Especialistas analisam impacto do tarifaço dos Estados Unidos

Guerra tarifária

Especialistas analisam impacto do tarifaço dos Estados Unidos

Enquanto lideranças buscam avaliar saídas, setores da economia esperam impacto negativo em vendas e empregos

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Especialistas analisam impacto do tarifaço dos Estados Unidos
Café e carne devem ser os produtos mais atingidos. (Foto: Jô Folha)

A quarta-feira (6) ficou marcada pelo início de uma nova e incerta fase para a economia da metade Sul. O tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros entrou em vigor, impactando diretamente setores vitais como a indústria de tabaco, calçados e a agroindústria. Em meio à preocupação, a resposta política e industrial já se mobiliza para mitigar os danos.

O governador Eduardo Leite (PSD) esteve em Brasília em uma corrida contra o tempo para tratar dos impactos. Em reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSD), Leite entregou um relatório da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) detalhando as consequências das novas tarifas e cobrou medidas emergenciais.

Para o economista-chefe da Fiergs, Giovani Baggio, o cenário é alarmante. Em entrevista ao programa Debate Regional, na Rádio Pelotense, ele explicou que o aumento para 50% nas taxas de importação é, na prática, um embargo comercial. “Uma tarifa de 50% praticamente inviabiliza os negócios”, afirma Baggio, destacando que o ajuste se torna inviável para as empresas.

O Rio Grande do Sul é um dos estados mais afetados, com cerca de 85% dos produtos taxados, contra uma média brasileira de 46%. Com base em cálculos próprios e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Fiergs estima que 143 mil empregos estejam ligados a atividades com mais de 10% de suas exportações destinadas aos EUA. O prognóstico é preocupante: a perda pode chegar a 22 mil empregos diretos na indústria gaúcha.

Em contraste com as projeções pessimistas, o deputado estadual Zé Nunes (PT), com forte ligação com os produtores de tabaco de Canguçu e região, adotou uma postura mais cautelosa. Em entrevista ao Jornal da Tarde, da Rádio Pelotense, ele reconheceu o impacto, mas apostou na qualidade do tabaco gaúcho como um diferencial. “No mundo, é muito difícil encontrar um tabaco da qualidade do nosso”, afirmou.

Embora os EUA sejam o terceiro maior comprador de tabaco brasileiro, absorvendo cerca de 11% do volume de exportações, a maior parte da produção segue para a União Europeia e o Oriente Médio. Para Nunes, a dependência do mercado americano pode ser menor do que a sua necessidade do produto brasileiro. Ele prevê uma “pressão muito grande no governo americano para mudanças” e conclui que, mesmo com a tarifa, o tabaco gaúcho continua competitivo.

Setores atingidos

O professor de Relações Internacionais da UFPel, Fábio Duval, traz uma análise detalhada dos setores mais expostos. Ele aponta a carne e o café como os mais atingidos. No caso da carne, ele observa que, embora já tenha havido uma redução no abate, a maior parte da produção é consumida internamente, amenizando o impacto.

Já no setor de café, Duval ressalta que, apesar de 16% da exportação ter como destino os EUA, a capacidade de estocagem do produto por até dois anos após a safra pode evitar um “efeito cascata” de queda nos preços no curto prazo.

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