Desafio Pré-Universitário suspende aulas e estudantes ficam sem auxílio

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Desafio Pré-Universitário suspende aulas e estudantes ficam sem auxílio

UFPel ainda não liberou recurso emergencial, e contrato com o governo federal está travado

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Atualizado terça-feira,
05 de Agosto de 2025 às 12:15

Desafio Pré-Universitário suspende aulas e estudantes ficam sem auxílio
Curso foi criado em 1993 como um pré-vestibular gratuito (Foto: Jô Folha)

Com aulas suspensas há duas semanas, o projeto Desafio Pré-Universitário Popular da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) enfrenta um momento crítico. Mais de 60 estudantes estão sem receber os auxílios de transporte e alimentação, comprometendo sua permanência no curso. Um recurso emergencial que garantiria o funcionamento até agosto ainda não foi liberado, embora o processo tenha avançado na última semana.

A origem da crise está na interrupção dos repasses previstos em contrato com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). A primeira parcela foi paga no início deste ano, possibilitando o pagamento de bolsas no valor de R$ 500 para cerca de 50 estudantes e R$ 700 para dez coordenadores de área. No entanto, os repasses seguintes não ocorreram, e o MJSP alegou não haver verba disponível, mesmo com o contrato ainda vigente.

Com o atraso nos pagamentos, alunos deixaram de ter condições mínimas de permanência, como alimentação, transporte e acesso à internet. Muitos dependem de dois a quatro deslocamentos diários para chegar ao campus, que atualmente funciona no Anglo, no bairro Porto.

Dificuldades

Cyrillo Vieira, de 22 anos, é um dos bolsistas do projeto que estão sem receber o auxílio. Ele trabalha como artista freelancer, se apresentando em festas, e relata as dificuldades de custear o deslocamento até o campus: “Eu tenho que pegar dois ônibus para ir e dois para voltar. Com o meu dinheiro, não dá. Teria que escolher entre comer e estudar.”

Mais do que aulas suspensas, o Cyrillo enxerga uma ameaça direta aos sonhos dos estudantes. “Não é só um auxílio. São pessoas desacreditando que a universidade é para elas. […] A gente está querendo estudar, mudar de vida, mas foi deixado para trás.”

Alteração de campus

Enquanto isso, a UFPel tenta mitigar os impactos. Além de cobrar o governo federal, está estudando a realocação do projeto para o Campus 2, na rua Almirante Barroso, o que reduziria o custo de transporte para os estudantes. A universidade também articula com parlamentares a criação de um mecanismo que permita o acesso à meia-passagem para estudantes do Desafio sem vínculo com escolas da rede regular.

Recurso emergencial

Um valor emergencial de R$ 80 mil foi liberado pelo MJSP e está em fase de tramitação interna na UFPel. A universidade informou que o processo avançou na última sexta-feira, com a liberação da Procuradoria Jurídica, e que agora está sob responsabilidade da Coordenação de Contratos. O valor, porém, cobre apenas os pagamentos em atraso e não garante a continuidade do curso para os próximos meses.

Audiência pública

Diante da incerteza, os estudantes têm buscado apoio político e mobilização social. Uma assembleia pública está marcada para a próxima sexta-feira, às 13h30min, na esplanada do Theatro Sete de Abril, na Praça Coronel Pedro Osório. A intenção é pressionar autoridades e dar visibilidade ao risco de paralisação total do projeto. “A gente precisa escancarar essa situação. Não é só descaso, é prejuízo direto na vida de quem mais precisa”, conclui Cyrillo.

Sobre o Desafio

Criado em 1993, o Desafio é um cursinho pré-vestibular gratuito da UFPel voltado a estudantes de baixa renda que querem entrar no ensino superior público. Baseado na educação popular, o projeto também contribui para a formação de futuros professores da universidade, ao permitir que licenciandos atuem como docentes. Além das aulas presenciais, os alunos têm acesso a simulados, monitoria, orientação profissional e aulões.

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