Medidas taxativas de Trump podem impactar o Brasil em R$ 175 bilhões

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Medidas taxativas de Trump podem impactar o Brasil em R$ 175 bilhões

E provocar a perda de até 1,3 milhão de empregos no país

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Atualizado quarta-feira,
23 de Julho de 2025 às 14:18

Medidas taxativas de Trump podem impactar o Brasil em R$ 175 bilhões
Mercado agropecuário deve ser um dos mais afetados (Foto: Jô Folha)

Faltando nove dias para o início do tarifaço anunciado por Donald Trump — que prevê uma taxação de 50% sobre todas as exportações brasileiras aos Estados Unidos — o Brasil ainda avalia quais medidas poderá adotar. Os impactos iniciais podem alcançar R$ 19,2 bilhões em 2025 (queda de 0,16% no PIB), podendo chegar a R$ 175 bilhões em uma década, caso não haja ajustes. Além disso, cerca de 1,3 milhão de empregos podem ser afetados no país.

Se houver retaliação por parte do Brasil, o cenário pode se agravar: o prejuízo estimado sobe para R$ 259 bilhões, segundo o economista e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Marcelo Passos. Ele aposta, no entanto, em um possível recuo por parte de Trump, com base em precedentes, como no caso da China. “Se os EUA estivessem realmente interessados em executar o plano de impor sanções, já teriam iniciado negociações”, afirma.

Embora setores como café, manga e suco de laranja estejam entre os mais prejudicados, no Rio Grande do Sul o impacto se concentra em produtos como armas e soja. Mesmo assim, a expectativa é que o impacto no PIB brasileiro seja limitado, girando em torno de 1,9%. “No cenário global, o efeito não é tão severo quanto parece, especialmente considerando que o Brasil tem uma economia diversificada e que a China é seu principal parceiro comercial”, explica Passos.

Impactos no dia a dia

Segundo o professor da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Eduardo Tilmann, a redução nas compras por parte dos Estados Unidos — devido ao aumento dos preços dos produtos brasileiros — pode levar à queda na produção e, consequentemente, ao aumento do desemprego. “Esse poderá ser o efeito mais imediato no PIB”, avalia.

Outro reflexo destacado por Tilmann é o impacto cambial. A diminuição nas exportações pode reduzir a entrada de dólares no país, pressionando a taxa de câmbio. “Com o dólar mais caro, o custo de exportar aumenta, encarecendo ainda mais os produtos brasileiros e elevando os custos para as empresas”, explica.

Perdas no Rio Grande do Sul

O economista e professor da UFPel, Gabrielito Menezes, alerta para impactos severos no Estado. Cerca de 68 mil famílias que dependem da produção e venda de tabaco devem ser fortemente afetadas — setor que já enfrenta taxação de 50%. “Pecuaristas de corte em Pelotas e região, além de produtores de suco de laranja no Vale do Caí, também devem enfrentar queda na demanda”, projeta.

Outro setor vulnerável é o de móveis de madeira, com 90% das operações concentradas na Região Sul. “O risco é de até 145 mil demissões no Estado”, afirma. O PIB gaúcho pode registrar uma queda de R$ 1,92 bilhão.

Menezes também destaca a possibilidade de que o excedente de produção nacional, que deixaria de ser exportado, seja redirecionado ao mercado interno, pressionando os preços e prejudicando os produtores locais — especialmente aqueles com menor escala de exportação, como no Rio Grande do Sul.

Alternativas e soluções

Para os três economistas consultados, a principal saída seria a busca de novos mercados para escoamento da produção. Menezes sugere, ainda, o alongamento das dívidas rurais e a concessão de subsídios temporários como medidas emergenciais.

Tilmann defende a redução do chamado “Custo Brasil”, com melhorias na logística e diminuição da carga tributária, tornando os produtos brasileiros mais competitivos.

No médio prazo, a diplomacia será essencial, segundo Passos. Ele também propõe articulações com estados norte-americanos que dependem da importação de produtos brasileiros, além da criação de políticas estaduais emergenciais, como fundos para reconversão produtiva. Outra sugestão é o fortalecimento de cooperativas, com foco em certificações que permitam o acesso a mercados premium.

AVALIAÇÃO

Prejuízos para o Rio Grande do Sul

  • PIB estadual: queda estimada de R$ 1,92 bilhão
  • Empregos: risco de até 145 mil demissões
  • Agricultura familiar: 68 mil famílias ligadas ao tabaco podem enfrentar crise social
  • Setor moveleiro: 90% da produção está concentrada no Sul

Prejuízos para o Brasil

  • PIB nacional: perda estimada de R$ 19,2 bilhões em 2025 (queda de 0,16%), podendo chegar a R$ 175 bilhões em 10 anos
  • Empregos: até 1,3 milhão de postos de trabalho em risco
  • Indústria: impactos diretos em setores como aeronáutico (23,8% da receita da Embraer vêm dos EUA) e siderúrgico (US$ 1,49 bilhão em exportações)

 

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