Uma epidemia  a se lidar

Editorial

Uma epidemia a se lidar

Uma epidemia  a se lidar
(Foto: Jô Folha)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deu uma opinião pessoal na segunda-feira que é polêmica, mas deve ser considerada: se dependesse dele, proibiria as bets por terem se tornado “um problema de saúde pública”. Naturalmente, o ministro também tem um olhar arrecadatório para o setor, já que é um dos pontos que mais movimentam a economia e são taxadas abaixo do que o governo desejava. No entanto, a questão de saúde e comportamento é no que deve se fixar o olhar.

Jogatina vicia e não é por nada que o país proibiu bingos e afins há mais de duas décadas. No entanto, com a digitalização e a facilidade de acesso aos tigrinhos e apostas esportivas, a coisa escalou a um nível preocupante. Os gastos – ou perdas – com apostas já impactam diretamente no orçamento das famílias, no consumo e no comércio. Ou seja, muita gente perde e o dinheiro vai, provavelmente, para fora. Além disso, há quem adoeça com o vício, coloque tudo a perder com o descontrole da tentativa de ganhar, ou recuperar.

A questão de saúde pública é o principal ponto a ser considerado dentro deste debate. Embora a arrecadação deva ser olhada – um país em crise constante não pode perder dinheiro e um serviço que não oferece nenhuma utilidade pública pode, tranquilamente, pagar impostos decentemente – é no impacto no psicológico das pessoas e nas suas próprias estruturas financeiras e familiares que isso deve ser pensado. As redes de apoio psicossocial devem estar preparadas para lidar com o vício em apostas com a mesma força, e até em maior quantidade, possivelmente, com que lidam com drogas e alcoolismo.

O fato é que o Brasil precisa pensar muito bem na forma como se relaciona com as apostas esportivas e com a facilidade com que se tem acesso a isso. A questão da publicidade, a mais debatida na CPI das Bets, precisa ser ajustada, tal qual foi feito com o cigarro no passado. O uso de influenciadores para promover tal serviço, sem qualquer freio ou exigência ética, também é uma preocupação.

Em um momento que o Brasil debate tantas situações, não podemos nos dar ao luxo de deixar de lado a situação das apostas. Entre o proibir e o regular, há um oceano de possibilidades. O que não é mais possível é deixar uma situação que afeta diretamente a economia e a saúde pública correr solta, sem regras e sem cobranças.

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