“O tradicionalista simplesmente prestigia a história, e a tradição significa visitar a história”

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“O tradicionalista simplesmente prestigia a história, e a tradição significa visitar a história”

Mário Barboza Mattos - Patrono dos Festejos Farroupilha 2025

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Atualizado segunda-feira,
21 de Julho de 2025 às 11:42

“O tradicionalista simplesmente prestigia a história, e a tradição significa visitar a história”
Mário Mattos completou 100 anos em dezembro de 2024. (Foto: Jéssica Lascano Bandeira)

Aos 100 anos de idade, Mário Barboza de Mattos, engenheiro agrônomo, jornalista, escritor, artista plástico e figura histórica do tradicionalismo, é O escolhido para ser o patrono dos Festejos Farroupilha 2025. Primo de Barbosa Lessa, Mattos esteve presente nos primórdios do Movimento Tradicionalista Gaúcho e agora se junta ao seleto grupo de homenageados.

O tema será “Ondas curtas para uma história longa, o centenário de Darcy Fagundes e os 70 anos do Grande Rodeio Coringa”, uma homenagem à comunicação radiofônica e à preservação da cultura gaúcha. Em entrevista ao A Hora do Sul, Mattos falou com emoção sobre o convite, sua ligação com Pelotas, sua visão sobre o tradicionalismo e sobre a história da Revolução Farroupilha.

Como o senhor recebeu o convite para ser o patrono?

Recebo com humildade, mas me sinto honrado por mim e pela minha cidade natal, Pelotas.

Qual foi sua primeira contribuição nos festejos?

Iniciei visitando Piratini, onde fiz uma sessão de autógrafos do meu livro Contos tropeiros e outras narrativas. Ele está disponível online e entreguei gratuitamente aos presentes uma folha assinada com acesso direto à obra. Depois fui ao Palácio Piratini, a convite, para uma sessão solene ao lado de outros oradores, na presença do governador. Foi um momento de grande emoção.

O que representa para o senhor o Movimento Tradicionalista Gaúcho?

O tradicionalista não vive do passado. Ele prestigia a história e traz esse conhecimento para os dias de hoje. Como gosto de dizer, a tradição é uma visita à história. Isso é muito diferente de viver preso a ela. O nosso grande compositor Villa Lobos disse certa vez: “Eu dou o pontapé da tradição, sou do meu tempo.” Olha, esse pontapé pode dar muito bem unha encravada, porque é um equívoco do Villa Lobos caracterizar a tradição. Coisa que não é do nosso tempo. O tradicionalista simplesmente prestigia a história, e a tradição significa visitar a história.

O que foi a Revolução Farroupilha para o senhor?

A Revolução Farroupilha foi um movimento contra o despotismo da monarquia, que desprezava o charque gaúcho e tratava mal os conterrâneos. Mas, à luz do marxismo, não foi uma revolução no sentido clássico, de mudança de classe no poder. Tanto que Bento Gonçalves, depois da paz, foi ao beija mão do imperador. Foi um movimento complexo, e nem todos os farrapos eram republicanos. Aprendi muito sobre isso com o pelotense Mozart Vitor Russomano.

O senhor ainda mantém vínculos com Pelotas?

Claro. Sempre terei ligação com a cidade de Pelotas, tão inteligente e envolvida com boas causas. Minha história lá (aqui) foi intensa. Inclusive tive meu “inimigo favorito”, Arthur Bachini, que me desqualificava em tudo, até numa corrida de 100 metros que venci. Mas a rivalidade sempre teve afeto. Quis visitá-lo quando ele morreu aos 100 anos, mas não consegui.

Qual sua relação com o início do movimento tradicionalista?

Barbosa Lessa, meu primo, foi quem iniciou esse movimento no nosso estado. Sempre me convidou, mesmo sabendo que sou marxista. Nunca houve discriminação. Sempre colaborei com arte e presença, inclusive fora do estado, como na Semana do Tropeiro em São Paulo, onde desfilamos com mais de 2.500 cavaleiros.

E sobre sua atuação como artista plástico tradicionalista?

Sou um artista tradicionalista. Respeito a arte moderna, como a feita por Carlos Scliar e Danúbio Gonçalves, mas nunca abandonei a arte tradicional. Para mim, ela é um regionalismo moderno. Como já disse outro marxista: é uma forma de expressão atual com raízes.

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