Começa nesta quarta-feira (6) a tarifação dos Estados Unidos contra diversos produtos do Brasil. Com cenário ainda incerto, o governo federal segue em negociação com o país americano tanto por via diplomática como comercial. A expectativa é que seja apresentada pelo ministro Fernando Haddad um plano de contingência ainda nesta quarta-feira com medidas de curto, médio e longo prazo.
No dia a dia dos gaúchos, é possível que, a curto prazo, o preço de alguns produtos apresente redução. A carne, por exemplo, pode ser um desses itens, caso haja redirecionamento dos produtos de exportação para o mercado interno. Pescados, café e frutas também podem ficar mais baratos.
Conforme dados do IPCA-15 da semana passada, a carne já apresentava redução 0,36% de valor no país: o filé mignon teve queda de 1,63%, o contrafilé teve redução de 1,31% e o preço da Alcatra caiu 1,21%. Já o café apresentou redução de 0,35%; e o pescado 2,03%.
Na avaliação do professor do curso de Comércio Exterior da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Luciano Vaz, no cenário atual ainda não é possível avaliar os impactos de forma local. “É difícil prever porque envolve uma série de fatores, depende do produto, do setor, das oportunidades de comércio internacional”, afirma.
Desemprego
As exportações do Rio Grande do Sul para os EUA não envolvem só os produtos agrícolas, mas também produtos manufaturados industriais. “Geralmente produto agrícola é mais fácil de achar mercado. Algumas empresas que produzem produtos manufaturados e industriais terão mais dificuldades, pois já têm formada uma relação muito forte com esse fluxo comercial”, explica o docente.
Na terça-feira, o comitê de crise, instituído pelo Sistema FIERGS, realizou reuniões com o governo do Estado e com as federações de trabalhadores para avaliar possibilidades.
Entre as principais demandas direcionadas ao governo estadual, estão incentivos fiscais, como a liberação do saldo credor de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na exportação. A ampliação da linha de crédito de R$ 100 milhões, do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), anunciada pelo governo estadual, também está na pauta.
O estado conta com aproximadamente 1,1 mil indústrias que exportam para os EUA e empregam 140 mil pessoas nos ramos mais dependentes do mercado americano impactados pela elevação. Deste total, 20 mil empregos estão mais diretamente ameaçados.
Cenário internacional
O economista e professor do Centro de ciências socio-organizacionais na Universidade Federal de Pelotas, Dary Neto, reforça que a taxação de 50% aos produtos brasileiros irá gerar impactos para a economia, indústrias e na redução de empregos.
“Os EUA estão numa crise, o Brasil se preparando para o processo eleitoral de 2026, então o Trump se vira contra o Brasil e resolve aumentar a tarifa de 10% para 50%”, comenta. Com o aumento da taxa de importação de produtos de diversos países, Trump espera voltar a incentivar a produção interna americana, complementa o economista.
Com o preço de venda mais caro para o Brasil, a tendência, aponta o professor, é a de redução nas vendas. “Diante desse quadro, muitos negócios estão parando de serem feitos, e, em decorrência disso, pode ocorrer a redução de mão de obra nas empresas nacionais”, diz.
Entretanto, o economista reforça que o efeito da tarifação não deve ser tão impactante de forma generalizada, mas sim em alguns setores específicos, como o agronegócio. “Essencialmente, nós não somos uma economia que produz para exportação. Em números, o impacto acaba não sendo o que parece ser”.
O que é o tarifaço?
Criado a partir do programa de governo implantado por Donald Trump, adota a reciprocidade tarifária de até 40% para a importação de produtos estrangeiros. O primeiro anúncio da taxa ocorreu em 7 de julho para 14 países – incluindo Japão e Coreia do Sul.
No dia 30 de julho, Trump assinou outro decreto que impôs uma tarifa extra de 40% sobre produtos exportados pelo Brasil, que se somou aos 10% já em vigor e elevou a taxa total para 50%. Foi definido também que a nova alíquota entraria em vigor no dia 6 de agosto.
Exceções
Após rodadas de negociações entre o governo brasileiro e o americano, aproximadamente 45 % das exportações brasileiras estarão isentas, inclusive produtos estratégicos como petróleo, celulose, suco de laranja e aeronaves. Produtos sujeitos a tarifas setoriais (aço, alumínio e cobre) permanecem sob regulação distinta e não são impactados pela tarifa adicional imposta por Trump.