma delicadeza interna muito grande, contrastando com a incivilidade do seu redor. Maya é nutrida pela sabedoria dos povos originários e os mitos africanos, ela conversa com a lua e as estrelas, emociona-se com as cores do poente e a elegância das garças.
Mas Hilda leva Maya ao encontro de outras mulheres, tão fortes e tão subjugadas, quanto as vivandeiras, e que também lutam pela sobrevivência, mas com outras armas, que não as adagas afiadas.
A partir de sua vivência na capital, Maya se encontra entre mulheres reais revolucionárias e ousadas, mulheres que sapateiam em cima do machismo, soltavam prisioneiros farroupilhas, brigavam pelo divórcio, o voto feminino, por mulheres nas universidades e pela abolição da escravatura.
PRESTIGIE
- O quê: lançamento e sessão de autógrafos do romance histórico Maya, de Hilda Simões Lopes
- Quando: hoje, às 18h
- Onde: Instituto João Simões Lopes Neto, na rua Dom Pedro II, 810