O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) inaugura nesta sexta-feira, (25), a partir das 11h, a nova sede da delegacia regional de Pelotas. A estrutura localizada no Edifício Vanguarda – rua Suzana Cortez Balreira, 191 –, no Parque Una, é considerada mais moderna e acessível, visando fortalecer a presença do órgão na Zona Sul.
Em entrevista ao programa Debate Regional, da Rádio Pelotense, o vice-presidente do Cremers, Eduardo Neubarth, garantiu que a mudança visa aproximar o órgão da categoria e da sociedade. “Pelotas é uma referência em saúde para a Zona Sul e um dos principais polos formadores da mão de obra em medicina no Estado. É sempre importante essa proximidade do órgão com a categoria e não só com a categoria, mas com toda a sociedade”, destaca.
Saúde Regional
Apesar do avanço institucional, Neubarth reconhece que a inauguração ocorre em um cenário crítico para a saúde pública. A região Sul vive uma crise estrutural que, conforme ele, combina falta de planejamento e de recursos, além da sobrecarga de profissionais.
Em abril, o Cremers chegou a decretar intervenção ética na Santa Casa do Rio Grande, uma medida extrema utilizada apenas quando o exercício da medicina oferece risco direto à população. “Naquele momento, o hospital não contava com cirurgião vascular, as escalas de anestesiologistas estavam incompletas e o risco era inaceitável. […] Alguém sofre um acidente na estrada entre Rio Grande e Pelotas e eventualmente é levado para a Santa Casa, tem que entrar de urgência, não teria como tratar”, argumenta.
Após diálogo com a direção do hospital e com a Secretaria Estadual da Saúde, o Conselho suspendeu a medida e concedeu prazo para recomposição das equipes. Ainda assim, a situação permanece delicada, e a instituição segue sob monitoramento. A Santa Casa é referência em casos de traumatologia e atende pacientes de mais de 20 municípios da região.
Na UPA Junção, também em Rio Grande, considerada a maior do Estado, médicos relatam atrasos salariais que já ultrapassam quatro meses. Sem contratos formais ou garantias trabalhistas, muitos atuam como prestadores de serviço contratados por empresas terceirizadas — modelo que, segundo o Cremers, representa um dos maiores problemas da gestão atual da saúde pública no RS.
Em Pelotas, o alerta está ligado à transição do atual pronto-socorro para o novo Hospital de Pronto Atendimento, que está em fase final de construção. O passivo trabalhista acumulado — estimado em cerca de R$ 20 milhões — ameaça deixar médicos, enfermeiros e técnicos sem receber. Conforme o gestor, o órgão está em tratativas com o presidente do Tribunal de Contas do Estado, Alexandre Postal, acerca dos passivos não só de Pelotas, mas também de outros hospitais do RS.
Para Neubarth, a situação enfrentada pela região Sul é o reflexo de uma falha que se repete em todo o Estado. Conforme o gestor, a ausência de concursos públicos e a substituição de contratações formais por empresas intermediárias têm transformado o trabalho médico em subemprego. O Cremers defende um plano estruturado de médio e longo prazo para reverter o colapso. A proposta inclui a realização de concursos públicos para atenção primária, ampliação de leitos hospitalares de média e alta complexidade e regionalização da saúde.