Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e da Universidade de São Paulo (USP) revelou o perfil da elite econômica predominante no Brasil. Conforme a pesquisa, homens com idades entre 50 e 69 anos representam quase 93% da elite brasileira. Em relação a setores econômicos, a riqueza tem origem sobretudo na manufatura de baixa tecnologia, finanças, energia, comércio e agricultura.
A pesquisa integra o World Elite Database (WED), um consórcio internacional com mais de 20 países para a análise do perfil e da formação das elites econômicas em cada nação. O objetivo é constituir uma base de dados global para a comparabilidade entre as elites e suas influências nas estruturas de poder dos países.
Para isso, os grupos de pesquisadores exploram as características sociais, econômicas e demográficas dos super-ricos. No estudo preliminar brasileiro foram analisados o perfil de gênero, idade, escolaridade e o perfil econômico das organizações às quais a elite brasileira está vinculada. Na pesquisa foram consideradas 373 pessoas, que ocupam 395 cargos em 252 organizações diferentes.
A amostra inclui 99 bilionários, definidos como aqueles com patrimônio superior a 1 bilhão de dólares, usando a taxa de câmbio oficial de 31 de dezembro de 2020. O grupo de bilionários possui patrimônio líquido variando entre US$ 1,015 bilhão e US$ 18,789 bilhões.
Gênero e faixa etária
Do ponto de vista demográfico, a elite econômica brasileira é predominantemente masculina: são 92,8% de homens contra 7,2% de mulheres. Os homens superam significativamente as mulheres, numa proporção de aproximadamente 13 para 1. São 346 membros do sexo masculinos super ricos em comparação a apenas 27 do sexo feminino.
A disparidade destacada pelo estudo é considerada ainda maior do que a desigualdade de gênero na política. “Isso sugere a persistência das desigualdades de gênero no acesso a posições decisivas e regulatórias, tanto na esfera econômica quanto na política”, detalha o artigo.
A maior concentração de homens encontra-se nas faixas etárias entre 50 e 69 anos, representando mais de 56% de todos os super ricos. Entre as mulheres, é observado um padrão semelhante, com quase 45% concentradas na mesma faixa etária (12 mulheres).
O estudo destaca que “a quase ausência de mulheres com menos de 40 anos na elite reflete as barreiras persistentes à entrada ou permanência de mulheres jovens nesse domínio”. No caso das bilionárias, a maioria alcança a lista de bilionários após o falecimento de seus pais ou cônjuges.
Escolaridade
Entre a elite econômica brasileira, o diploma de graduação é o mais comum (41%), colocando o Brasil ao lado de países como Argentina, Itália e Portugal em termos de nível educacional. Mestrados e MBAs correspondem ao tipo mais frequente de especialização (50%). O quadro é semelhante na maioria dos outros países do WED — com exceção da Alemanha, onde 36% têm doutorado.
Também na mesma linha com o padrão do WED, a formação predominante da elite no Brasil é em Administração/Negócios (51%), acima da média global de 43%. Formações em Engenharia e Economia também aparecem com distribuição semelhante à média dos países analisados.
Setores econômicos
Setorialmente, a pesquisa revela uma alta concentração de posições da elite (cerca de 70%) em manufatura, finanças, energia, comércio, agricultura e saúde. Outros dez setores também estão representados, mas com número menor de posições. Embora indique uma diversidade econômica, a pesquisa revela que quase 80% da elite estão em setores de baixa tecnologia.
“A proeminência do setor manufatureiro se destaca, representando quase 20% das posições da elite — um indicativo de uma economia ainda industrializada, apesar dos vários sinais de desindustrialização no Brasil”, diz o estudo.
A pesquisa
No Brasil, o estudo é realizado por um grupo de sociólogos e economistas da UFPel e da USP, entre outras instituições. Compõem o WED países como Canadá, Chile, China, Dinamarca, Itália, França, Finlândia, Alemanha, Japão, Reino Unido, EUA, entre outros.